Capítulo 7

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Alerta de gatilho
(Violência, abalo psicológico)

Jimin

São quase duas da manhã quando estaciono a picape na frente de casa após a festa, ou da casa do meu pai, por mais que eu vivi minha vida inteira aqui, é estranho chamar esse lugar conturbado de lar.

Fui e voltei dirigindo hoje porque por incrível que pareça, hoje eu não fiquei bêbado, talvez porque tenha acontecido várias coisas loucas, envolvendo piscinas, Jungkook, nós dois ficando ensopados, nós dois ficando só de cueca um na frente do outro.

Como eu disse, muitas coisas loucas.

Passo pela calçada coberta de mato por falta de cuidado até chegar a entrada, ao abrir a porta o cheiro forte de álcool invade minhas narinas, um cheiro tão familiar, esse cheiro que sou tão acostumado, um ambiente que conheço mais que qualquer outra pessoa, uma coisa que busco consolo, uma coisa que me destrói ao mesmo tempo.

A casa está uma bagunça como sempre, tem latinhas de cerveja, garrafas de cachaça, e embalagens de comida pra todos os lados, fora a pilha de louça que se acumulou, eu parei de me importar a muito tempo.

Geralmente era o Taehyung que mantinha tudo em "ordem", ou pelo menos tentava, já que meu pai começou a se embebedar desde que éramos pequenos ainda. A maior parte dos serviços domésticos era eu e o Taehyung que fazíamos, mas quando meu irmão completou 19 anos, ele se esgotou, ficou doente, era muita responsabilidade para ele.

Taehyung sempre foi responsável, ele teve que exercer muitos papéis desde pequeno. Fez o papel de mãe, fez o papel de pai, mesmo não sendo somente três anos mais velho que eu. Sou eternamente grato a tudo, eu devo minha vida a ele, e meu pai nunca fez o mínimo bem feito.

Quando o Taehyung finalmente saiu de casa, obviamente ele me levou junto, meu pai ficou enfurecido, os dois brigaram feio, quase saíram no soco. Hoje em dia eles mal se falam, mas tudo isso foi necessário. Somente eu venho ver meu pai regularmente, venho ver se ele ainda está vivo pra variar, venho ver se a situação dele está pior que a minha ou não, acho que nós competimos sem perceber.

E lá estava ele, meu pai, sentado na poltrona de costume com uma garrafa de uísque pela metade ao seu lado. Seu olhar estava perdido, e ele balbuciava palavras desconexas, parecia que eu estava me olhando no espelho. Sinto um aperto no coração, e não sei discernir se é por ele ou por mim mesmo.

- Você está bêbado de novo? - Digo tentando manter a calma. Ele levanta a cabeça ao perceber minha presença, e seus olhos vermelhos de repente são tomados pela raiva.

- O que acha moleque?

Sempre que se trata do meu pai, eu me sinto irritado, porque ele é assim desde que me entendo por gente, ele nunca buscou tentar ser um bom pai, nunca tomou a iniciativa de se propor a fazer algo que fosse bom para mim ou para o Taehyung, ele nunca mesmo disse a porra do motivo da minha mãe ter ido embora, nem mesmo meu irmão que lembra de mais coisa do que eu sabe.

As vezes me pergunto se meu pai ficou nessa situação depois que ela foi embora, ou se ele já era assim bem antes dela partir, me pergunto se ele era um péssimo marido, me pergunto se ele era tão ruim ao ponto dela querer fugir pra tão longe, ao ponto de querer cuidar tanto dela mesmo que até teve que nos deixar pra trás.

Meu pai nunca demonstrou nada de afeto, então as vezes chego a acreditar que o motivo da minha mãe ter nos abandonado foi por causa dele. Sinto raiva, sinto raiva de tudo o que ele nos fez passar, por tudo o que ele fez o Taehyung passar, por todo esse fardo e responsabilidade que ele colocou nos ombros do meu irmão, por ter feito eu me tornar quem eu sou hoje, por ter feito eu me tornar a sua imagem e semelhança.

Restart - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora