Capítulo 16

4 1 9
                                    


Jimin

Aqui estou eu, de volta à casa do meu pai. A ironia é dolorosa – o lugar que sempre associei à dor e ao abandono, agora se tornou meu refúgio, meu esconderijo. A mesma casa onde ele passou seus últimos dias, onde talvez tenha sentido o mesmo desespero que agora me consome. Eu olho ao redor e tudo parece vazio, como se o próprio ar estivesse impregnado com o peso das memórias e de tudo o que ele e eu deixamos inacabado.

Fugir... foi a única coisa que consegui pensar. Era insuportável ficar perto do Taehyung, do Jungkook... de qualquer um. A dor no rosto do Taehyung, o julgamento silencioso nos meus próprios pensamentos, e a constante lembrança de que eu sempre fui o problema. Eu precisava me afastar. Mas, a verdade? Não fugi apenas da culpa por tudo o que aconteceu com Taehyung. Fugi de mim mesmo, de quem eu sou e do que estou fazendo com todos à minha volta. E agora, escondido aqui, eu me afundei ainda mais.

O álcool foi a primeira coisa. Foi fácil. Algumas garrafas que meu pai deixou para trás, como se estivessem esperando por mim. E então as drogas vieram logo depois. Nada pesado, ainda, mas o suficiente para me entorpecer, para calar as vozes na minha cabeça. Foi assim que passei os últimos dias, deixando o mundo lá fora desaparecer, enquanto eu tentava anestesiar essa dor... essa vergonha.

Jungkook... ele ligou tantas vezes. Eu vi todas as mensagens, cada ligação perdida. Mas como eu poderia atender? Como eu poderia encará-lo, sabendo que ele já me viu nesse estado antes, e que agora estou aqui de novo? Eu prometi a ele, prometi a mim mesmo, que nunca mais chegaria a esse ponto. Mas olha onde estou... perdido de novo. Se ele soubesse o estado deplorável em que eu estou agora, me veria do jeito que eu sempre temo – como um fracasso.

Eu sei que preciso buscar ajuda. Eu sei disso com toda a certeza que ainda me resta. Mas a verdade é que, agora, eu estou com medo. Medo de não conseguir sair dessa, medo de que, mesmo que eu tente, o estrago já esteja feito. O que mais resta para mim, se não essa miséria?

Os dias parecem se misturar, e eu nem sei mais quantos passaram. Talvez uma semana, talvez mais. Não faz diferença. As cortinas estão sempre fechadas, a luz que entra é mínima, e isso me ajuda a me manter escondido do mundo. Eu olho para o relógio, o celular, as garrafas ao redor, mas tudo parece sem vida, sem importância.

Às vezes, escuto minha própria voz na cabeça, sussurrando que preciso me mexer, fazer algo, sair daqui. Mas, na maior parte do tempo, aquela voz está afogada em álcool, como se cada gole silenciasse um pouco mais da minha consciência. Só que, mesmo assim, a dor... ela nunca vai embora. É uma dor constante, quase física, como se houvesse algo me apertando o peito, sufocando. E eu sei que ela não vai passar até que eu enfrente o que está acontecendo. Mas como eu poderia?

Jungkook... ele deve estar tão decepcionado comigo. Ele sempre acreditou em mim, sempre esteve lá, e eu estraguei tudo. É como se tudo o que toquei se transformasse em desastre, em dor. Eu sei que ele me procurou. Ele não é o tipo de pessoa que desiste fácil, especialmente de mim. E Taehyung... eu o abandonei quando ele mais precisava de mim. Eu o vi se despedaçar e, ao invés de estar lá para ajudá-lo, eu fugi. Como posso enfrentar isso? Como posso encarar os dois?

Eu tento pensar em uma solução, em um jeito de sair desse buraco. Mas é difícil. Cada vez que tento me levantar, algo me puxa de volta. A culpa, a vergonha... tudo se mistura, e me afoga. Sei que preciso de ajuda. Mas buscar ajuda significa admitir, significa enfrentar o que fiz e quem eu sou. E isso, nesse momento, parece impossível.

Levanto do sofá com uma dor no corpo que parece vir de dentro. Tudo ao meu redor está um caos, um reflexo exato do que sinto por dentro. A pia está cheia de louça suja, pratos empilhados com restos de comida, copos manchados de bebida. Respiro fundo e, com uma força que não sei de onde tiro, começo a lavar. A água fria escorre pelos meus dedos, e eu me sinto um pouco mais consciente, como se o simples ato de limpar a sujeira fosse um pequeno passo para limpar o que está acontecendo dentro de mim.

Restart - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora