Capítulo 8 (Bianca) - Pé na estrada

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Está tudo esquisito

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Está tudo esquisito. A Isadora está famosa, quem diria? Quer dizer, esse tipo de fama é muito passageira, mas o fato é que a galera está amando a Isa! Todos querem que ela faça mais participações no podcast e eu estou adorando tudo isso. As gêmeas mais amadas da internet, já estou sonhando acordada, seria incrível. Eu sempre soube que, no dia em que a minha irmã resolvesse se mostrar para o mundo, seria um sucesso. Ela é espirituosa de um jeito super cativante, mas quase ninguém conhece esse lado dela.

O difícil vai ser convencê-la, de novo, a gravar. Mas eu sei que consigo, é só criar o clima certo, escolher um tema que ela goste (algum livro) e uma convidada com quem ela se sinta a vontade, e essa última parte vai ser a mais difícil.

Mas não mais difícil do que o real desafio que estou prestes a enfrentar. Sinto como se eu fosse um daqueles bois andando em fila em direção ao abate; a diferença é que o boi não sabe que vai ser abatido, já eu sei muito bem o que vai acontecer, ou melhor, não sei, já que animais são absolutamente imprevisíveis.

Acabei não criando coragem para rejeitar a matéria sobre bem estar animal. Tentei conversar na revista, mas quando cheguei na frente da chefe eu parecia a minha irmã, não achava as palavras, corei o rosto, gaguejei e acabei mudando de assunto. Não falei.

E agora estou arrumando as malas. Vou precisar, inclusive, dormir uma noite na fazenda, porque ela fica no meio do nada e não achei outro lugar para me hospedar por perto. Acabei aceitando o convite do fazendeiro para ficar por lá.

A parte boa é que a fazenda fica para os mesmos lados da nossa cidade natal, então vamos aproveitar a ida para visitar nossa mãe. A Isadora vai comigo. Ela acha que vai ficar na casa da mamãe enquanto eu vou para a fazenda, mas meu plano é usar o tempo de estrada para convencê-la a ir para a fazenda junto comigo. Acho que vou me sentir mais segura se ela estiver junto. Até pensei em pedir para ela ir sozinha, fingindo ser eu, tirar umas fotos e fazer umas perguntas. Depois eu me virava para escrever a matéria. Mas eu acho impossível que ela tope esse plano. Então vou apenas chamá-la para me acompanhar.

A outra boa notícia é que a revista emprestou um carro para a viagem. Então pela primeira vez nós não vamos para a casa da nossa mãe de ônibus. Vai ser uma experiência diferente. Eu e minha irmã na estrada, por horas, fofocando e ouvindo música antiga, tenho certeza que vai ser divertido.

Eu adorava viajar de carro em família quando éramos crianças. Uma vez fomos, já adolescentes, para Bonito, no Mato Grosso do Sul. Foi legal, as estradas na maior parte estavam vazias então o papai pisava fundo e eu ia vendo o mundo passar rápido pela janela. A Isa dormiu e perdeu as melhores partes. Sim, porque a parte boa mesmo foi a estrada. Os passeios em Bonito eu detestei. 

Não que não seja, de fato, um lugar muito bonito. Lindo, eu diria! Só que é bicho para todo lado. Um dos passeios era flutuação em um rio de águas azuis muito cristalinas. Eu estava achando maravilhoso antes de colocar o snorkel e olhar embaixo d'água e me deparar com dezenas de peixes enormes nadando muito perto de mim. Terrível! Obviamente desisti e fiquei esperando, razoavelmente protegida dentro de uma van, minha família terminar a flutuação.

Sem falar que, para acessar as lindas cachoeiras de lá, é preciso caminhar por trilhas cheias de insetos e sabe-se lá mais o quê. Além da possibilidade de, a qualquer momento, nos depararmos com uma onça-pintada, o que, por sorte, não aconteceu. E em todo lugar daquela cidade tem tucanos, araras-canindé e araras-azuis voando, às vezes passando bem perto de nós e me fazendo estremecer.

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