Hoje foi um dia super cheio, como é bom estar em Valeiros!!
Acordei animada, desci as escadas, ainda de pijama e pantufa. Parei ao pé da escada e inspirei fundo o cheiro de aconchego e café. Não sei o que acontece, mas o café da minha mãe é sempre mais cheiroso, mesmo que usemos a mesma marca em Curitiba.
Na cozinha, encontrei minha mãe, que estava vestindo um roupão de cor clara e preparando a mesa do café da manhã, toda caprichosa. Dei um beijo no rosto dela e me animei a preparar umas panquecas para nós, e geleia com os morangos e maçãs que encontrei na geladeira. Logo a Bianca acordou e ficamos as três conversando na cozinha por um bom tempo.
A mamãe nos contou mais sobre o "gatão" dela, nós falamos sobre a vida em Curitiba, contamos sobre a minha participação especial no podcast, a Bianca reclamou sobre ter que escrever sobre animais... enfim, altos papos! Elas me pouparam dos assuntos desagradáveis, como estágio, TCC, terapia...
Aí a mamãe perguntou se estava tudo bem se ela convidasse o Antenor para almoçar com a gente. A Bianca, super curiosa para conhecer melhor o novo "padrasto", disse logo que sim, desde que ele não trouxesse o gato.
Eu também acabei topando, mesmo preferindo que ficássemos só entre nós três, pelo menos por hoje, para matar as saudades e colocar a conversa em dia.
A Bianca me pediu que eu preparasse lasanha ao "molho laranja", prato de criação minha e batizado pela minha irmã, já que a minha mãe ainda não experimentou. Só para constar, não vai laranja no molho, o nome é referência à cor apenas.
Cozinhar para a mamãe não é um problema para mim, eu confio nas habilidades culinárias que desenvolvi nos últimos sete anos morando longe dela. Agora, preparar comida para um semi-desconhecido foi algo inédito, fiquei bastante insegura, mas no fim me saí bem. Além da lasanha, preparei uma salada verde com molho de iogurte e limão.
Achei o tal do Antenor muito espaçoso, ficou elogiando meus "dotes culinários" e falando que estou pronta para casar. Quanta bobagem! Cada vez que ele falava isso eu sentia minhas bochechas queimarem, primeiro por vergonha e, depois, por raiva e vontade de escapar dali.
Além disso, ele insistiu em perguntar sobre a minha faculdade, porque ele mesmo é Engenheiro Civil. Achei bem chato, para ser sincera. Minha mãe percebeu, mas não intercedeu, diferente da Bianca, que me salvou algumas vezes, preenchendo o silêncio e tentando mudar de assunto.
Mas depois, enquanto comíamos a sobremesa (sorvete de manga com o que sobrou da geleia do café da manhã, o que combinou muito para a surpresa de todos), o Antenor começou a falar sobre o trabalho dele. Achei fantástico! Ele está trabalhando na obra de um lago de contenção de cheias. As enchentes são um problema antigo aqui em Valeiros, é só chover um pouco mais forte que as ruas da cidade alagam. Então o projeto tem como objetivo fazer um parque, muito bonito por sinal, com um grande lago artificial no meio, que vai servir como recurso para correção de cheias. Muito, muito bacana!
Enquanto o Antenor mostrava as imagens do projeto e as fotos da obra em andamento, fiquei muito atenta, apesar de não ser a área da Engenharia que mais me interessa. Quero trabalhar com projeto estrutural de edificações, inclusive meu TCC, o qual não consigo terminar, é nessa área. Com certeza vou trabalhar em escritório, e não em obra. Apesar de ser quase engenheira, detesto o clima dos canteiros de obras, com aquela bagunça e gente andando para todo lado. Prefiro a calma dos escritórios de projeto, cada profissional conversando silenciosamente com os programas em seu computador.
Depois do almoço, no meio da tarde, saí para encontrar o Gabriel. Tínhamos combinado de nos encontrar na minha casa, e daqui sairíamos para andar a pé pela cidade, ir até a pracinha...
O passeio foi uma delícia. E a conversa foi tensa.
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Nossos Medos
Ficción General"Nossos Medos" conta a história de duas irmãs gêmeas idênticas. Isadora luta contra uma intensa fobia social que a impede de se relacionar normalmente com as pessoas. Ao longo dos anos, Bianca assumiu o papel de "protetora" da irmã, frequentemente s...