Capítulo 17 (Bianca) - Chegada na fazenda

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Então havia chegado a hora de fazer o que tinha que ser feito

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Então havia chegado a hora de fazer o que tinha que ser feito. Trabalho é assim: se fosse bom, você não seria pago para fazer, certo? É o que dizem, mas sendo sincera, eu gosto do meu trabalho. Exceto desta vez, exceto esta matéria específica. Coloquei na minha cabeça que a vida não pode ser um pão doce todos os dias. Levantei a cabeça e fui.

Chegando à fazenda, eu me sentia esquisita. Parecia tão pequena frente àquele mundo de plantações e campos verdes pelos quais passamos no caminho. Tudo ali era grande: o portão, as árvores, o lago, a casa... Fiquei imaginando que, por analogia, os animais deveriam ser enormes também. Mas não tinha jeito, era hora de encarar.

Ainda dentro do carro, olhei para minha irmã e, como sempre faço quando chegamos a algum lugar diferente, tentei transmitir confiança e serenidade. Dessa vez, ela me lançou o mesmo olhar acolhedor, lembrando-me que era ela quem estava ali para me apoiar. Retoquei o batom e saímos do carro. Até aquele momento, não tínhamos visto ninguém na propriedade.

— Vamos lá, tocar a campainha e ver se tem alguém em casa — disse eu, tentando parecer confiante.

Adentramos a grande varanda que dava acesso à porta da casa. Um lugar gostoso e convidativo, com redes penduradas nas colunas que sustentavam o telhado e vasos de flores que alegravam aquele ambiente tranquilo e silencioso. Só se ouviam nossos passos, alguns barulhinhos das folhas das árvores balançando ao vento e o piar dos pássaros ao longe.

Foi quando percebi que não estávamos sozinhas. Ali, na mesma varanda, a uns dois passos de mim, estava um enorme cachorro de cor caramelo, deitado bem em frente à porta.

Senti meus músculos das pernas tensionarem de uma vez. Paralisei. Ouvia um zumbido em meus ouvidos e sentia minha boca seca. Tinha um nó no estômago e uma vontade de fugir misturada com o medo de demonstrar medo. Não havia para onde escapar.

Ouvi a voz da Isa, como se ela estivesse muito longe, dizendo que o cachorro estava dormindo e que eu não deveria me preocupar. Pediu que eu respirasse. Respirei fundo, tentando acalmar meu corpo.

Meus sentidos voltaram parcialmente, e dei alguns passos para trás, bem devagar, sem tirar os olhos do animal, já pensando em como iríamos entrar na casa, se a porta estava obstruída. Foi quando ouvi dois barulhos ao mesmo tempo: latidos vindos de trás de mim e o som da chave girando na fechadura.

Olhei para o lado e, instintivamente, abri uma portinha menor que só naquele momento percebi que existia. Entrei rapidamente e fechei a porta. Tudo escuro e um cheiro estranho. Mas me senti muito mais segura do que lá fora, com pelo menos dois cachorros e alguém prestes a aparecer e me julgar pelos meus medos.

Encostei toda a parte de trás do corpo, incluindo a cabeça, na parede. Respirei fundo várias vezes. Meus olhos começaram a se acostumar com a pouca luminosidade do lugar, e consegui enxergar um interruptor, bem ao meu lado. Ao acender a luz, percebi que estava dentro de um pequeno depósito, onde ironicamente estavam guardadas coisas como ração para cachorros e coleiras.

"Meu Deus, a Isa!", pensei. Como ela teria se saído com a pessoa que estava abrindo a porta quando eu me meti aqui?

Enquanto analisava o que fazer, comecei a escutar uma respiração ofegante vinda do lado de fora, bem próxima à porta. Reconheci o som: era a respiração de um cachorro, provavelmente com a língua para fora. Devia estar ali esperando que eu saísse, para me atacar.

Não sabia o que fazer. Abrir a porta não era uma opção. Peguei meu celular no bolso de trás da calça jeans e mandei uma mensagem:

Isa, desculpa, está tudo bem?

Sem resposta.

Sentei encostada na parede, só me restava esperar. Ouvi o cachorro se afastando, esperei um pouco e decidi espiar. Abri muito pouco a porta, olhei em volta. Nenhum bicho, nenhuma pessoa. "Vou ter que encarar", pensei, já saindo do depósito.

Tomei um susto com meu celular vibrando. Era uma mensagem da Isadora:

Está tudo bem, mas não saia daí.

Voltei para dentro do depósito, tentando imaginar o que estava acontecendo. Nenhuma hipótese me veio à mente naquele momento.

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