CAPÍTULO 01

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Fairview, New JerseyAno 2019

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Fairview, New Jersey
Ano 2019

Minha mãe sempre foi uma amante de jogos. Ela tinha um gosto especial por jogos de tabuleiro, por jogos enigmáticos, jogos psicológicos, e jogos de inteligência. No caso, qualquer atividade que envolvesse competição e pensamento criativo cativava o seu interesse de forma irresistível.

Foi por causa disso que ela inventou um jogo peculiar, uma criação original sua, que se destacava por ser único. Ele não tinha nome, mas era simplesmente conhecido como "o jogo". Contudo, ao contrário dos jogos, ele não era tão convencional como os outros. Ela sempre repetia uma frase que resumia perfeitamente o significado e a mecânica desse jogo: "Sempre espere o lado ruim das coisas, assim você nunca se decepcionará."

Ela estava certa. Desde o momento em que comecei a jogar ele, parte de mim nunca mais se preocupou com as decisões e atitudes dos outros. Apenas aciono o botãozinho do foda-se e sigo minha vida completamente intacta.

Ou era isso que eu pensava.

No instante em que a única pessoa em quem eu confiava no mundo fechou a porta na minha cara e, com a maior desfaçatez, me expulsou de sua casa, tudo mudou. Passei a compreender que aquele jogo fajuto não passava de uma invenção insana de uma mulher extremamente alcoólatra, consciente de que jamais seria motivo de orgulho para a própria família. Foi por isso que meu pai a deixou.

Preparei-me para gritar contra Lucca, mas ele, mais ágil do que um raio, fechou a porta de madeira antiga e empoeirada com uma força que ecoou no ar, me deixando sem palavras diante do impacto.

Senti cada átomo do meu corpo estremecer ao compreender que eu, Emory Jones, havia levado um pé na bunda e, de brinde, dois enormes pares de chifres. Meu pai sempre me alertou para não confiar em qualquer pessoa que oferecesse um buquê de flores e uma linda caixa de chocolates, mas o que eu poderia fazer? A única demonstração de afeto que experimentei em casa foi quando minha mãe deu dois tapinhas nas minhas costas e disse que eu poderia ter ido melhor na prova de física. Grande instinto materno o dela. 

— Idiota, mal criado. — murmurei, tão irritada ao ponto de quebrar aquela porta.

Caminhei em direção à calçada. A noite, silenciosa, envolvia-se em um frio cortante que me atingiu como a lâmina de uma faca afiada. Instintivamente, agarrei meu casaco e apertei minha mala contra o corpo, buscando algum consolo naquele abraço improvisado.

Pela primeira vez em anos, sinto que o jogo da minha mãe não estava funcionando da forma que eu desejava. Algo dentro de mim parecia se contorcer em angústia, raiva e ódio por ter confiado em um qualquer. Contudo, a única coisa que me conforta é o fato de que, no fundo, eu já esperava por isso. Lá no íntimo, eu sabia que, de fato, nada na minha vida nunca dá certo. Nem mesmo um simples namoro.

Nas proximidades da rua onde eu me encontrava, havia um charmoso bar na esquina. Embora fosse quase meia-noite, ele permanecia repleto de homens e mulheres, tanto solteiros quanto casais. Especialmente, acolhia almas embriagadas com corações partidos.

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