O vento soprava levemente, acariciando os cabelos com madeixas lilases da cientista. O ar envolvia o seu corpo numa dança sublime e tocava-lhe o rosto com doces mãos gasosas. A mulher inspirou demoradamente, saboreando a entrada da pureza daquela atmosfera nos seus pulmões. Doíam-lhe os braços e soava-lhe a testa, tal era o esforço hercúleo que fazia para suportar o peso do mutante ainda desmaiado. Era um pequeno castigo pelo seu egoísmo em manter-se focada na sua busca teimosa e ignorar os avisos de indisposição do companheiro de viagem que ao Universo anterior fora parar de arrasto. Ainda assim, a Natureza era misericordiosa com a cientista: a brisa refrescava-a e aliviava-lhe o cansaço.
Um aglomerado de montanhas e colinas selvagens erguia-se na vastidão daquele mundo, irrompendo uma espessa camada de nuvens brancas. Os sopés dos montes eram invisíveis aos olhos curiosos que os tentassem observar. Abaixo, apenas se contemplava o extenso e impenetrável manto de imaculado algodão branco que servia de suporte aos cumes flutuantes dos acidentes geográficos montanhosos. (💬 Parece aqueles dias de nevoeiro cerrado, quando vou na autoestrada.)
No topo das montanhas, vislumbrava-se uma paisagem protagonizada por terra argilosa de tons alaranjados, vegetação herbácea e, ocasionalmente, alguns pequenos acumulados de neve, recordações do inverno rigoroso que aquela dimensão provavelmente passara. Aqui e ali, viam-se construções cor-de-areia com traços antigos. Os tetos altos, as colunas artisticamente talhadas e as paredes imponentes caracterizavam a arquitetura majestosa daquele Universo. (💬 Gostei do cenário.)
Dos seus habitantes, nem sinal. O vento e o seu assobiar, a par com os arbustos rasteiros, pareciam ser os únicos donos daquelas terras onde o sossego imperturbável tinha o seu reino.
- Bem-vinda, Faliza. - Disse uma voz. (💬Ui! Quem é que apareceu? Quem será? Já tenho mil teorias...)
A cosmóloga virou-se repentinamente, assombrada com aquele sussurro de timbre impossível de qualificar quanto ao género e à idade. Atrás de si, pairava uma esfera bege feita de fumo, capaz de caber na palma da mão. Tivesse rosto, a pequena bola fumegante exibiria uma expressão hospitaleira, com um sorriso anfitrião.
- Como é que sabes o meu nome? (💬 Também estou curioso...)
- Ai, criança! Os mistérios do meu povo não são compreensíveis para a tua mente minúscula e limitada, mas a verdade é que já te esperávamos. - Respondeu enigmaticamente a esfera. - Segue-me. (💬 Caramba! Tanto mistério!)
A mulher sentiu-se impelida a acompanhar o movimento daquela pequena bola de fumo misteriosa. Apesar de ser a criatura mais estranha com que se deparara desde que ativara pela primeira vez o Sperantia, o ser transmitia uma confiança inigualável. Não revelava medo nem demonstrava agressividade, tampouco surpresa. Parecia que fora incumbido de encaminhar uma turista com data e hora de chegada marcada. (💬 Suspeito...)
- Não costumamos receber visitas. Peço desculpas se esperavas algo mais grandioso da parte dos Destiniais.
- És um Destinial? - Balbuciou incrédula a mulher. - Estou no Universo dos Destiniais? (💬 Yupi! Mas essa já era uma das minhas mil teorias ali atrás...)
- Pareces dececionada. - Constatou a esfera fumegante. - Sei que, fisicamente, podemos parecer insignificantes à vista das criaturas do resto do Multiverso. A questão é que nós, Destiniais, somos consciências cósmicas que de corpóreo temos muito pouco, o que facilita as nossas tarefas. Servimos o Multiverso e o seu curso. Temos o dom de observar os acontecimentos de todos os Universos, viajar entre dimensões, transportarmo-nos instantaneamente dentro do mesmo mundo e, o mais fulcral do nosso desígnio, controlar o destino de tudo quanto vive e de tudo quanto existe em prol da harmonia do Cosmos que evita o Caos. (💬 Interessante!)
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A esperança é a última a morrer
Nouvelles🥈 2º lugar na Copa dos Contos 2024 (Copa dos Portais) do @ContosLP Diz-se que tudo o que tem um início, tem um fim. E tudo inclui o Multiverso, que se aproxima do seu instante derradeiro. Faliza tem consciência de que o destino final aproxima-se. M...