33. O traidor, parte 3

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Tasya

Perguntar para as pessoas o que elas se dispõem a fazer para manter o que amam é interessante. Suas respostas podem dizer muito sobre as suas personalidades. Os altruístas farão qualquer coisa em seu alcance. Os egoístas não se importam com as consequências caso possam se safar. Os sádicos podem desejar ver o sofrimento alheio e haverá outros que ainda amarão ser os responsáveis por causar a dor sentida.

Onde ele pode se encaixar é o que quero ver...

— Está me dizendo que quer me usar como uma moeda de troca? — questiona-me, mas o fato de ter um sorriso em seu rosto não é um bom sinal. Acreditei que este poderia ser um ótimo plano, dado que Dimitri continua mantendo Egor e Nikolai como reféns.

Apesar de perceber que não mais colocará as mãos nas crianças, não daria o braço a torcer e os soltaria, sabia que ao primeiro sinal todos iriam para cima dele com tudo que pudesse os atingir. Não haveria pedra sobre pedra depois disso. Entende que começou uma guerra e não será fácil refrear as implicações dela.

— Meu pai não é tão amoroso quanto pode pensar, não deve importar comigo o suficiente para que sirva como um meio de fazer com que ceda a uma troca — diz, não parece triste pelo que fala, apenas se conforma com o tipo de sujeito que o seu pai é. Se não pode fazer nada para mudar as suas atitudes, porque sofreria por elas? — O mesmo para minha mãe, o casamento deles é uma fachada.

— Mesmo assim se juntaram para conseguir o que queriam para salvar o Mikail — declaro. Seu semblante não muda, seus sentimentos continuam calmos apesar de estar no meio de uma turbulência que sabe que pode custar a sua vida e que se ela for levada as chances para o seu irmão diminuem drasticamente. — Tem algum ponto nisso que não bate.

— Você nunca viu o meu irmão, se o visse entenderia, é como um pequeno filhotinho que qualquer um daria a vida para proteger — explica. — Meus pais passaram a maioria dos seus dias apenas vivendo como sempre até perceberem que a minha mãe estava grávida de novo, uma surpresa para eles, um temor para mim. E não estou falando por questões de sucessão, que se foda isso.

— Como alguém que viveu como filho deles sabe muito bem o que podem fazer e tudo que deixam de fazer, não é mesmo? — Apenas me dá um meneio em confirmação. — Por sorte, boas pessoas não precisam de pais extraordinários para florescer.

— O seu amigo me chamou de açougueiro — conta e acabo sorrindo.

Vejo Niki como uma pessoa que poderia dizer uma coisa dessas em um momento de perigo. Ainda não está acostumado a eles, é claro que falará muito mais do que deveria. Cada um enfrenta seus problemas da forma que mais lhe deixa confortável.

— Não somos bem amigos — digo. — Um pouco além disso, acredito.

— Não é mais estranho?

— Depende do tipo de relação que você costuma ter com as pessoas — elucido. — Então, o que houve quando Mikail nasceu?

— As coisas melhoraram um pouco, ele parecia ter conseguido unir os dois mais do que antes — esclarece. — Meu pai nunca foi o marido ideal, mas tentou se mostrar como alguém melhor por um período, até que meu irmão começou a adoecer, uma vez atrás da outra.

— Deve ter sido difícil...

— Foi uma merda, ao invés de procurarem meios de o ajudar passaram a se acusar sobre de quem era a culpa de a saúde dele ser frágil — articula, deixa uma expressão decepcionada em seu rosto. — Sabia que seus interesses paternos iam somente até um ponto da coisa, mas os vê discutindo por esse tipo de detalhe apenas esclareceu que eles queriam alguém que pudesse ser perfeito, talvez o suficiente para não precisarem de mim.

Contrato de honra - Série Família Sokolov - Livro 2 - RETIRADA 28.11.2024Onde histórias criam vida. Descubra agora