05. O que escolhe te persegue

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Tasya

Por que estou cogitando fazer o que aquela mulher me disse?

Como posso acreditar nela quando nem teve a decência de me dizer seu nome depois de pedir para eu matar alguém. Pessoas como ela tendem a ser desse jeito? E por que estou pensando nisso se não pretendo levar a situação adiante? É só esquecer.

Posso continuar com o meu planejamento anterior. Em alguns anos estarei livre e poderei levar minha irmã para o mais longe possível de qualquer coisa semelhante ao que vivi.

Por que acreditaria em uma estranha que não tem motivos para se preocupar com a minha vida? Aprendi da pior forma possível que nem mesmo a pessoa com o sangue igual ao meu correndo em suas veias não se interessou pelo que aconteceria a mim.

Pode estar apenas querendo foder comigo após me fazer o matar, tiraria um desgraçado do seu caminho e ninguém se importaria com o fato de eu ter sido influenciada para o matar, o que importaria é que o sangue seria derramado por minhas mãos e só.

Não foi o que imaginei por tantos dias?

Alguém somente veio e colocou a possibilidade no meu colo.

Me entregou um doce sem que pedisse, mas eu poderia lidar com ele?

Tenho vivido apenas para servir, impedindo assim que tivessem motivos para me atacar, poderia me levantar e reagir contra ele forte o bastante para o levar a morte? Não estaria apenas me iludindo com o meu desejo dançando na frente dos meus olhos?

Não é como se eu fosse a única correndo riscos aqui, não posso deixar que cheguem perto da minha irmã. Se eles sequer cogitarem... "Não é esse um bom motivo para dar cabo da vida dele?" Retruca aquele lado da minha mente que o fatiou repetidamente a cada noite em que os pesadelos não me deixavam dormir.

Em todos os momentos em que o ranger da porta me fazia tremer por ponderar sobre o que seria pedido a mim pelo sujeito da vez. Por todas às vezes em que sangrei para fazer a felicidade de alguém. "Você sabe que quer isso, não só por você, mas pelo futuro dela também". Garante a vozinha que é tão forte em minha cabeça que sinto como se houvesse outra de mim bem na minha frente discutindo sobre como tenho que ser forte.

Muito mais do que tenho sido ao aguentar calada cada uma das vezes em que fui escolhida para ser a carne de abate. Bem mais do que em todas as noites em que tive que limpar a sujeira de cada escroto de mim. "Você não quer viver sua vida assim". Me assegura novamente, me aponta um dedo no meio do meu rosto. Tenho certeza de que não quero, mas que tipo de vida posso ter depois de conseguir o matar?

"Você criou o seu próprio caminho tantas vezes, caminhou sobre brasas e engoliu os seus gritos, não pode sobreviver no mundo lá fora?" Me desafia em um único questionamento.

Está certa. Depois de tudo o que vivi aqui dentro enquanto me obrigava a sorrir, o que poderia haver de pior lá fora? Caminhar no inferno dá a você uma resiliência inesperada que fará do seu coração um pedaço de pedra inconstante que não sabe quando baterá de novo.

"Vai deixar que eles continuem controlando o que você pode fazer? É muito melhor do que isso, melhor do que eles. Eles não suportariam um único dia do que viveu aqui". Me assevera com tanta convicção que não poderia duvidar de suas palavras ao me empurrarem na direção que demanda.

Eu posso fazer isso, não só por mim, mas por minha irmã.

Ela merece ver o mundo fora daqui.

Eu fiz o que podia para estar apresentável. Usei a pouca maquiagem que possuía depois de tomar um banho longo como se quisesse arrancar todos os acontecimentos passados da minha carne para colocar uma armadura que abriria o meu caminho para o futuro. A todo momento a adaga parecia brilhar na minha direção. Buzinando em meu ouvido sobre a minha escolha ser difícil, mas necessária.

Contrato de honra - Série Família Sokolov - Livro 2 - RETIRADA 28.11.2024Onde histórias criam vida. Descubra agora