Capítulo 1

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Acordo com um espasmo na perna e uma forte dor no pulso...

De repente, me vejo em um pequeno quarto; as paredes, brancas como todo o resto, davam ao lugar uma sensação estranha. Posso ver uma grande janela preta refletindo-me no centro da sala.

Começo a olhar pelo quarto e percebo uma grande porta. Corro até ela, mas sou puxada para trás com força e caio de cara no chão. Com dor, me levanto novamente e percebo as grandes algemas em meus pulsos. Desesperada, tento gritar, mas é como se minha boca estivesse costurada. Tento falar novamente, mas não consigo.

Escuto uma voz vinda de algum alto-falante no teto. "Teste número 1220 acordado." Teste 1220!? Rapidamente, uma porta se abre na sala e um grande homem entra, e então a porta atrás dele se fecha. Eu o encaro, ele me encara; por trás de seus óculos, vejo-o assustado, como se eu fosse um animal.

Tento pedir ajuda, mas ao invés da minha própria voz, um som oco e gutural sai de minha garganta. O homem se afasta de medo, mas não sai da sala. Ele tira algo de seu paletó e começa a se aproximar de mim com cuidado. Ele tenta por algo em mim, mas me afasto. Ele começa a se aproximar rapidamente, como se aos poucos seu medo estivesse desaparecendo. Ele corre até mim e enfia uma agulha em minha perna, emitindo dor instantânea, pois ele nem teve a vontade de colocá-la com cuidado. Grito de dor e saio de perto dele, mas me sinto fraca e incapaz de andar. Caio no chão sem sentir minhas pernas; depois, minha visão começa a falhar e...desmaio.

...

Acordo em algum tipo de quarto, mas aquele é diferente; tinha várias janelas.

Quando percebo, ainda estou com as algemas nos pulsos e com uma espécie de focinheira humana no rosto. Quando me sento para observar o local, alguém entra; uma mulher, ela usa as mesmas roupas do cientista que colocou a agulha em minha perna. Ela está com algo em suas mãos e joga no quarto. Quando percebo, aquela "coisa" na verdade era um garoto, ele tinha no máximo uns 14 anos e parecia assustado, olhando tudo com medo. A moça logo entrou no quarto, mas ficou longe de mim. Ela pegou os pulsos do garoto, colocou algemas nele e os prendeu no mesmo lugar onde estavam as minhas. Ela saiu...

O garoto começou a suplicar por ajuda: "Socorro! Socorro!" e "Por favor, me tirem daqui!" Que logo se tornou algo irritante.

Quando ele se acalmou e parou de berrar, olhou diretamente para mim. Seu rosto mostrava desespero e medo, mas seus olhos...curiosidade. Ele andou para perto de mim, mas eu me afastei, pois repentinamente tive medo dele e do que ele poderia fazer comigo. Sim, eu sei, ele não podia realmente me machucar; ele era uma criança e estava preso como eu, mas mesmo assim, eu estava com medo. O garoto me perguntou:

-Você está com medo?- Aceno que sim com a minha cabeça -

-De mim?- ele começa a rir, uma risada fria e oca -eu que devia ter medo de você. Você está com uma focinheira e... e com algemas e tipo... eu que devia temer você.

O garoto me encara, ele estava a ponto de chorar. Eu queria lhe falar que estava tudo bem e que não havia necessidade de chorar, mas eu não conseguia, eu não conseguia falar. Eu levantei e caminhei até ele, lhe dei um abraço. Foi algo estranho; eu não o conhecia, não estava acostumada a dar abraços e também não gostava muito, mas ele precisava.

-O-obrigada- ele disse -

Eu fiz um sinal, esperando que ele entendesse que eu queria dizer "de nada". Depois de um silêncio constrangedor, ele pergunta:

-Por que você não fala nada?

Fiquei surpresa com sua pergunta, mas era óbvio que ele a faria. Eu tentei falar, mas um tipo de rosnado saiu ao invés de uma frase. Fiquei decepcionada.

-Ah, você não pode falar... você sabe o porquê?

Fiz um sinal de não, ele meio que ficou decepcionado; eu queria lhe fazer tantas perguntas, mas só fiquei quieta. Um ruído veio da porta e ela se abriu; uma mulher de terno preto veio e disse: "Experimento 1220..." E ela me olhou. Eu me afastei um pouco. O garoto me encarou, e ele percebeu o que a mulher queria dizer. Ele me encarou por mais um tempo, até a mulher começar a andar vagarosamente na minha direção. Ele se aproximou e foi na minha frente de uma forma protetora. A mulher hesitou um pouco, mas logo voltou a andar. Quando ela chegou na frente do menino, ela disse:

-Saia da frente

Ele hesitou, mas continuou no mesmo lugar

-Se quiser que ela fique aqui, sugiro que você saia da frente.

Ele pensou, mas acabou saindo da frente. A mulher me olhou, pegou uma chave e abriu as algemas. Ela fez um sinal para que eu a seguisse, e eu a segui, pois se eu fugisse, tinha o perigo de nunca mais ver o menino, e eu não queria ficar sozinha novamente. Antes de ir embora, eu encarei o garoto por um tempo e fiz um sinal, esperando que ele entendesse que era uma desculpa. Ele sussurrou de volta: "só não morra, por favor". Se eu não estivesse com tanto medo, riria. Acenei que sim e segui a mulher pelo corredor, me pergunto quem são essas pessoas e por que estão me mantendo aqui.

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