Prólogo

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Lilith, 8 anos.

O vento soprava mais forte que o normal, o céu começava a ganhar um tom acinzentado por conta das nuvens que pairavam sobre ele. Depois de uma longa manhã trancada dentro de uma biblioteca, lendo e estudando, tempo nenhum me deixaria mais entediada do que todo aquele assunto sobre a história do Império.

Apesar de Nora exigir os estudos como algo fundamental, ela havia desistido de continuar com as aulas de etiqueta, ao notar que eu não demonstrava nenhum tipo de interesse sobre tal assunto. Na verdade, apesar da pouca idade, eu já  tinha uma certa noção de como passaria o resto da minha vida, e isso não incluía longas noites em bailes, ou até mesmo jantares importantes, mesmo carregando o título de ‘princesa’. A minha realidade era completamente diferente, mesmo morando em um palácio, mesmo tendo empregadas, mesmo possuindo  um guarda pessoal.

Por fim, como recompensa da minha “demonstração” de interesse pela história do Império, Nora acabava por me levar em um piquenique, ao final de cada tarde. Nada melhor do que o ar livre para espairecer. O pequeno lago, onde costumávamos fazer o piquenique, era cercado por uma extensa clareira e uma enorme floresta, que terminava a alguns metros antes do muro, que como Laurie costumava dizer, nos mantinha afastados do restante do mundo.
O Palácio Inverno, era um dos anexos do Palácio Imperial, na verdade era o menor de todos, destinados às concubinas dos antigos/atuais Imperadores. Por conta disso, ele tinha sido designado para minha mãe, que fora a primeira – e única concubina do atual Imperador Berius.

Naquele fim de tarde, Nora havia recompensado meu enorme esforço com um piquenique, isso incluía vários doces, frutas, biscoitos e bolos, além de diferentes chás e sucos. Assim que terminamos de comer, enquanto Nora desfrutava da vista, apesar de algumas nuvens já terem fechado uma boa parte do céu azul, sai para fazer uma pequena corrida ao redor do lago, uma das exigências de Nora com total influência de Elliot, que fora designado para mim, como guarda pessoal, por razões desconhecidas.

Enquanto continuava correndo ao redor do lago, um lampejo de luz atravessou o céu me fazendo parar por alguns instantes, pude notar a luz sendo refletida na água cristalina do lago. Me aproximando do lago, me agacho, observando-o e me vejo encarando meu próprio reflexo nele, meus cabelos de um dourado vibrante, deixava evidente o sangue real que corria em minhas veias, mas meus olhos – como Nora costumava dizer – eram um pedacinho da mulher que me dera a vida, um tom violeta tão brilhante quanto a mais pura ametista púrpura já encontrada no Império Arkham.

Ao me levantar, ergo o olhar percorrendo toda a extensão da floresta até chegar no grande carvalho a alguns metros de Nora, seus galhos já pendiam para os lados pelos anos que carregava, suas folhagens se encontravam amareladas, deixando evidente o fim do outono.  Meu olhar se encontrava observando os arredores novamente, até chegar em Nora, vendo-a acenar para mim, abro um largo sorriso, indo de encontro a ela.

– Vamos, Senhorita Lilith, acho que devemos fugir da chuva antes que ela resolva dar o ar de sua graça! – A voz da babá era suave e doce, quase um alento.
Um trovão irrompe o céu, nos fazendo estremecer.

– Acho que ele te escutou, Nora! –  Aponto para o céu, vendo-a franzir o cenho, o que me faz rir baixinho.

Enquanto observo Nora terminar de ajeitar as coisas, percebo o quanto seus cabelos ficaram brancos com o tempo, e com o trabalho de cuidar de uma garotinha de oito anos, não ajudava muito a velha babá. Fico observando-a por uns minutos até me focar no incrível coque que ela insiste em usar, dizendo que é mais fácil de realizar as tarefas, o mesmo acaba por lhe dar uma aparência ainda mais velha. Apesar da babá ser uma pessoa alta para os padrões sociais, sua coluna já se encontra levemente curvada, devido aos anos dedicados ao trabalho pesado.

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