Cap. XVI - Anjos.

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Abigail.

Uma brisa no rosto, um pingo de chuva na pele ou até mesmo um espirro de alguém do outro lado do país, e lá estava eu, adoecendo. Desde que nasci, minha saúde sempre foi frágil, me deixando de cama, às vezes por dias consecutivos e isso não apenas desanimava a minha família toda, mas a mim também. E isso se sucedeu até próximo dos 9 ou 10 anos, que foi quando recebi a primeira visita de Lucinda, uma curandeira conhecida por alguns amigos íntimos de meu pai.

Ela me examinava buscando indícios do que poderia estar me deixando doente tão facilmente, e acabou por descobrir que apesar de ingerir todos os nutrientes necessários, minha imunidade era muito baixa, possibilitando a contração de doenças básicas como gripes e resfriados. E até mesmo aumentando o grau de contaminação dos respectivos vírus. Desde que ela me preparou um remédio - horrível por sinal, minha imunidade vem aumentando, me deixando cada vez mais forte e menos suscetível a contração de vírus, o que me possibilitou desde então, viver uma vida normal.

Periodicamente, Lucinda vem me visitar, tanto para fazer um check-up quanto para me trazer uma nova dose do remédio. Foi assim que conheci seu sobrinho, Maven. Um garoto de cabelos ruivos e olhos verdes esmeraldas, com um sorriso e um olhar triste. Ele sempre se manteve quieto, não falava muito, apenas usava sua aura para analisar se meu corpo tinha algo errado, e pronto. Nunca me dirigiu uma palavra sequer, nem mesmo para rir de mim pela minha magreza, ou algo do gênero.

Com o passar dos anos, minha imunidade foi se tornando cada vez mais forte, graças a Lucinda e ao sobrinho dela, me possibilitando ser uma pessoa completamente normal. E eu jamais saberia como agradecer aos dois por isso. Pelo menos de um jeito que fizesse jus ao que eles tinham feito para mim. Desde então, toda a vez que Maven vinha me visitar junto de sua tia, eu tentava puxar assunto com ele, mas apenas respostas vagas e vazias me eram dadas. Apesar dos pesares, nunca desistiria, não depois de tudo.

Mas não foi preciso muito esforço, pois na que provavelmente seria a última visita dos dois ao ducado, o semblante do garoto estava diferente, seus olhos tinham ganhado vida, um sorriso aparecia levemente em seu rosto, conforme ele me analisava. Mais tarde, fiquei sabendo por Lucinda que ele havia conhecido uma garota, conhecida de uma amiga dela, ambos se aproximaram bastante, fazendo o garoto voltar a sorrir como a muito tempo não fazia. Um aperto em meu peito se fez presente. Eu estava feliz por ele. Estava mesmo. Mas algo dentro de mim tinha me feito se sentir impotente, ao ponto de não conseguir arrancar nenhuma palavra se quer dele, enquanto uma outra pessoa simplesmente fez ele voltar a sorrir. Lembro de respirar fundo e deixar aquele sentimento terrível se esvair, jamais poderia pensar coisas assim, não era do meu feitio. Então simplesmente deixei de lado.

Os anos se passaram, a Academia Imperial foi a primeira batalha que travei para mostrar ao mundo que eu era sim uma pessoa normal, mas falhei miseravelmente. Não conseguia fazer amigos, as pessoas simplesmente se aproximavam para que eu pudesse falar de "alguém" para o meu pai, então evitava ao máximo qualquer tipo de contato. Meu irmão, Noah, sempre me perguntava como estava indo a vida de acadêmica, apenas sorria para ele e dizia que tudo estava indo bem, então me retirava dando uma desculpa que eu precisava me encontrar com as minhas colegas de classe. Era tudo mentira. Não havia um dia que eu não quisesse sair correndo daquele lugar. Acabava me isolando numa pequena sala de música, comendo sozinha e depois tocava o piano, que era de longe meu alento, meu refúgio. Quando finalmente a formatura chegou, peguei o meu diploma e nunca mais pus os pés naquele lugar.

Então veio o convite para o debute Imperial, meus pais aceitaram sem nem questionar ou me perguntar, ainda mais com o noivado com o Segundo Príncipe, quase se tornando oficial. Suspirar pelos corredor da mansão do ducado, tinha sido minha maneira de protesto, enquanto Liz - minha empregada pessoal e única amiga - me acompanhava para lá e pra cá, a fim de ajustar os últimos detalhes antes da viagem até a cidade imperial. Óbvio que meus suspiros não surtiram efeito algum, logo parti rumo ao meu destino. Meu terrível destino.

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