Cap. XIII - Escarlate.

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ERON

Artes marciais. Arte da espada. Arte da guerra. Política. Etiqueta. Estratégias. Uma vida regrada, com cada passo já definido, para um único propósito: A Coroa Imperial. Imagina passar horas e horas do seu dia com diversas pessoas diferentes, lhe dizendo o que fazer, como agir, como responder e o que responder. Imagina você ter 12 anos e querer ler um livro um pouco mais adequado para sua idade, mas ser impedido por um "estranho" - que eles insistem em dizer que são professores - dizendo que você precisa ler um livro sobre Geopolítica, de mais de 800 páginas.

Monotonia, era a palavra que definia minha vida nos últimos anos. Completa e total monotonia. Por mais que eu me esforçasse em tentar aprender algo, simplesmente não conseguia ou não era bom o suficiente para o "professor" em questão. Com a espada, era um completo desastre. E o professor que meu pai havia contratado para me treinar, não era um dos melhores, na maior parte do tempo, ele ficava de conversa com as empregadas do palácio, ignorando os deveres para o qual fora designado.

Por várias vezes, aproveitava a distração do professor e fugia para a biblioteca particular do meu irmão, sempre o encontrava por lá enfiado com a cara em um dos seus livros. Nosso pai havia desistido de tentar ensinar qualquer coisa que envolvesse espadas, ou alguma outra arma para Archer, notando que o mesmo sempre preferiu livros a armas. Nós três sempre acabávamos discutindo por conta disso. Archer certa vez, praticamente gritou para nosso pai que as guerras só existiam porque os homens possuíam uma quantidade mínima de neurônios, sendo incapazes de pensar em outras formas de acabar com intrigas. Ele apenas não expulsou Archer do Império, porque nossa mãe jamais admitiria ficar longe de um dos seus filhos.

Numa certa vez, nosso pai acabou por nos pegar na biblioteca durante meu treino de espadas, e culpou Archer por isso. Depois de nosso pai quase bater em meu irmão, eu saí batendo os pés da biblioteca e caminhei sem rumo por horas e mais horas, até parar na frente de um muro. Por curiosidade, resolvi ver o que havia do outro lado, mas por conta da umidade que deixava o lugar escorregadio, acabei caindo de cima do muro, ralando o joelho. O local da ferida, estava dolorido me impedindo até mesmo de dobrá-lo, isso me fez ficar parado por longos minutos. Lembro de tentar me levantar e deixar o joelho levemente curvado, começar a caminhar pela floresta e então algo raspar no machucado, me fazendo cair de novo no chão, fiquei ali por mais alguns minutos, até o arbusto a minha frente farfalhar e uma garota de olhos violetas e cabelos dourados sair por detrás dele.

Por muito tempo, vi as pessoas me tratarem de maneira diferente, me reverenciando, me adorando, me mimando, me dando tudo e mais pouco, jamais ousaram me desafiar ou se opor a qualquer coisa que eu dissesse ou fizesse. Estavam dispostas a dar suas vidas por qualquer coisa que eu exigisse. Nunca, jamais alguém me contrariou, me tratou mal, nem menos me olhou de maneira estranha. E isso me fazia odiar a maioria das coisas ao meu redor. Então ela surgiu entremeio os arbustos, primeiro me ajudando e sendo gentil, depois praticamente gritando comigo e sendo grosseiramente hostil. Pela primeira vez, em muito tempo, me senti realmente vivo. Me senti realmente humano. Depois de conhecê-la, mesmo que precisasse mentir para todos ao meu redor, continuei aparecendo para vê-la. Observar ela treinar me fazia querer tentar também, de verdade, pela primeira vez. Ver ela se esforçando me fez querer se esforçar também. Talvez conhecer tanto Maven, quanto Lilith tenha mudado um pouco a essência dentro de mim. Os dois foram o meu abrigo, nos momentos em que eu simplesmente queria fugir do peso que insistiam em jogar sob os meus ombros, quando eu queria ser apenas eu. E nada mais que isso. Treinar com Lilith e Elliot, era meu refúgio, conversar com Maven, minha calmaria. Eu sempre serei grato por todos os momentos que passamos juntos.

Porém, apesar de todos os momentos que tivemos, todas as risadas que compartilhamos, todos os duelos que fizemos, nenhum se comparou ao momento em que senti o toque de Lilith pela primeira vez. A maciez de sua pele, o toque suave de seus lábios, o cheiro que emanava dela, tudo isso fez meu coração disparar, tudo isso fez eu me apaixonar por ela. Mas então as engrenagens no mundo girou, me fazendo entrar pra Academia Imperial, me fazendo ficar quase três anos longe dela. Apesar do tempo, meus sentimentos não haviam diminuído, eu ainda a queria, ainda a desejava, de uma maneira que me fazia ansiar pelo seu toque, seu cheiro, sua voz. E isso fazia com que a ansiedade que a carruagem chegasse logo ao Palácio Imperial, aumentasse cada vez mais.

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