30. Voltando Para Casa - Parte 1

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Samanun Every

Confesso que não imaginava que iria sentir tanto pela morte do meu pai, como eu me sentia naquele momento.

Obviamente, se você me perguntasse há alguns meses atrás, eu diria que perder meu pai seria uma das maiores dores que eu poderia pensar em sentir, mas depois de tudo que eu descobri que ele fez, e após realmente saber quem ele era, eu achei que essa dor fosse amenizada e eu só sentiria alívio por tudo ter acabado.

Mas não era tão simples assim, afinal como ele mesmo dissera, ele me criou, me ensinou muito do que eu sou hoje e moldou as piratas que eu e minha irmã nos tornamos. É quase impossível separar tudo isso e esquecer as mais de duas décadas de convivência e o amor que dividimos juntos.

Eu pensava que sua morte significaria libertação, para mim e para os Vermelhos, mas não era aquilo que eu sentia ao ver o corpo do meu pai ser despejado do Fancy, em alto mar tal qual o traidor que ele era.

- Acho que já deu. - Engfa fala ao meu lado, com a voz embargada assim que o som grave do corpo do Henry Every batendo na água ressoa pelo convés silencioso do Fancy.

Ela vira seu corpo saindo do meu lado, mas eu permaneço ali, olhando para o horizonte, sem focar em nada exatamente, apenas pensando sobre a forma que me sentia e a forma que achei que iria me sentir. Eu estava sozinha perto do para peito, já que ninguém dos Negros poderia estar ali naquele momento e eles continuavam a checar o navio dos ingleses procurando coisas de valor, enquanto os Vermelhos faziam a cerimônia de despejo dos corpos do meu pai e do Kirk, assim como mandava o código de conduta pirata.

Também pensava na minha mãe, ela o amava de todo o coração e saber de suas atrocidades a quebrou de uma forma que foi difícil de presenciar. Ela não sabia de nada que ele havia feito, assim como eu e a Engfa e, também assim como eu e minha irmã, ela o tinha como uma das melhores pessoas do mundo.

- Capitã, desculpe-me o mau momento... - Um dos tripulantes se aproxima de mim, interrompendo meus pensamentos. - Acabamos de subir do porão e...

Ele olha para baixo, pensando em como iria falar o que tinha que dizer. Ao seu lado, June estava inquieta.

June era uma das muitas piratas da tripulação dos Vermelhos, porém ela era uma das melhores ali. Ela era inteligente, rápida no pensamento e mil vezes mais rápida com sua espada. Além disso, não perdia a oportunidade de dar em cima de mim descaradamente, tendo quase que flagrado eu e a Mon transando no banheiro do Bordel há algumas semanas atrás.

- June, o que aconteceu? - Pergunto diretamente para ela, já que o homem ao seu lado parecia nervoso demais para, sequer, formular uma frase inteira.

Ela junta suas mãos, passando uma na outra e olha para os lados e depois volta a me olhar.

- O Fancy, ele... Ele está completamente alagado na bodega, nas galerias inferiores... A gente desceu com alguns barris de pólvora que os Negros diviram do saque ao navio inglês, mas...

- Não tem condições, capitã, o Fancy vai afundar em apenas algumas horas. Não conseguiremos voltar a tempo para Nassau. - O homem ao seu lado finalmente consegue falar, sendo direto e claro, complementando o que June tentava dizer.

Meu corpo todo fica instantaneamente dormente, como se eu não estivesse ali, como se minha alma tivesse saído do meu corpo e eu tivesse olhando aquela situação de fora.

- Sam... - Mon se aproxima, me chamando e me trazendo de volta para a Terra, mas provavelmente minha expressão demonstrava o quão apavorada eu estava naquele momento, porque ela olha para mim e franze o cenho, preocupada. - O que aconteceu?

Velas Negras • MonSamOnde histórias criam vida. Descubra agora