Velas Negras • MonSam

30. Voltando Para Casa - Parte 2

Samanun Every

"Me deixe em paz, Samanun".

A frase da Kornkamon ressoava na minha cabeça em um looping infinito, como se ela estivesse ali dentro da minha mente, repetindo, repetindo, repetindo...

Monto na Tempestade, querendo sair dali o mais rápido possível, eu tinha perdido meu pai, meu melhor amigo, meu navio e... bem, não sei exatamente se a perdi também, mas ouvir aquilo, definitivamente, doeu.

Eu não estava no melhor dos momentos naquela hora.

Na verdade, essa frase foi a coisa mais otimista que eu pensei nos últimos tempos, porque a realidade é que eu estava péssima e não conseguiria voltar agora para encarar os afazeres que me esperavam. Engfa estava me aguardando na casa da irmã do meu pai para conversar com nossa mãe sobre a possível venda da casa e como seria a vida de agora em diante, mas eu não iria conseguir lidar com tudo aquilo agora, então decidi ir até a praia.

A tarde caía, as ondas estavam bem mais calmas do que pela manhã. Eu adorava o céu naquela hora, era sempre muito bonito e dependendo do dia, ele estava mais laranja ou mais rosa. Naquele dia em específico, ele estava super rosa e as nuvens refletiam as cores vibrantes do fim de tarde.

Diminuo o trote da Tempestade, andando devagar para poder aproveitar mais da vista e observar as ondas batendo na praia.

"Sam!!!"

Ouço uma voz bem longe me chamando, começo a procurar de onde vinha, encontrando a Margot cavalgando em minha direção. Puxo as rédeas da Tempestade, esperando que ela me alcançasse.

- Sam! Eu estava te procurando. Assim que soube de tudo que aconteceu e que vocês tinham, finalmente, voltado da batalha, eu precisava saber como você estava.

Ela cavalgava uma égua branca. Seus cabelos estavam mais longos, mais loiros do que o normal, quase tão brancos quanto os pêlos do cavalo que ela estava montada. Seu rosto era de preocupação e ela estava ofegante, como se ela tivesse corrido e não o cavalo.

Sorrio fraco para sua frase, eu me sentia exausta e não tinha ânimo para nada, portanto não queria nem esboçar uma simpatia que eu não tinha naquela hora.

- Você está bem?

- "Bem" é uma palavra muito forte, eu só preciso de um tempo para digerir tudo.

- Você nem sequer foi em casa? Eu fui lá agora, mas não tinha ninguém lá.

- Não, eu vim dar uma volta para pensar um pouco, eu... Eu não sei se tenho coragem de enfrentar tudo agora. Estar aqui enquanto as bombas estão explodindo ao meu redor, me trazem uma sensação de estar em um universo paralelo em que nada disso aconteceu.

Seu semblante era sério, enquanto seus olhos azuis me observavam.

- Eu sinto muito, Sam, por você estar tendo que passar por tudo isso. - Ela fala com o semblante triste. - Não quero invadir seu momento, eu só queria falar com você...

Ela solta a frase no ar, mas a verdade é que independente do passado que tivemos, Margot era uma ótima ouvinte e conversar com alguém que não estivesse diretamente relacionado com os últimos acontecimentos podia ser algo positivo.

- Não, tá tudo bem, você não está invadindo. Quer sentar um pouco na areia e conversar?

Ela abre um sorriso amplo e desce do cavalo em que estava. Eu faço o mesmo, deixando a Tempestade pastar livre na praia. Ela era super obediente e fiel, não iria correr dali sem que eu estivesse junto ou permitisse.