34. Velas Negras - Parte 2

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Samanun Every

- Arriar velas, força total! - Grito para o convés de marujos que começam a correr para suas posições e realizar o comando que eu havia dado.

A adrenalina corria nas minhas veias ao ver o navio borbulhando com a movimentação da minha tripulação e, ao fundo, o navio espanhol navegando à frente de nós. As velas não estavam todas arriadas, porque eles passavam pela parte dos rochedos, precisavam ter muito cuidado, além da visibilidade não ser boa, devido à noite que tomava o céu.

Eu havia corrido direto para o meu posto, na parte mais superior do navio, a fim de assumir o leme e o comando de tudo. Dali eu tinha uma visão privilegiada do nosso percurso e de toda a extensão no navio.

As meninas que haviam me avisado sobre o avistamento do navio espanhol, já tinham tomado suas posições, com exceção de Kornkamon, que continuava na proa do navio, onde estávamos antes. Ela estava observando o navio europeu sem se mover um centímetro de onde estava.

- Kornkamon! - Grito. Ela não me ouve, mas um marujo que eu estava mais próximo do meu posto anda até ela, tocando no seu ombro e chamando-a para mim.

Ela vira seu tronco, mas seus pés continuam fixados no chão. Ela olha para onde eu estava e volta a olhar fixamente no seu objeto de observação. Ela pega a luneta e leva ao olho.

Franzo o cenho, mas deixo aquele fato de lado um pouco, já que eu não podia me distrair naquele momento crucial.

Olho para cima, observando as velas negras como a noite, completamente infladas pelo vento que ajudava a empurrar a embarcação. O navio era extremamente rápido, era até incrível ver como atingia uma boa velocidade em tão pouco tempo.

Como eu conhecia aquele trecho como a palma da minha mão, não poupava nem um pouco na velocidade, diferente do navio espanhol, que continuava a navegar a meia velocidade. Vários de seus marujos estavam debruçados sobre as bordas de madeira do navio, com objetos que iluminavam o percurso, ajudando a observar o local por onde passavam. Eles estavam com todo o cuidado possível, prato cheio para que os abordássemos com facilidade.

Não tardaria nem um pouco para que eu conseguisse alcançá-los.

- Armar canhões! - Comando para o setor das armas, comandados pela Tee e Yuki.

Pela primeira vez, vejo Kornkamon se mover. Ela fecha a luneta com pressa e vem andando a passos rápidos pela madeira escura do convés, desviando dos vários marujos que corriam de um lado para outro, mantendo o curso que eu havia orientado.

Seu semblante carregava alguma satisfação misteriosa.

- Não atire neles! - Ela fala esbaforida, devido à corrida da proa até aqui.

- O que você estava observando? E por que não atirar neles?

Ela recobra sua respiração para poder falar.

- Está meio escuro para notar, mas logo que eles passaram por nós algo me chamou atenção.

- O que é, Mon? Fala logo!

- Eles estão com as velas quase todas arriadas e mesmo assim não possuem uma velocidade tão baixa quanto imaginei que fossem possuir.

- Certo, mas e daí?

- E daí que isso me colocou uma pulga atrás da orelha. Navios mercantes não costumam ser rápidos e geralmente são muito grandes para o tipo de atividade que a gente tem, por isso nunca podemos utilizar os navios deles, mas não esse!

Franzo minha sobrancelha novamente e levanto minha cabeça para observar o navio à minha frente, mas àquela luz não era possível identificar com precisão o porte dele.

Velas Negras • MonSamOnde histórias criam vida. Descubra agora