Ohana podia nomear o maior desafio de ser mãe solteira: ser mãe de dois. Dois na mesma idade, ainda por cima. Tudo bem, ela amava os filhos mais do que tudo nesse mundo, isso é óbvio, mas era complicado.
Manter Theo quieto enquanto arrumava Cecília que lhe exigia mais tempo era uma missão praticamente impossível todos os dias. Às vezes, partia para o extremo e lhe entregava o celular como uma última aposta para o destino. Aquilo dava tão certo que Ohana notou uma coisa: Talvez o menino não lhe obedecia por já esperar que ela entregasse o celular.
Ela tinha que ficar ligada para todas as manhas deles, então já havia decidido que mesmo Theo incentivando, não o entregaria o celular.
Criava os meninos do mesmo modo que foi criada, com muito mais amor, claro, mas dava para se aproveitar de algumas coisas da criação de Ivana.
O celular não seria um problema para os meninos, visto que era só ter uma conta infantil onde eles só pudessem assistir desenho, mas eles queriam ficar pesquisando as músicas de Larissa e existiam vários pontos ali: As músicas não serem apropriadas para eles, os diversos clipes +18 que a mãe deles tinha e o fato de que poderiam ver algum vídeo ou outro de outras pessoas falando mal dela. Ou seja... Proibido o uso de celular.
Ela ainda não fazia ideia de como iria reagir no momento em que eles pedissem para ter redes sociais, mas obviamente negaria.
Larissa seguia a risca tudo isso, mas volta e meia via ela dando o celular. Brigamos muito por esse motivo também.
Eu queria mais do que tudo proteger meus filhos do mal que o mundo poderia causá-los simplesmente por eles serem quem são. Alguns achavam que eu estava paranoica com isso, que era exagero...Até o dia que eles foram expostos na internet pela primeira vez.
A exposição naquele momento era mais do que inevitável, pois era a aberta do instituto. Como eles poderiam não aparecer?
Aquele dia foi mais um dos que mudaram a minha vida. Até aquele dia, eu estava confortável como mãe. Mas daí...
Daí me colocaram em cheque. Colocaram os meus princípios em jogo. Para alguns, era muito esquisito que a Anitta não tivesse filhos mais claros, ou de repente apenas com os cabelos mais lisos.
Era estranho porque: O cabelo de Larissa quando criança não era liso e eu sou parda, então porquê poderia ser diferente?
Foi necessário ler muita coisa ruim naquele dia tão feliz para então entender uma coisa: Eu enquanto mãe sempre seria posta em cheque na mídia.
Porque não importava se os meninos se pareciam comigo, não importava se o cabelo de Cecília era igual ao meu, tudo o que deveria importar é que ela não parecia com Larissa tanto quanto deveria. Eu li isso, mas... Deveria?
Por muito tempo aquilo me entristeceu, pois eu não via um futuro onde não trouxesse consequências daquela situação para a vida dos meus filhos. Cedo ou tarde eles teriam que passar por isso e eu enquanto mãe não poderia fazer nada para defendê-los da maldade do mundo.
- Você também vai, mamãe? - Maria perguntou e Theo respirou fundo, se mostrando impaciente
- É óbvio que não, Cecília. - o menino falou rude
- Ué, e por que não? - eu parei de enrolar seu cabelo quando ela virou para trás chocada com a informação
- Porque nossas mães não são um casal então elas não saem juntas. Você nunca vai entender isso? - a loira se assustou com o filho. Primeiro pela inteligência e depois pelo tom de voz
- Que jeito é esse de falar com a sua irmã? Peça desculpas para ela.
- Mas mamãe... Ela sabe e fica perguntando. Não é justo eu pedir desculpa. - ele deu uma entonação tão engraçada a frase que a bailarina quase riu. Às vezes tinha que agradecer por não ter Larissa ali, pois em momentos como aquele as duas iriam rir juntas e fazer Cecília chorar.