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Os dias após a ida da minha sogra estavam sendo cada vez mais nublados. Eu tentava a todo momento recuperar o ânimo da mulher que levava o título de amor da minha vida, mas era uma missão complicada.

Mimada como era, manhosa o dobro e principalmente: sentimental... Estava sendo bem complexo. Arrisco a dizer que ela estava igualzinha na época de gravidez. Essa noite Ohana me fez levantar para fazer um suco porque não queria tomar o remédio com água e eu prontamente acordei e fui fazer.

Resultado? Não bebeu o suco e nem tomou o remédio. Ela só queria ganhar tempo e fugir das minhas incontáveis tentativas de fazê-la reagir. No fundo ela sabia que podia jogar esse jogo comigo da maneira que achasse melhor pois eu nunca iria deixar de fazer as coisas da forma que ela me pedisse.

E tudo bem, não era sempre assim. Eu já sabia lidar com o meu bem e fazia isso com todo gosto do mundo.

Perdemos algumas (muitas) noites por ela estar ansiosa, pulamos refeições para fazê-la comer o que tinha vontade quando o efeito do remédio passava. Almoçar às nove da manhã? Tudo bem, amor. Nós podemos sim fazer um Strogonoff às nove da manhã.

Eu fazia de tudo porque queria vê-la bem e era bom ver que tinha resultado. Faltava pular de felicidade toda vez que ela sorria pra mim. Sorria verdadeiramente, porque eu também sabia quando ela só estava fingindo.

A indicação do meu álbum ao Grammy Americano foi um dos grandes auges da minha carreira, mas enquanto Larissa já não tinha o mesmo efeito. Por mais complexo que fosse, era muito menos do que  parecia.

Eu já não me deslumbrava mais com as coisas que aconteciam na minha carreira. Pra mim, motivo para se deslumbrar era tardes como a de ontem em que eu, meus filhos e minha ex mulher passamos a tarde toda nos divertindo juntos. Eu deixei que os três me pintassem inteira e perdi um moletom da Gucci avaliado em trinta mil reais. Mas assim, por que diabos eu tinha um moletom que custava trinta mil reais?Eu também não sei, mas sei que hoje ele não me faz falta nenhuma.

Na verdade o que faz falta é a época que eu não me sentia acuada para me aproximar do amor da minha vida.

Nós estávamos na mesma casa, dormíamos na mesma cama, mas não nos encostávamos. Quero dizer, não do jeito que casais costumavam se encostar. E eu entendia totalmente isso, não é como se estivesse buscando por aquilo num momento tão difícil para ela, mas eu também queria ter coragem de tomar iniciativa de abraçá-la e puxar ela pra perto de mim quando íamos dormir.

Eu sempre esperava por ela, e que bom que ela sempre vinha até mim.

Assim como quando éramos casadas, Ohana me buscava a todo momento. Quando estava dormindo, ela batia na cama até encontrar o mínimo de vestígio meu, e se não encontrasse ela já levantava para me procurar.

Quando via ela deitada na cama e acordada, eu já sabia que estava desabando por dentro. Só de ver ela quieta eu já tinha noção do que estava se passando.

(...)

- O que esses olhinhos tem para me dizer? - perguntei me deitando por trás dela e me encolhendo da mesma forma, encostando a lateral do meu rosto no dela

- Sai... - estranhei a recusa depois de tantos dias. Ela colocou a foto da mãe que segurava de volta na escrivaninha e não direcionou o olhar para mim

- Ei? Que foi? - ela não me respondeu nada, apenas se virou e escondeu o rosto no meu pescoço - Benzinho... Você precisa tomar o remédio. Está doendo seu peito de novo?

- Eu vi na sua agenda que você viaja amanhã... Por que faz isso comigo? - eu sorri entendendo

- Como teve acesso à minha agenda?

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