Estava no apartamento esperando Ohana chegar com as crias. Ela não ficaria aqui, obviamente, mas eles sim. Havia combinado de dar o vale night que ela tinha pedido, então pegaria eles nessa sexta-feira.
Dias assim eram sempre temerosos pra mim. Eram dias para cair na real. E não só porque era ela quem iria sair, pois até mesmo quando eu saía isso acontecia.
Não sei contar nos dedos quantas vezes me peguei em direção à baladas parando para pensar sobre a minha vida, e lamentando muito o lugar no qual eu me encontrava.
Em alguns momentos, lembrava da minha avó, de toda a minha família... Do quanto me parabenizaram por ter saído daquilo e ter construído a certeza do meu futuro. Mas lá estava eu mais uma vez.
Eu não podia negar que gostava de tudo aquilo, visto que ninguém me obrigava a frequentar aqueles lugares. Mas também não podia ser falsa. Eu queria a minha família de volta. Eu queria hoje, numa sexta, levar os meus filhos no shopping junto com a minha esposa e não vê-la trazer eles e ir embora viver.
Nós também tivemos muito vale nights juntas, nossas mães sempre que precisávamos e até mesmo quando não pedíamos, pegavam os meninos para que pudéssemos sair.
Na minha galeria ainda existiam as tantas fotos que fizemos numa viagem para a Bahia. Acho que foi o último momento de felicidade que tivemos juntas. Tirando os meninos, claro. Falando como um casal, foi o último.
Já era um momento difícil da nossa relação, mas fomos capazes de esquecer tudo isso para ser feliz naquele lugar.
E como fomos.
É vivo na minha cabeça toda noite a forma dócil como ela me olhou naquelas águas de Salvador, o abraço apertado que me deu. Os beijos. Tudo. Naquele momento eu já não acreditava na possibilidade de ir embora, mesmo sabendo que ela existia.
Mas eu não era tão ingênua. No momento em que a vi secando as lágrimas enquanto me olhava "dormir" eu tive a certeza de que sim, iria embora.
Estava no apartamento enquanto a casa que comprei não ficava pronta, mas conseguia ser bem perturbador. Tinha o cheiro dela nas paredes daquele lugar. Tinha o rosto na minha mente, no meu coração, naquela varanda.
Conseguia entender quando ela dizia que precisava se desfazer da casa. Não aceitava, mas entendia.
Graças a Deus a campainha tocou. Mais cinco minutos sozinha e eu me derramaria em lágrimas.
- Entregues. - a vi sorrir pra mim, me entregando os meninos
- Oi amores da mãe! - beijei o rosto deles que logo correram para dentro da casa - Oi, Ohana.
- Como vai, Larissa? - sorriu de um jeito forçado
- Vou bem, vejo que você também. - falei olhando a roupa dela. Estava absurdamente bonita.
- Que bom... Olha, não sei que horas venho pegar eles, tá?
- Eles vão passar a semana comigo... Quando estiver em casa me fala para que eu possa ir pegar o que falta.
- Tá certo. Vai sair com eles?
- Ohana, pelo amor. - Larissa se incomodou - Para de fazer perguntas que você faria a uma tia distante. Eu sou literalmente a mãe deles.
- Ai, desculpa... Estou meio nervosa. - Larissa estranhou
- Nervosa com o quê exatamente? Não vai dizer que você não quer deixar eles aqui comigo...
- Eu só não queria deixar vocês aqui sem mim. - sussurrou e eu não entendi, quando pedi para que ela repetisse, ela se virou e foi embora
- Pequenos? O que querem comer?