Passado a emoção que a minha revelação e o bendito dente de Maria causou a Larissa, cá está ela dormindo, quando deveria estar se arrumando para participar de uma entrevista. Estava presenciando de perto minha mulher ignorando todas as pessoas que tentavam entrevistar ela, talvez pelo que havia acontecido.
Até que ela resolveu fazer isso com uma jornalista que eu não suporto. Já até imaginava as perguntas que seriam feitas, mas ela tem certa experiência diga-se de passagem, então tudo daria certo.
Tivemos uma noite típica de mães: no nosso mundo no apartamento, mas a todo momento mandando mensagens para minha sogra afim de saber onde estava os meninos, se Theo ainda sentia febre ou se Maria ainda sentia dor na boca.
Não quis pedir para o médico receitar uma injeção, mesmo sabendo que seria tiro e queda, não tive coragem de solicitar. Muita crueldade.
Pode parecer não ser esse o melhor momento para eu e Larissa sairmos de perto deles, mas ela sabe que eu preciso. Tenho passado dias sombrios dentro da minha própria mente, onde tudo que eu quero é viver dentro desse escuro que eu deveria fazer o possível e o impossível para sair.
Foi uma decisão burra da minha parte escolher fingir que a minha mãe não morreu, pois eu não esqueci disso. Me martirizo todos os dias da semana, sempre que acordo choro, e tudo se transforma em algo pior toda vez que acordo na falta deles.
Nessa última semana, acabei por me automedicar na tentativa de dormir a noite inteira e consegui, mas tive certamente os piores sonos da minha vida. Conseguia dormir, mas em compensação tinha muitos pesadelos, muitas coisas das quais eu tinha medo acordada se tornavam reais.
Larissa deixava os meninos ficarem na nossa cama e ela mesma se encarregava em colocar eles na cama depois, então eu sempre dormia primeiro, na presença dos três. Ela notava o quanto aquilo me fazia bem.
Acontece que a cada vez que acordava tarde e ela estava em algum compromisso e eles na escola, sentia o meu chão faltar. Criei um medo surreal em imaginar a vida sem eles.
Talvez esse medo eu devesse ter sentido naquele ano tão turbulento em que nos separamos, mas conseguia entender a minha cabecinha, mesmo ela sendo bitolada.
Essa é a primeira vez que estamos realmente vivendo como família. Algo que nós mesmas nos tiramos alguns anos atrás, mas que agora parecia tão certo.
Me parecia um tanto quanto danoso não fazer janta para eles, não infernizar Larissa a cada cinco minutos perguntando se ela já estava chegando... e ela ainda teve a coragem de dizer que sou menos apegada agora. Talvez ela não tenha ideia do quanto amo e quero ela comigo.
- Estava te deixando pensar, mas confesso que estou começando a ficar preocupada. - me surpreendeu saber que ela estava acordada - Que foi, amor?
- Estava numa linha de raciocínio gigante, mas é engraçado você perguntar justo quando eu estava pensando no tanto que eu te amo. - me virei para a cama e chamei ela para vir até a sacada, mas ela fez cara de preguiça - Vem, a gente fica na rede.
- Daria belas fotos para os paparazzis. - sorriu, os olhos já pequenos agora menores de tanto dormir. - Chega aqui perto de mim.
Não hesitei, fiquei parada na ponta da cama e esperei ela vir até mim. Me abraçou e apoiou o rosto na minha barriga, dando beijos. Com certeza eu estava com uma cara de dúvida gigante naquele momento.
- Não adianta, não tem nada aí e nem vai aparecer. - avisei e ela demonstrou tristeza - Mas pode ter na sua, o que acha?
- Se você fala achando que eu vou ser contra... - deixou claro mais uma vez a vontade que ela tinha de gerar um filho - Algum chance de vir gêmeos de novo?