#4 Gabriel Ramon(Parte 1)

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O ano era 2010

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O ano era 2010. A professora disse para recitarmos uma redação sobre o Dia dos Pais para a sala. O ambiente era bem agradável, com paredes brancas e cadeiras muito confortáveis, que tinham almofadas em vez de serem apenas de plástico. Eu estava meio nervoso, mas era querido na sala porque era filho de um policial. A redação foi sobre ele, o meu herói, que saía todos os dias pela porta sem medo e sempre dizia: "De noite eu volto para continuar a história para você". Depois que eu li a redação, fui aplaudido e ganhei um 10 naquele dia.

Quando cheguei em casa, corri direto para mostrar minha nota à minha mãe. Ela ficou orgulhosa e resolveu fazer minha comida favorita, macarronada. Enquanto a TV estava no jornal, eu estava na mesinha da sala desenhando, até que apareceu uma notícia na TV: era uma foto do meu pai. Eu saí correndo e gritei para minha mãe. Ela correu rapidamente para a sala, e aquele sorriso de ambos logo se desfez. 

"Policial Felipe Ramon morre baleado protegendo uma mãe e seu filho."

Minha mãe se sentou no sofá, tremendo, e em seguida desabou em lágrimas. Eu a abracei para confortá-la. Dias depois, fomos ao enterro. Toda a família e amigos policiais estavam lá. Até a mãe que ele salvou estava lá, e ela fez um discurso agradecendo pelo ato de bravura dele. Minha mãe estava limpando as lágrimas, mas eu não chorava por nada. Não é porque eu sou insensível; é porque agora eu era o homem da casa e não podia mais chorar. Eu nunca via meu pai chorando por nada, então vou ser homem e seguir os passos dele.

Como era o meu pai que pagava a minha escola, eu e minha mãe saímos de Salvador e voltamos para a cidade onde ela nasceu, Candeias. Lá era completamente diferente: não tinha prédios enormes, nem muitas movimentações de carros, trânsito e barulho. O lugar era calmo, diferente da cidade, e eu tive uma boa primeira impressão. Eu e minha mãe fomos para um bairro chamado Urbes 2, para a casa da minha avó. Era uma casa simples, diferente da nossa. Nós costumávamos passar os feriados lá antes, então era praticamente a minha segunda casa.

Na semana seguinte, fui estudar na mesma escola que minha mãe frequentou. A farda era laranja e até bem bonita. Como eu não tinha cortado o cabelo, fui de boné laranja mesmo. Não vou negar que estava com muito medo; era um lugar novo, eu não tinha amigos lá, e minha popularidade, que era ser filho de um policial, não existia. Eu era apenas Gabriel Ramon, o novato. Quando entrei, passei o cartão na catraca e não apareceu ninguém para me dizer onde era a minha sala, então tive que me virar. Eu perguntaria para alguém, mas sou muito tímido. Vi um garoto, ele era magricelo e usava óculos redondos, e estava abraçado com a mochila do Dragon Ball dele. Fui lá e puxei assunto, pois também assistia a esse desenho. Eu sei que o nome é anime, mas na época tudo era desenho para mim. Ele me mostrou uns desenhos legais que fazia; eram melhores do que os meus decalques de outros desenhos. Falei isso para ele e nós rimos juntos.

No intervalo, acabamos reunindo uma galera que também curtia anime. Eles tinham umas cartinhas; eu não trouxe as minhas naquele dia. Fizemos a brincadeira do bafo, que funciona assim: as cartas ficam de cabeça para baixo, então a gente bate com a palma da mão e tenta virá-las. Eu era muito bom nisso e peguei todas as cartas. Mas, do nada, os outros saíram correndo, só sobraram eu e o magrelo. A figura que os assustou era grande e gorda, usava um casaco preto com um desenho de um cachorro e tinha um brinco em forma de pata de cachorro. O nome dele era Valentim, e nós dois levamos uma surra dele e ele pegou nossas cartas.

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