#9 Bruno e Breno

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No ano de 2011, em um beco estreito e mal iluminado de Candeias, os ratos corriam apressados pelos cantos sujos, em meio a sacos de lixo rasgados e poças de água fétida

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No ano de 2011, em um beco estreito e mal iluminado de Candeias, os ratos corriam apressados pelos cantos sujos, em meio a sacos de lixo rasgados e poças de água fétida. Bruno foi arremessado com força contra uma lata de lixo amassada, seu corpo colidindo com o metal antes de desabar no chão sujo. O garoto estava coberto de machucados; o rosto inchado e marcado por hematomas. Enquanto tentava se levantar, um garoto mais velho se aproximou e o chutou sem piedade, fazendo-o gemer de dor ao impacto. Nas saídas do beco, outros garotos mais velhos montavam guarda, atentos a qualquer sinal de movimentação, garantindo que ninguém os interrompesse. O garoto grande deu um último chute em Bruno antes de se afastar, seguido pelos outros garotos que vigiavam a saída do beco. Tremendo e com o corpo dolorido, Bruno se esforçou para se levantar. Mancava em direção à sua mochila, que estava aberta no chão molhado. Seu material escolar estava encharcado e sujo, e sua carteira, que antes guardava os dez reais que ele tinha, agora estava vazia. Com os dedos trêmulos, ele recolheu suas coisas, colocando tudo de volta na mochila de qualquer jeito.


Ainda zonzo, ele começou a caminhar mancando em direção à longa ladeira que teria de subir até a casa de seu tio. A subida parecia interminável, e a dor crescente em seu corpo enfraquecido o obrigou a parar. Ele se sentou no chão, exausto e derrotado, sentindo o peso do sofrimento desde que seu irmão havia ido embora para Salvador. Desde a quarta feira apanhando dos garotos mais velhos sem saber como revidar ou escapar da violência diária. Suas notas baixas o impediam de faltar à escola, e a única escolha parecia ser suportar as surras até que, eventualmente, o deixassem em paz.


Quando finalmente chegou em casa, sua tia o viu naquele estado deplorável e correu para ajudá-lo. Com o olhar preocupado, ela o conduziu até a mesa da cozinha e começou a cuidar dos ferimentos no rosto de Bruno, colocando curativos e limpando o sangue seco. A cada toque cuidadoso de sua tia, Bruno sentia a dor do corpo se misturar com a dor da alma, num silêncio amargo e pesado que preenchia o ambiente.


- Amanhã eu vou até a sua escola ver isso.

- Não tem como, tia. O que tá acontecendo é fora da escola.

- Então isso virou caso de polícia Bruno, você só chega machucado em casa e sem dinheiro.

- Eu resolvo do meu jeito, tia.

- Eu vou ligar para a Carol, isso já foi longe demais.


Depois de cuidar dos ferimentos, a tia de Bruno se retirou e foi até o telefone, e ele subiu as escadas com passos lentos e doloridos até o seu quarto. Sem forças, jogou a mochila para o lado e se deitou na cama, esperando que o sono trouxesse algum alívio, ainda que temporário, para a humilhação e dor da surra que havia levado.


No dia seguinte, Bruno tentava sair da escola sem chamar atenção, traçando rotas estratégicas que, na sua mente, o manteriam longe dos garotos que o perseguiam. Mas, como se o destino estivesse sempre um passo à frente, eles o encontraram de novo. Os garotos pedalavam furiosamente atrás dele, enquanto Bruno tentava correr, ainda mancando da última agressão. Seus movimentos eram lentos e dolorosos, e em pouco tempo um dos garotos o alcançou, puxando sua mochila com força e o derrubando no chão. Bruno caiu de bruços, protegendo o rosto com os braços, esperando a violência que se repetia. Mas, em vez dos golpes esperados, o que ouviu foram gritos de surpresa e corpos caindo ao seu redor.

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