#21 Valentim

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Em 2009, tava lá eu, no oitavo ano, estudando na escola Ouro Negro

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Em 2009, tava lá eu, no oitavo ano, estudando na escola Ouro Negro. Pra voltar pra casa, tinha que encarar uma ladeira filha da mãe. E eu já era gordo, quer dizer, continuo gordo até hoje, fazer o quê. Aí, um dia, subindo aquela ladeira infernal, eu dei de cara com um cachorrinho. Ele era um vira-lata todo desajeitado, com o pelo meio sujinho e uns olhinhos que pediam ajuda, sabe? Tava com uma patinha quebrada, coitado. Fiquei com pena e resolvi levar o bichinho pra casa.

Quando toquei a campainha, já dava pra imaginar o que ia rolar. Lá em casa já tem dois cachorros, então meu pai já começou a implicar, falando que não tinha espaço nem comida pra mais um. Eu, teimoso, rebati logo, falando que dava sim, que sempre dava pra mais um. Só que ele não me deixou entrar enquanto eu não largasse o cachorro. Fiquei ali, plantado na porta, na esperança que ele cansasse e me deixasse entrar. O azar foi que era hora do almoço, e ele sabia que eu não ia segurar muito tempo na fome. Aí meu irmão, o Eduardo, abriu a porta pra mim com uma caixa de primeiros socorros pro cachorro. Ali mesmo, na porta de casa, já fomos colocando os curativos no bichinho. No pátio, nossos outros dois cachorros tavam na maior farra. O primeiro é o Trovão, o meu cachorro, um pastor alemão grandão, meio bobo, mas acha que é o dono da casa. O segundo é o Pipoca, o cão do Edu, um vira-latinha pequeno, todo serelepe, que não para quieto e fica pulando igual pipoca mesmo. E o nosso terceiro, a gente o chamou de Rex, não tínhamos muita criatividade na época.

Minha mãe trocou uma ideia com meu pai e, depois de muita conversa, ele acabou deixando a gente ficar com o novo cachorro, mas avisou que esse era o último, ponto final. Fiquei amarradão, porque, pra ser sincero, nunca fui de ter muitos amigos, tirando meu irmão Eduardo, que estuda em outra escola. Sempre fiquei quieto no meu canto, ninguém mexia comigo, eu também não mexia com ninguém. Só que em 2010 isso virou de cabeça pra baixo: fui estudar no CENSC, que era a escola antiga do meu pai. Lá no Ouro Negro, já era um sufoco subir uma ladeira, mas agora eram duas! E como se já não bastasse, antes eu era invisível, agora virei alvo de bullying.

O cara era o líder cavalo, se chamava Marcelo, e não perdoava: todo dia me batia e roubava meu dinheiro ou o meu lanche. "Tu tem muita gordura, nem vai fazer falta," ele soltou uma vez, quando voltei pra casa todo arrebentado. Meu pai, vendo meu estado, falou que ia me colocar no muay thai. Eu topei na hora, tava cheio de raiva acumulada, e o muay thai foi a saída pra eu descarregar tudo isso. Eu conheci uma colega que me ajudou muito nos treinos, o nome dela é Lana Larsen, a atual líder tigre. Só que depois de um tempo, e com uns papos com ela, eu saquei que só ser forte não adiantava: o Marcelo era líder, ele tinha poder e fazia o que bem entendia. Então decidi que eu ia virar um líder também!

Acabei lutando com um cara que era o líder cão. Eu nem tava ligado nesse lance de ranking, mas depois dessa luta acabei subindo pro top cinco e, pra minha surpresa, fiquei acima do Marcelo. Só que não mexi com ele, porque tem uma regra: os líderes não podem lutar entre si. Mas isso me fez sacar uma parada, e um líder da época me disse: "se você é o mais forte, você pode tudo". No mesmo ano, eu tava naquela febre de colecionar cartinhas, mas grana era pouca. Foi aí que usei meu status de líder pra conseguir as figurinhas que queria: pedia pros outros alunos, e a maioria se recusava a trocar de cartas comigo. O que restava era partir pra violência mesmo. Eu era o líder, tava acima deles, e aqueles fracos não podiam fazer nada. Só que teve um que foi diferente, um que teve a coragem de me enfrentar: Gabriel Ramon. Não tem como esquecer o cara que quase me derrotou.

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⏰ Última atualização: a day ago ⏰

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