dez

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- Tem alguma pergunta que eu possa te fazer, que você não me responda com "longa história"? - perguntei e Michael riu abrindo uma lata de refrigerante.

- Pergunte sobre mim, não minha vida e tudo fica bem. - neguei com a cabeça e sorri.

- Não é possível, você deve ter matado alguém. - Michael riu abertamente abrindo outro pacote de bolachas.

- Não cheguei a esse ponto. - brincou. Mordi meu piercing tentando ao máximo não o bombardear com perguntas, eu queria perguntar tanta coisa, mas ele provavelmente não vai me responder, como sempre faz. Não tenho culpa que sou uma pessoa curiosa.

- Então foi preso? - Michael me encarou e começou a gargalhar. Eu contei alguma piada por um acaso?

- Eu não sou nenhum tipo de criminoso ok? - dei de ombros, fazendo tanto mistério desse jeito deve de ser.

- Vai saber, você é todo estranho. Mas se bem que com esse cabelo rosa, você parece incapaz de matar uma mosca.

- Eu sou muito perigoso ok? - o encarei e ele tentou parecer ameaçador, mas na verdade ficou mais parecido com um filhote de gatinho raivoso.

- Se você quiser parecer punk, não faça essa cara e não pinte o cabelo de rosa. - aconselhei enquanto abria a embalagem de uma barra de chocolate.

- Nah, eu não quero, nem crianças me acham intimidador então seria uma coisa muito difícil. - Michael deu de ombros. - na verdade as crianças me amam, sabe, o meu cabelo. - ele apontou pro próprio cabelo e eu ri, roubando a latinha de refrigerante das suas mãos e bebericando. - Por que decidiu sair comigo?

- Pra mudar a imagem que você tem sobre mim. Não quero que me ache um cara insuportável. - confessei.

- E por que se preocupa com isso? - eu agradeci por estar escuro e ele não poder ver minhas bochechas coradas.

- Eu não sei.

- Não penso coisas ruins sobre você. Só agi feito um babaca impulsivo como sempre, me desculpa- assenti, encarando toda aquela água na minha frente. - se importa? - ele perguntou tirando um cigarro do bolso e eu apenas neguei com a cabeça. Afinal, não é a mim que isso vai fazer mal mesmo.

Ele tragava devagar enquanto estávamos em silencio. Acho que inconscientemente ele se aproximou de mim e eu pude sentir seu cheiro, que apesar do cigarro, naquele momento estava agradável. Era uma mistura do cigarro, colonia masculina e um tanto adocicado, por conta de todo aquele doce que estava a nossa volta.

- Você me surpreendeu - comentei.

- E olha que eu nem tentei. - ele se gabou e eu o empurrei. - o que te impressionou tanto docinho? - ele jogou o cigarro fora, colocando um pedaço de chocolate na boca.

- Como o que? Cara olha esse lugar, é lindo.

- Olha pra cima.

- O quê? - questionei um tanto confuso.

- Olha logo. - ergui o olhar e entendi o que ele estava falando. Eu nunca vi um céu tão estrelado e lindo, a lua estava tão bonita e mesmo sem iluminação naquela margem, a claridade vindo daquele céu estrelado já era o suficiente para projetar nossas sombras na areia.

- É lindo - murmurei.

- Se importa se deitarmos na areia? - apenas neguei com a cabeça e o segui, tiramos os sapatos e deitamos na areia e por ser uma margem pequena, vez ou outra a aguá batia em meus pés me causando arrepios - E ai, como está os planos pra faculdade? - Michael quebrou o silencio e eu o encarei, um tanto surpreso com sua pergunta e não algum comentário idiota ou sarcástico no lugar dela.

- Não está, eu no momento estou tentando guardar dinheiro pra comprar um apartamento pequeno pra mim, porque pagar aluguel e mensalidade da faculdade é muito, eu não consigo. - ele me olhou e mordeu os lábios.

- Sinto muito. - assenti. - e se você tentasse uma bolsa de estudos?

- As faculdades que oferecem bolsa de estudos do curso que eu quero não tem na cidade, na verdade me mudei pra cá porque a melhor faculdade de Medicina da região... fica aqui. - Michael voltou a ficar em silencio. - e você? Sabe...

- Não precisa explicar tudo bem. - ele riu. - digamos que eu tenho uma boa herança. - ele desviou o olhar e eu me senti culpado.

- Sinto muito.

- Tudo bem docinho.

- Por que me chama assim? - Michael riu e voltou a me olhar.

- Você é doce, pelo que mais seria?

- Eu não sou não. - reclamei.

- Como não? Você não fala palavrões, está sempre sorrindo, se preocupa com as pessoas e é gentil com elas, eu te infernizo todo dia e mesmo assim você ainda não me deu um belo tapa na cara e apesar de tudo está aqui comigo e sendo legal, se isso não é ser doce eu não sei o que é.

- Obrigado?! - disse mais como uma pergunta.

- Apenas a verdade. - Michael riu sem graça.

Tirei meu celular do bolso e desbloqueei a tela... Meu Deus! Já são quase dez horas.

- Quer que eu te leve embora?

- Eu trabalho amanhã cedo. - expliquei.

- Tudo bem, só vamos recolher aquelas coisas. - levantei e tirei toda aquela areia da minha roupa e ajudei Michael a recolher todas aquelas sacolas, não me importei em colocar meu sapato.

Caminhamos de volta até sua moto, ele me ajudou a colocar o capacete e então subimos.

Segurei em sua jaqueta e ele deu partida. As ruas estavam quase vazias por conta do horário.

Quando chegamos na cidade, eu o expliquei como chegar até minha casa, então em poucos minutos ele estacionou em frente a minha casa.

- Obrigado por sair comigo. - ele agradeceu.

- Obrigado por me levar em um lugar tão bonito.

- Até amanhã docinho. - acenei e virei, entrando em casa e correndo até meu quarto.

Eu só quero dormir no momento. Eu preciso de uma boa noite de sono para digerir esse meu quase encontro com o cara do cabelo de algodão doce.

Cigarettes ** MUKEOnde histórias criam vida. Descubra agora