trinta e sete - Frank

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Michael pra mim é o filho que nunca tive o prazer de ter.

Eu o encontrei perdido nas ruas quando o mesmo tinha apenas 15 para 16 anos, perdido não do tipo morador de rua, ele estava realmente perdido, sozinho, perambulando por ai mais drogado do que se lembrava.

Me lembro da cena como se fosse ontem. Eu tentei me aproximar porque ele parecia perdido em meio a uma rua movimentada por entre os carros, eu tentei me aproximar mas ele gritou comigo e me estapeou, estava muito assustado. Eu o puxei pelo braço até a calçada e então ele simplesmente me abraçou em prantos, aquilo me partiu o coração. Tão jovem e tão perdido.

Seja lá quem fosse o responsável por ele na época não parecia dar a mínima para o garoto, já que ele passou quase uma semana na minha casa, parecendo se esconder do mundo exterior. Chorava a maior parte do tempo, eu tinha medo de o deixar sozinho já que da única vez que o fiz ele fugiu por algumas horas e fez coisas que realmente não devia, quando voltei pra casa ele estava apagado no chão da sala e eu nunca senti desespero maior em toda minha vida do que naquele momento.

Dias depois Michael me contou sobre o falecimento de seus pais em um trágico acidente poucos meses antes, a pessoa que os advogados de seus pais deixaram responsável pelo garoto no final das contas parecia não ser tão responsável assim.

Entrei em contato com os responsáveis legais de Michael reivindicando sua guarda, os Hood's, família de Calum amigos de longa data dos Clifford's tinham consciência do estado deplorável do garoto e após muitas perguntas a minha pessoa apoiaram a ideia de eu ter a guarda do garoto e me ajudaram em todo o processo.

Foram meses e meses na justiça, eu vendo Michael se afundar cada vez mais, eram raros seus momentos de sobriedade e ninguém parecia dar a mínima pra isso.

Depois de muito tentar eu consegui. Eu era um cara solitário que agora teria a companhia de alguém que eu amaria como meu próprio filho, nunca quis tomar o lugar dos pais de Michael, meu único desejo era ser o porto seguro que naquele o momento o garoto não tinha. Eu o buscava de madrugada jogado pelas ruas sem se lembrar do próprio nome, consertava o estrago que ele causava ao se meter em brigas, passava noites em claro com ele até que se acalmasse e conseguisse dormir. No começo era difícil, Michael já não era mais uma criança e eu não tinha como o obrigar a ficar em casa, desaparecia sem avisos, fugia de casa.

Com ajuda financeira de sua herança levei Michael a clinicas específicas, infelizmente tive que o internar por alguns meses, suas crises de abstinência não estavam ao alcance da minha ajuda, um leigo no assunto, tinha medo que se agisse sozinho acabasse piorando a situação.

Quando voltou pra casa convenci Michael a terminar a escola. Ele morou comigo durante alguns anos, um tanto recluso e calado em relação as outras pessoas, porém agora sóbrio e um verdadeiro doce de pessoa com todos aqueles que o conheciam verdadeiramente.

Michael implorou durante meses pra que eu o deixasse morar sozinho, neguei por ainda ter receio de o deixar sozinho.

Os Hood's se mudariam, porém o mais novo permaneceria na cidade por conta de seus estudos, cursava pedagogia. Como solução para ambos os problemas Calum e Michael passaram a morar juntos. Eu sempre confiei muito em Cal e tive a plena certeza de que poderia cuidar de Michael.

Mais tarde Ashton se juntou aos dois, era amigo de Calum, se conheceram na faculdade, aquilo me deixou ainda mais seguro com toda a situação,  ambos trabalhavam, porém com aulas particulares. São rapazes dedicados e responsáveis que têm um carinho por Michael tão grande quanto o meu.

Tudo estava indo bem, até Michael fugir.

Deixou apenas uma carta alegando que precisava de um tempo pra si, precisava se conhecer melhor e colocar a cabeça no lugar, mas com todo seu histórico aquilo meu preocupou.

Michael ficou sumido por um ano e seis meses, me ligava eventualmente e aquilo acalmava um pouco meu coração de pai preocupado. Eu não sou tolo e sei que Michael passou por problemas durante esse tempo. O meu conforto foi Luke, o rapaz que apareceu na lanchonete certo dia praticamente implorando por um emprego.

Ganhou meu coração tão rápido quanto os outros três garotos. Quando Michael voltou ganhou o coração do mesmo ainda mais rápido e eu sempre torci pelos dois, Luke tem toda a segurança da qual Michael precisava.

Mas isso não pareceu ser o suficiente, sua insegurança falou mais alto como antes e eu vi Michael desmoronar aos poucos mais uma vez sem poder fazer absolutamente nada, Michael não escutou sequer uma palavra minha e dos próprios amigos, alegou ter tudo sob controle e não ser mais o mesmo drogado de antes. A verdade é que ele parecia ainda pior. Michael estava quebrado e parece que é a vez de Luke ser seu porto seguro.

Mas eu tenho medo, após quebrar e remendar uma mesma peça tantas vezes as chances das coisas funcionarem como antes são pequenas.





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Frank quer o mundo? Eu te dou.

Cigarettes ** MUKEOnde histórias criam vida. Descubra agora