Decair: "Fingimento?" - XII

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Meu despertador não tocou essa manhã.

Acordei em pânico depois que eu vi o céu mais claro do que de costume, levantei correndo enquanto vestia minha calça. Acordei com umas trocentas mensagens de Ametista e Lápis. O que mais me assustou foi as de Lápis, ela quase nunca mandava mensagem.

"Faltou por quê??"
"Respondee"

Engoli em seco, enquanto escovava meus dentes apressadamente, colocava minha mochila atrás das costas e saia correndo pela porta. Coloquei o celular no bolso, sem nem responder ou nada.

O resultado dessa correria foi chegar na porta da escola ofegante, entrando na sala rapidamente para me sentar na minha mesa. O professor me deu uma bronca.

- Poderia ter chegado mais cedo, Collins.

- Desculpe, professor. - abaixei a cabeça.

Senti o olhar das duas me fuzilando, mas ignorei. Decidi prestar atenção na aula até o sinal tocar. Senti internamente que seria meu fim enquanto descia as escadas.

- Poderia ter chegado mais cedo, Collins. - Lápis tocou meu ombro, imitando a voz grossa do professor.

Estávamos andando para a mesa barulhenta de sempre, mas Lápis me parou no meio do caminho.

- Meu despertador não tocou. - expliquei, mesmo sem um pedido, coçando a nuca.

Ela riu, parecendo não acreditar, mas não falou mais nada. Assentiu com a cabeça, sentando-se no meio da mesa barulhenta.

Sentei ao lado de Ametista.

- Foi realmente o despertador? - ela me olhou.

- Foi sim. Acho que ele quebrou de tanto que já caiu no chão.

- Pensei que sua mãe tinha te colocado em cárcere privado.

- O que? Não! - ri - Mas creio que ela já tenha pensado nisso.

- Lápis estava quase entrando em pânico.

Franzi o cenho por um momento, confusa.

- O que? Por quê?

- Sei lá, pergunta pra ela. - deu de ombros, comendo um biscoito.

- Eu não.

Eu acabei por tirar toda a minha atenção da mesa, olhando pra um canto fixo, sem dizer nada enquanto colocava meus fones.

A verdade era que eu tava com medo. Medo de tudo que está acontecendo e isso, estranhamente, envolvia Lápis. Tudo parece tão frágil e pequeno entre nós duas, como se fôssemos estranhas que na verdade nos conhecemos mais do que outro estranho qualquer. As vezes temo que qualquer assunto que eu toque sobre nós duas no passado acabe destruindo o que estivemos reconstruindo.

Maratonar aqueles dois filmes com ela e Ametista foi incrível, ela até cochilou em meu ombro. Ametista zoou com a minha cara, mas eu decidi ignorar. Foi simples, mas senti ser significativo. Mas por quê? Por que eu tenho receio dos meus próprios passos quando estou com ela?

Lápis é tão difícil de decifrar. Suas emoções, suas palavras, não são mais visíveis pra mim como já foram. Aquela garota era como um mistério. Eu queria poder entender como eu entendia antes, mas quem está no meu lugar agora é outra pessoa.

E se voltarmos a ser estranhas de novo?

Acordei de meus desvaneios o mais rápido possível. Aquilo não me levaria pra lugar nenhum além das paranoias irreais.

A roda dessa vez falava sobre a fofoca de Aquamarine e seu relacionamento, especulando e rindo. Achei meio desconfortável. A garota até faltou pra não ter que aturar essa gente chata. Eu faria o mesmo, não tenho psicológico pra pressão e muito menos pra um monte de gente em cima de mim perguntando coisas pessoais.

Decay - Lapidot (AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora