Decair: "Todo mundo erra II." - XIV

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Acordei de novo, atrasada, pela sétima vez essa semana. Juro, eu não sei o que tá acontecendo comigo. Peridot, a estudante que sempre teve tudo sob controle, agora não consegue nem sair da cama na hora certa. Me arrastei até o banheiro, tentando entender onde foi que eu me perdi.

Enquanto escovava os dentes, olhei para meu reflexo no espelho. Me perguntei o que está acontecendo para mim mesma. Eu realmente precisava conversar com alguém sobre isso, mas com quem? Os dias estão acabando comigo aos poucos.

Steven? Ele sempre tem um jeito de fazer as coisas parecerem menos complicadas. Mas ele já tem tantos problemas para resolver... E, além disso, eu não quero que ele pense nada além do que precisa.

Ametista? Ela provavelmente só vai rir e dizer pra eu relaxar, o que até seria bom, mas não sei se resolveria o meu problema.

Pérola? Poderia até ter algum conselho útil, mas tenho qua
quase a certeza de que ela ainda pensa que eu odeio Lápis. E isso só complicaria as coisas mais ainda.

Falar com a Lápis diretamente? Não... Definitivamente não.

Saí do banheiro, ainda meio zonza, e fui em direção à cozinha. O sol já estava alto e eu sabia que no meu celular deveria ter milhares de mensagens de Lápis, que provavelmente pela hora, estava na aula de sociologia. Eu precisava encontrar uma maneira de resolver isso, de entender o que estava acontecendo comigo.

Talvez, só talvez, eu precise admitir para mim mesma que não tenho tudo sob controle. E talvez, só talvez, seja hora de pedir ajuda.

Desci as escadas apressadamente, com a mochila nas costas. Meus passos pararam no momento que vi minha mãe sentada na mesa, tomando um café enquanto escrevia no tablet, provavelmente algo sobre trabalho. Ela parecia tão absorta na escrita que não percebeu minha entrada até eu me sentar ao seu lado. Eu já tinha me acostumado com o fato de que estava atrasada.

- Bom dia. - ela disse, sem nem ao menos me olhar, antes de tomar mais um gole do seu café na caneca escrita: "a melhor mãe do mundo."

A melhor mãe do mundo? Não sei, não, mãe.

Eu olhei para a caneca depois para ela.

- Feliz aniversário. - dei um sorriso pequeno, antes de pegar sua caneca e tomar um gole de café.

Eu a vi levantar seus olhos e franzir o rosto, largando a caneta encima do tablet e bater na mesa.

- Peridot! - ela gritou.

- O café está uma delícia, mãe! - ri, deixando a caneca na mesa.

Ela parou por um momento, me olhando com aqueles olhos claros e mortais. Que medo. O sorriso não escapou dos meus lábios. Minha mãe não aguentava bom-humor, era como se odiasse isso. Eu não poderia perder a chance.

- Tem sorte de hoje ser um dia importante. - se sentou de novo, colocando um braço apoiado na mesa e a mão na testa, voltando a escrever.

- Ah, não brinca. - levantei uma sombrancelha. - Vou indo. Falou!

Virei de costas e batendo a porta antes de sair.

Minha relação com minha mãe é meio complicada. Não que a gente não se ame, claro, mas ela é mais fechada e ausente do que eu gostaria. Isso não é porque eu cresci, ou porque eu já não sou mais uma criancinha que busca a atenção dela, sempre foi assim. Ela faltou várias das minhas apresentações na escola, me esqueceu várias vezes na escola e nunca pediu desculpas por nenhuma dessas coisas. É claro que ela não vai pedir desculpas, ela é minha mãe, e a minha mãe não pede desculpas, nem ao menos de esforça.

Decay - Lapidot (AU)Onde histórias criam vida. Descubra agora