Decay - Lapidot (AU)

Decair: "Todo mundo erra I." - XIII

  Passei o sábado e o domingo trancada em casa, sem sair, sem conversar tanto, sem nenhuma festa. Confesso que senti falta de um convite para algo, mas ele nunca veio. Conversei um pouco com Ametista, com Pérola e Steven nesse fim de semana. Ouvi música o dia todo, andando pela casa enquanto minha mãe não estava. Ela trabalhou no sábado o dia todo. Eu a ouvi chegar quase 10:00 horas da noite. Não digo que fiquei preocupada, ou que mesmo notei ausência, mas senti seu cansaço. Notei seu cansaço depois de ter que dormir de fone de ouvido de tanto que ela roncou.

  No domingo, Ametista disse que havia comprado mais um CD de um filme. Ela falou que parecia legal, mostrava uma história pesada e era para maiores de dezoito anos. Me pergunto onde ela acha essas coisas.

Lápis: PARA +18?? Não sei se é uma boa ideia

Pérola: Quero saber como você viu que isso é uma boa ideia

Ametista: mas gente,  não tem nada demais

Lápis: Como você sabe? Você viu??

Ametista: clr que não né, eu vou ver com vocês suas burras

Eu tenho medo do seu "dboas"

Lápis: Pois é

  E sobre Lápis? Nada falamos desde a sexta. Não que houvesse algo a ser dito agora, mas eu não via a hora de finalmente poder dizer algo. Haveria um momento que nós duas conversariamos, mas quando?

  Hoje, na segunda, Lápis não mencionou nada desde então, e eu não sei se isso é um bom ou mau sinal. Cada vez que penso em falar com ela, minha mente fica em branco. Sinto um receio que de mim não é normal, meus batimentos aceleram. Quero explicar, quero que ela entenda, mas o medo de dizer algo errado me paralisa.

  Talvez eu esteja exagerando, mas talvez ela não tenha dado tanta importância àquele momento.

  Precisei tirar isso da minha cabeça por pelo menos uma hora para então conseguir me focar na aula. Ametista tagarelava sobre o filme que ela comprou e que hoje, exatamente hoje, queria ver com a gente. Falamos disso com Pérola no intervalo e ela aceitou sem nenhuma reclamação. A primeira coisa que recusei foi a ideia de verem na minha casa.

  Eu rabiscava na folha do meu caderno enquanto pensava em algo que diria caso Lápis viesse falar comigo no intervalo. Foquei nos barulhos ao meu redor por um tempo. O som da voz grave do professor, o lápis rabiscando a folha, o passar de páginas. O que eu diria para ela, afinal?

  Às vezes eu penso demais no que eu quero dizer – e normalmente a conversa nem acontece – e acabo me perdendo no real foco que eu deveria ter. Percebi que a aula passou em um piscar de olhos, e em outro piscar de olhos eu já estava naquele mesa barulhenta, ouvindo música nos meus fones enquanto mastigava um biscoito.

  Surpreendente, minha mãe fez biscoitos para eu levar. Ela disse que estava de bom-humor e viu um vídeo de receitas. Tenho quase a certeza que o motivo é porque o aniversário dela está chegando, e eu já vejo a minha casa toda cheia de adultos bebendo e conversando alto.

  — Sabe uma coisa que eu descobri? — sua voz ecoou no meu ouvido quando andávamos para a saída.

  O tempo passou mais rápido que eu pensei, quando vi já estava na saída, mexendo nas cordinhas da minha mochila apressamente.

  — O quê? — perguntei, tentando disfarçar minha curiosidade e um pouco de nervosismo.

  — Vi Olhinho chorando no banheiro hoje. Estava pensando sobre a relação das duas e, completamente, é tão ruim quando imaginei.