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A alemã olhava no espelho pela última vez, havia arrumado a gola de sua camisa e passado perfume, seus passos foram até a sala, onde sua mãe e avó estavam.

- O que acham? - Elisa disse girando em seu próprio eixo. - Está ruim?

- Você está linda! - A alemã ouviu de sua avó. - Vai naquele aniversário?

- Sim, acho que volto logo. - Elisa disse e viu sua mãe se levantar, caminhando até ela.

- Você está maravilhosa, meu amor! - Maitê disse e ajeitou a manga da camisa de Elisa. - Não precisa se preocupar com horário, sei que você sabe se cuidar, só vai me avisando, tá bom?

- Pode deixar. - Elisa disse e sentiu um beijo em sua testa. - Você acha que eu passo perfume mais uma vez?

- Não, Elisa, você está ótima. - Um sorriso estava estampado nas três mulheres da sala.

- Você tá indo lá pra ver alguém em especial? - Sua avó disse e Elisa sentiu seu rosto queimar. - Você está namorando?

- Não, vó. - Elisa disse e via sua mãe rir. - Só uma amiga minha, não conheço muitas pessoas de lá.

- Amiga, mas amiga mesmo? - Helena disse e recebeu um barulho de repreensão da própria filha. - Só quero saber!

- Amiga, alguém gente boa que me aproximei faz pouco tempo. - Elisa disse e deixou um beijo na testa de ambas mulheres. - Amo vocês, estou indo, qualquer coisa me liguem.


Assim que Elisa desceu do Uber sentiu suas pernas bambearem, em uma das mãos tinha seu presente para a cacheada e na outra segurava firmemente o convite que teria que apresentar. Ela caminhou sobre um lindo tapete e observava atenta todos os cantos, ela se sentia um animal silvestre em uma civilização. Eram milhões de questões em sua mente, sua roupa estava boa? Ou estava exagerada? Ou pior simples demais? Ela deveria ter trazido o presente de Maísa? Ela querer dá-lo em outra ocasião era errado? Ela estava errada em estar ali?

- Boa noite. - Uma voz grave soou ao seu lado e Elisa olhou rapidamente. - Você está fazendo o que aqui? - O homem alto e vestido completamente de preto disse. Elisa podia confirmar que desmaiaria.

- Fui convidada pro aniversário da Maísa, estava procurando a entrada. - Elisa disse estampando seu sorriso mais simpático no rosto e mostrando seu convite rapidamente.

- Garota, você precisa aprender a mentir melhor. - O segurando disse. - Não posso te deixar entrar. - Ele observava o papel em suas mãos com um sorriso irônico nos lábios, Elisa abaixou o olhar e viu que sua mão havia suado tanto que parte do convite havia sido danificado. Porra de ansiedade, pensou a alemã.

- Eu tô falando sério, vocês não tem uma lista de convidados ou algo do tipo? Tenho documento aqui. - Ela disse e ele negou.

- Temos lista, mas também precisamos do convite, sabe como é, né? Festa cheia de famoso, sempre tem uma garota fingindo ser convidada. - Ele disse e um casal parou ao lado da garota, estenderam os convites e o homem logo os liberou.

- Então, não tem como você chamar a Maísa? - Elisa disse e ele respirou fundo.

- Garota, você tem que ir embora, vai por bem, se não vou ter que chamar o pessoal pra te tirar. - Ele disse sério, Elisa respirou fundo, ela havia prometido a cacheada que iria vê-la.

- Por favor, moço, só chama ela um segundo, nem precisa me ver, só fala meu nome e explica a situação. - Elisa implorou pro homem que negou.

- Você não é amiga dela? Manda mensagem pra ela. - Ele disse sarcástico e voltou a atender os outros convidados. - Agora vai, vaza. - Elisa saiu caminhando e se sentou na sarjeta da festa, agradeceu por sua calça ser preta. A garota tentou mandar mensagem para a cacheada. Foram um, duas, três... dez... vinte mensagens, nenhuma respondida. Ligar pareceu a resolução, três vezes foram suficientes para Elisa desistir, ela sabia que Maísa não estava com o celular.

Elisa se culpava. Culpava todo seu nervosismo, sua cabeça em não ter pensado nessa única chance, culpava qualquer coisa que poderia ter feito chegar nesse resultado. A garota se levantou, limpou sua calça e respirou fundo. Era a última tentativa.

Seu dedão pressionou o botão de ligar, ela ouviu um toque, dois, três e afastou o telefone para desligar. Ela não podia acreditar que deixou dar errado dessa forma.

Enquanto isso, Maísa dançava, cantava e bebia no salão de festas, a garota nem se lembrava que seu celular existia, seus amigos e familiares estavam ali e estavam fazendo ser perfeito. Mesmo que algo faltasse.

- Cadê a alemã? - João disse assim que Maísa se aproximou dele e de Bruna, sua namorada.

- Não sei, não chegou ainda. - Ela sorriu sem jeito.

- Não fica triste se ela não vier, as pessoas podem ser babacas e não percebemos. - João disse e Maísa respirou fundo, a garota se lembrou da conversa em seu apartamento, Elisa não teria coragem de simplesmente sumir após elas conversarem sobre consideração, ou teria?

A cada hora que se passava e Maísa se lembrava que Elisa não estava ali, era como se um soco no estômago de Maísa ocorresse, mesmo que ela soubesse dessa possibilidade. Ela curtia a noite tentando não pensar nisso, tentava esquecer isso e pensar que elas não tinham nada.

No final da noite, Elisa já estava em casa novamente, sua madrugada foi em claro, a garota se culpava e olhava fixamente para a tela que fez para a cacheada.

Ela não acreditava que ela havia sido barrada, não acreditava que não cumpriu em ir naquela maldita festa, e não gostava de pensar que talvez uma de suas melhores obrar não seria entregue a sua verdadeira dona.

Primeira vez - Maísa SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora