𝐁𝐎𝐑𝐍 𝐓𝐎 𝐌𝐄-𝐍𝐀𝐃𝐄𝐍

𝟏𝟕|𝐑𝐄𝐉𝐄𝐂𝐓𝐈𝐎𝐍

JADEN  HOSSLER

Estar novamente em uma escola era estranho e nostálgico. Lembrei dos meus tempos de adolescente e de como era bom não ter preocupação com nada, a não ser com garotas, popularidade e mais futilidades do tipo. Alunos curiosos pegavam panfletos no pequeno stand montado em uma área da escola que antecedia o refeitório. Notei que tinha muita mulher ali, aquele tipinho recatada que é recatada mesmo, o tipo fodona mas que não deve nem saber fazer um boquete direito, o tipo oferecida, o tipo quieta mas que sabe bem mais que a fodona, porém, os caras idiotas e que pensam que sabem demais rejeitam, achando que essa não dá pra passar uma chuva, quando na verdade dá pra passar um inverno inteiro. E mais montes de tipos diferentes, dava pra distinguir a elite, os caras com as jaquetas do time, achando que o mundo gira na cabeça do pau deles. As líderes de torcida que acham que tudo se consegue com um rostinho bonito e o que tem no meio das pernas. Devo dizer que era divertido observar e achar tudo muito irrelevante, ao mesmo tempo saber que aquela é uma das melhores fases da vida e a maioria reclama.

Tudo aquilo para me desviar do que de fato minha visão buscava. Nessa. Ainda não a tinha visto, ela me evitaria como andava fazendo há uma semana, tentando convencer a si mesma que é o melhor a se fazer, deve ser mesmo. Mas isso só mostra que não estou errado quando penso que há algo mais rolando aqui, eu não fui o único afetado nessa parada toda. Ela sentiu ciúmes do meu encontro. Nada demais, depois daquela noite, resolvi que me afastaria também.
Acabei por aceitar sair com Camila Nunes uma ex amiga de faculdade, alguns beijos e só, nem vou mais encontrá-la para dizer a verdade.
O problema todo foi tê-la visto com aquele imbecil, quase sem roupa, por Deus, pela primeira vez em anos senti ódio, um ódio absurdo e repentino. Aqui, olhando para todos esses adolescentes, a ficha cai com tanta força que dói. Aqui, a confirmação das diferenças entre nós me vem como um soco, e isso não é nem um pouco agradável.

E então eu a vi, mas ela estava com ele. Do jeito que deveria ser, do jeito que eu não queria que fosse. Ela aparentava estar feliz, mas quando seus olhos cravaram nos meus, eu tive a certeza.
Ela disfarçava, de fato não sou o único afetado.
Algumas garotas pediam explicações sobre os pontos principais do curso, como estava o mercado de trabalho, em que áreas poderiam atuar. Aproveitei o momento para desviar minha atenção, afinal, era pra isso que estavam me pagando e muito bem devo acrescentar.

Aquela voz me interrompeu no meio de minha explicação sobre as diferenças da propaganda na TV e em outros setores como as lojas em geral, os tipos de abordagem em cada segmento. Parei o que fazia e me voltei para o trio, uma Charli ansiosa me olhava com intensidade, o corpo denunciava suas intenções e só tive vontade de rir, estava puto com o casal, mas assumi um tom frio ao ter que encarar aquele garoto cheio de dedos ao redor de Ness, aquela cara cínica de quem dizia que ganhou, sei muito bem que ele poderia ganhar agorinha mesmo um bom gancho de direita no meio dessa cara de almofadinha.

— Oi. - Ness foi contida.

Acenei com a cabeça uma vez.

— Vão participar? - perguntei com aquele tom sério, parecido com o de um professor.

- Eu vou.

Charli se juntou a turma de alunos aglomerados em volta do stand.

— Não. - Vinnie cortou. - Vou pra área de Engenharia, quero algo que dê status, não que eu precise disso. - que otário.

Ness tentou se livrar do abraço dele, mas ele a prendeu no lugar. Controlei minha mão já coçando.

— Se status fosse sinônimo de um bom futuro... - rebati, mas queria mesmo tê-lo mandado se foder, e socar a porra do status no traseiro dele como bom idiota que era.