𝐁𝐎𝐑𝐍 𝐓𝐎 𝐌𝐄-𝐍𝐀𝐃𝐄𝐍

𝟐𝟗|𝐁𝐑𝐄𝐀𝐊𝐅𝐀𝐒𝐓

Meu corpo permaneceu estático ao ver mamãe tomando o café com os olhos de águia em cima de mim. Jaden era todo tranquilo e adultinho, caminhou displicente até a mãe, deu-lhe um beijo na testa e um bom dia a Marry. Serviu-se de chá e sentou a mesa, me abandonando parada com cara de tacho na entrada.

—Venha comer alguma coisa Nessa. - Amy se prontificou a retirar-me da inércia.

Dei alguns passos lentos até a mesa, evitando encarar Marry. Minha mão tremia vergonhosamente, ao menos nisso Jay me ajudou, servindo o matte fumegante, nada que evitasse o tremelique seguinte. Quando pus a xícara na boca e suguei um pouco do líquido quente, eis que Marry resolve dar o ar de sua graça.

— Então. Eu sabia que você iria dormir fora. - começou.

Pigarreei algumas vezes, engolindo em seco o chá.

— Não se preocupe Marry. Nós só dormimos.

Jaden pegou um biscoito na travessa, com toda calma. Como se estivesse falando que na primavera nascem flores. Lhe dei uma olhada nada discreta, tinha que lembrar que meu namorado era um homem maduro e bem resolvido, provavelmente, se fosse um adolescente, estaria escondido atrás de mim enquanto eu teria que resolver o assunto.

— Não vai dizer nada Ness? - mães adoram nos constranger na frente de pessoas as quais não queremos ser constrangidas.

— Jaden já disse. - mordi o lábio em nervosismo. — Só dormimos. Chegamos muito tarde e é isso.

Minha voz era rouca, isso acontecia sempre algumas horas após acordar. Mas hoje tinha algo mais, tensão talvez. Jay continuava a comer biscoitos e pensando porque as mulheres são de Marte e os homens de Vênus, ou seja lá como fosse, aquela quietude me estressava. Adolescentes são explosivos, inquietos, contraditórios e rebeldes na maioria das vezes.
Suas reações eram estranhas para mim, ao mesmo tempo em que me intrigavam, era bom ter estabilidade, mais do que isso, era ótimo. E eis a contradição.

— Eu vim aqui conversar com a Amy e com o Jaden. E então é bom que estejas aqui.

Mas o bom dela, não era exatamente bom. Acho que levaria era um bom puxão de orelha e um bom de um castigo de Marry, isso sim.

— Eu já disse isso a sua mãe. Mas o alvo era você.
- seus olhos castanhos cravaram em Jaden.
Ele era todo blasé. — E quero que diga olhando nos meus olhos o que sente por minha filha. E nem tente mentir, porque troquei tuas fraldas, te vi crescer e te conheço bem o suficiente para saber se é verdade ou não. - Marry não tinha um sorriso cordial no rosto. Essa mulher amedrontava às vezes, sério.

Jaden nem titubeou. Primeiro olhou para mim por algum instante. Meu coração estava pela goela, podia sentir um bolo batendo bem ali. Prendi a respiração quando um medo insano invadiu os pensamentos. E se Marry dissesse que ele estava mentindo? O que deveria então fazer?
Amy esperava tão ansiosa quanto nós por uma resposta. Ele largou o resto de biscoito e encarou minha mãe com serenidade e determinação.

— Eu amo tua filha Marry. Ela é tudo pra mim e pretendo passar o restante de minha vida ao lado dela. - me olhou com ternura. Eu mal conseguia discernir algo, já que minha boca se encontrava seca e a emoção de suas palavras me tomaram de assalto. — Se ela quiser isso também, é claro.

Seu sorriso singelo foi rápido. Pois ele se voltou para uma Marry estupefata e uma Amy idem.

— Meu Deus garoto. - Marry piscou algumas vezes, acho que pela intensidade com que Jay se expressou, eu senti o peso de cada palavra e tenho certeza que ela sentiu também. — Você ama minha menina. Ama de verdade.

Amy suspirou aliviada, sorrindo para nós.
Jaden somente assentiu o que minha mãe havia dito. E eu, bem. Prendi a respiração por tanto tempo e somado ao estômago vazio, a visão escureceu e estive a beira de um desmaio. Senti as mãos protetoras dele em volta de mim e o sussurrar de sua voz ao pé do ouvido. Recuperei os sentidos rapidamente.