𝟑𝟐|𝐅𝐑𝐄𝐄

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NESSA BARRETT

Fui até a cozinha, com a cabeça pilhada, procurar por velas. Lembrei de um lampião a gás que minha mãe deixava em algum lugar perto da pia, mas a escuridão não ajudava de certo. Enquanto vasculhava, ouvi um ranger fraco de porta. Provavelmente na sala.

— Tia Mel. Mãe. - ergui a cabeça mas não pude ver muito. — To procurando aquele... Ah, aqui. - alcancei o lampião perto de um entulho de limpeza.

Levantei do chão. Tentei ligar aquele troço, nada.

— Que droga. Mãe? Como liga essa coisa?
Nenhuma resposta.

— Mãe? Tia? - estiquei o pescoço em direção a sala.

Tenho certeza que ouvi passos fracos no assoalho. Caminhei três passos a frente, com a mão já tremendo.

— Oi? Tem alguém aí? Jaden? - tentei mais uma vez.

Não obtive resposta. Sou medrosa de carteirinha, e como "assistidora" nata de filmes de terror, a coisa mais inútil que a mocinha fazia era tentar encontrar o bicho papão. Pois é, por isso que tinha uma porta dos fundos bem atrás de mim, onde Nessazinha foge pra casa da vizinha.

Comecei a andar de costas, bem devagar evitando fazer barulho. Depois descobriria que foi só o vento e iria rir horrores do meu medo insano. Mas a porta de trás fora aberta e então gelei. Me virei devagar, prendendo a respiração e vi a silhueta de alguém. Não podia ver seu rosto, mas o corpo era grande perto do meu.

— Olá Ness.
Aquela voz. Era dele.

— Eu disse que estava perto. Não grite, não quero fazer nada ruim com você.

Me mantive parada. Não sabia se estava armado ou não. A única coisa que rodeava minha cabeça era que aquele era meu pai e a polícia havia sido passada pra trás.

— Proponho um trato Ness. Te deixo em paz, mas se afaste daquele cara. O único homem mais velho que pode te ter, sou eu. Velhos tempos lembra?

— Pai? - sufoquei.

Ele nada disse. Começou a se aproximar, enquanto eu andava pra trás.

— A polícia está vindo. - blefei, contando que ele saísse correndo.

Não surtiu efeito. Ele continuou se aproximando. Me preparei para gritar, mas sua mão grande estava em minha boca.

— Shhhhh. - me arrastou até a escada, forçando seu corpo no meu.

A ânsia de vômito veio com força e voltou. Sua mão estava firme na minha boca.

— Não vou fazer nada com você. Mas já disse que sou ciumento. Irei apenas te observar.

A mão apertava minha boca e a outra minha cintura. Ele não fazia muito esforço para me prender dada minha imobilidade.

— Você ficou tão linda. Não quero aquele cara te tocando, entendeu?

Apertei minhas mãos em punho, com nojo daquele homem. Então me dei conta de que em uma delas havia algo de ferro maciço. O lampião!

Nem me permiti pensar ao bater o objeto com toda força na cabeça do cara. Ele titubeou e girou para o lado, libertando meu corpo e me permitindo correr. Mas, tão logo senti a mão grande enroscar-se em meu tornozelo, fazendo com que eu caísse de barriga no chão. Tentei me arrastar, ao mesmo tempo em que ele me puxava pra trás. Tentei gritar, mas minha voz não saía, igual nos meus pesadelos mais medonhos.

Então uma luz irrompeu em meio a sala. Uma figura alta surgiu na porta. Só via sua sombra, pois a claridade tornou meus olhos sensíveis. Estendi a mão, mas ele não a pegou. Passou por mim feito um raio e minha perna foi liberada. Levantei trôpega, ainda dei uma olhada para trás, onde pude ver meu Jaden desferindo vários socos e pontapés no homem que jazia no chão.

𝐁𝐎𝐑𝐍 𝐓𝐎 𝐌𝐄-𝐍𝐀𝐃𝐄𝐍 Onde histórias criam vida. Descubra agora