Capítulo 6

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E lá estava eu, vagando pela casa, espreitando vez ou outra a pequena fresta do cômodo aonde Dhellaya pintava.

O cheiro de tinta me dava náuseas, fortes dores de cabeça e ninguém, repito, ninguém, havia me chamará pra meter meu nariz ali.

Mas era inevitável, digo, nem tanto, porém ainda assim, era inevitável.

Eu já havia visto muitas pessoas inspiradas, loucas pelas próprias obras, sejam elas quais fossem.

Mas era a primeira vez que eu via alguém tão belo e tão imerso na própria pintura. Uma música baixa em um idioma que eu não conhecia tocava no cômodo, o que tornava mais fácil a minha façanha(assisti-la como um stalker neurótico).

Eu havia me sentando no batente da porta e desfrutava da música enquanto assistia o pincel traçar a tela média que tinha potencial pra competir com metade da altura dela(Dhellaya).

Ela era toda delucada e pequena mesmo algo alta pra média, os fios que pareciam tão sedosos quanto eu imaginava ser, descendiam suavemente sendo barrados pelo banco.

A cintura inacreditavelmente estreita, seguida de um quadril largo e elegante acomodando em sua traseira uma bela bunda que imaginei ser maravilhosamente palpável.

Suas mãozinhas estavam ativas, uma gesticulava com a música e a outra pintava com suavidade.

Ela falava sozinha e, ria. Certo...

R, vou fingir que não quis, imediatamente, rir disso enquanto me vi contagiado pelas suas risadas encantadoras e assustadoras pois, ela estava sozinha.

O quadro era uma bagunça de cinza, beje, carmim e preto. Parecia gritar "GUERRA" me senti encantado, eletrizado, imerso em algo que eu sequer vivi. Bom, não vivi essa guerra.

Eram só traços e eu me senti na guerra... Meu terapeuta neste momento deveria se arrastar precariamente com apenas um sapato, grunhindo em outro mundo enquanto farejava humanos feito um cão. Ou seja, ligar pra ele só faria com que ele atacasse o celular achando que era comida.

Será que era possível fazer chamada de um mundo pro outro? Pensei, perdido em pensamentos. Segundos pois meu estômago roncou.

Me levantei e fui pro primeiro andar.

Comida.

Abri a geladeira e descogitei algo gelado na hora.

Vi um lasanha caseira intocada em um enorme recipiente de vidro. É, você vai pro forno, querida... Penso a retirando da geladeira.

Retiro o papel filme que a cobria e pré-aqueci o forno a colocando logo depois.

Mexi nos armários até achar arroz e então preparei, ralei o alho e então, minutos depois o arroz estava pronto assim como a lasanha.

Lavei o que usei e arrumei minha comida assim como a da minha anfitriã(forçada a tal cargo, mas ainda assim: tem o cargo).

Subi as escadas com o jarra de suco e o copos sobre uma bandeja com os pratos cheios.

Chutei suavemente a porta pra chamar sua atenção e abrir a mesma.

- Vem, sai daí. Vamos comer. - Chamo evitando seus olhos e acabo focando na pintura atrás dela, fascinante.

- Isso está cheirando tão bem...- Murmurou em tom algo alto enquanto vinha até mim, soou erótico. Franzi o cenho diante do meu pensamento. Será que estou no cio?

- Qualquer coisa cheira bem depois de respirar tinta por algum tempo. - Brinco sincero e ela anui risonha, de acordo.

Ela toma a frente nos guiando pra sala desse andar. Ela se senta no tapete e olha pra mim que ainda estou de pé.

A absorçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora