Capítulo 4

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Minhas mãos tremiam tanto que atuar estava difícil, mas tinha medo de surtar na frente dele e ele fugir.

Retiro os sanduíches já quentinhos e prontos pra consumo, o suco de laranja natural estava pronto e geladinho.

Ainda de costas pro corredor, sei que ele chegou, algo no meu coração vibrava feito louco, era estranho, mas o que entregava ele realemte era o cheiro, o cheiro de groselha e uvas frescas, meus céus...eu estava com água na boca e nem era por conta do queijo que escorria do pão, e sim pelo cheiro dele.

- Essa casa é sua? Digo, você parece jovem...- Ele indaga adentrando a cozinha enquanto olha ao redor.

- Jovem quanto? - Questiono enquanto gesticulou pra ele se sentar no banco, o roupão tinha certa folga no início de seu peitoral, a clavícula masculina bem marcada era linda...

- Diria que...quinze? - Chuta incerto, sua voz era fluída e clara, tinha um tom firme e grave, mas era tão melodiosa...

Quis rir.

- Sete aninhos mais e você acertava. - Digo risonha colocando suco em seu copo enquanto empurrava um prato com três sanduíches pra ele que deixou de encarar a comida pra me mirar pasmo.

- Céus, como é velha! Digo, não tanto, mas mais do que aparenta ser! - Exclama incrédulo, os lábios entreabertos e caidos em surpresa, os belos olhos azuis levemente arregalados, lindo.

Eu ri e mordi meu sanduíche, ele fez o mesmo com os olhos ainda pasmos em mim, mas quando mastigou, ele arfou e olhou pra comida em suas mãos, focando apenas nela.

Depois dali ele não pronunciou mais nada até ter terminado de comer todos os seus pães elaborados com tomate, presunto, queijo, alface e acompanhamento do suco.

Quando terminou de comer, eu já tinha terminado também, recolhi os pratos e resolvi que deveria falar.

- De onde você veio? - Questionei como quem não quer nada, ele fez silêncio e mesmo de costas pra ele, sabia que encarava minhas costas.

- Vim do inferno, aonde estou? - Questionou interessado.

Era normal ele achar que estava longe de casa, no mundo aonde o criei, não havia vegetação assim, não mais. Era tudo urbanizado.

- Seja mais específico. - Exijo tranquila ignorando sua pergunta.

- Eu vim de um lugar aonde está acontecendo um apocalipse zumbi, mas não queria falar pra não parecer louco já que esse lugar não parece nada afetado e nunca ouvi falar de uma área assim. - Ele é sincero e direto, seu tom sério.

- Digamos que...você está em um lugar aonde não deveria estar. - Digo relutante, vendo que deveria ser sincera com ele e que precisava mandar ele de volta de alguma forma, não precisava?

- Como assim? Você sabe de algo? - Questiona se pondo de pé, como se tivesse a intenção de se aproximar.

Estendo a mão pra que ele mantenha distância e ele para.

- Sim, digamos que aqui não existem zumbis de verdade e nem pessoas que desenvolvem habilidade sobre-humanas durante um apocalipse. - Digo sincera e temerosa, ele fica em silêncio.

- Certo...então aonde eu estou? - Questiona, parecendo ainda estar analisando tudo.

- Digamos que eu escrevo e você é muito, muito o que o personagem que eu escrevi, deveria ser. E ele também estava em um apocalipse zumbi. O nome dele é Kalland. - Digo deixando meu nervosismo lucir em minhas gesticulações com as mãos.

Ele fica me encarando, de cima à baixo.

- Quer dizer eu tecnicamente vim pro "mundo real" e você é minha "criadora"? Minha e do inferno em que eu estava vivendo? - Questiona com a voz séria e misteriosa, perigo, perigo, perigo... Minha mente ficou me alertando.

- Olha, eu não esperava que alguém estivesse realmente sofrendo ali, você nunca leu um livro e se divertir ao fazê-lo? Que autor vai saber que outra dimensão realmente surge através de sua escrita?! - Exclamo culpada e indignada.

Ele continua me encarando sério e então suspira.

- Certo, mas como eu vim parar aqui? - Questiona parecendo cansado.

- Bom, a única coisa que me pareceu estranha foi que essa madrugada eu dormir enquanto escrevia, vi meu caderno ensopado de sangue, mas quando olhei de novo, não estava lá, havia sangue apenas saindo do meu nariz. - Sou sincera novamente, não vi sentido em mentir, ele tinha direito de saber.

- Você olhou o caderno de novo depois que eu encontrou? - Questionou analítico, arregalei os olhos, não tinha pensado nisso.

- Não, é verdade. - Pintei me agitando e corri para as escadas.

Assim que cheguei ao meu quarto e abri a gaveta, peguei o caderno, estranhei de cara pois as primeiras folhas antes gastas: estavam novas.

Abri nai vendo nada ali. Só tinha a partir da estória da Chayla, e os pinto aonde algo sobre Kalland era mencionado, sumiram.

- O que descobriu? Sua cara diz que algo muito louco aconteceu. Deixa eu chutar, está escrito que eu morri e você não escreveu isso? - Disse adentrando o quarto olhou ao redor e ligo focou os olhos em mim.

- Nada disso. - Digo risonha por ele aparentemente sempre chutar errado, mas perplexa pelo que aconteceu.

- Você sumiu da estória. - Digo fechando o caderno e procurando seus olhos.

- Oh, que bom. - É o que ele diz e se joga de costas na minha cama, parecendo descontraído e aliviado.

- Eu detestava aquele inferno. - Disse disperso e sincero, seus olhos fechados e braços atirando sobre a cama, parecia pronto pra fazer um anjo de neve, mas no meu cobertor.

- Mas seus amigos, a Chayla...- Questiono aérea, ele não queria voltar. Fazia sentido, mas mesmo assim  não fazia.

- Eu só tinha o Fopper, os outros se mostraram verdadeiros merdas. E o que tem aquela vadia da Chayla? A cadela me odeia! E eu particularmente, gosto de ser recíproco em algumas ocasiões, ela que se foda. E Fopper sabe se virar sozinho, ele é todo atrapalhado, mas tem uma sorte dos infernos, aposto que a mansão que ele achou deve ter até estoque de comida, talvez água corrente e com aqueles muros altos, nada de invasões. - Diz sincero e leve, ele se vira de lado se encolhendo e seus olhos me miram com curiosidade.

- Ela era sua protagonista, hm? - Indaga certo e eu anuo, ele me olha de cima à baixo como parecia set um costume e eu como ia me acostumando(a fingir que não estremecia totalemte diante do seu olhar) fingi não me importar.

- Agora faz sentido a vagabunda ser tão linda, foi escrita por você. - Diz descobridor e humorado.

- Você vai tipo, ficar aqui? - Questiono entrando em um dilema, eu tinha estrutura pra viver com ele? Não, eu não tinha.

- Claro, você me criou criou, fez eu viver um inferno, acha mesmo que vai se livrar da responsabilidade de me hospedar por tempo indefinido que pode ser tipo: pra sempre? - Interroga irônico e ri com um escárnio humorado e debochado.

Eu estava surpresa, sería difícil viver com tudo aquilo na minha casa. Mas ele não estava errado.

- Aqui tem tempestades constantes, só chove, todo dia. Não tem festas, é ninguém sai de casa, seria melhor você procurar outro lugar, eu posso ver pra você e claro, pagar...- Eu ia dizendo mas ele nem fazia questão de me escutar.

Certo, eu tenho um jovem que recém completou dezoito anos, mas tem o corpo de alguém de vinte e cinco, a beleza de um top model e a personalidade de uma criança abençoada.

- Eu gosto de chuva, sabe? - Questionou depois de um tempinho e rolou na cama, se embolando entre cobertor, roupão e seus cachos não cachos.

Suspirei e ri.

- Certo, certo. Já entendi. - Anúncio derrotada.

Ele se senta na cama e então levanta indo pra varanda. Se esparrama na rede olhando pra paisagem através do vidro.

Me levanto indo até meu computador, ligo o mesmo e vou para as lojas online, eu precisava comprar roupas masculinas, sem condições de ter esse ser rodando de cueca e descalço pela casa.

A absorçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora