capítulo 11

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O sol mal havia subido no céu quando Liu Haikuan e Song Jyiang já estavam enchendo Xuan Lu de questionamentos.

Buscavam respostas pela saúde do amigo e questionavam o fato de ter um demônio no quarto dele.

Yibo descia as escadas com passos arrastados e olhar baixo, quando Jyiang o puxou pela gola e pressionou contra o corrimão.

— O que fez com nosso amigo?

Uma voz que Yibo reconheceria em qualquer lugar e tempo. Qianxun. O anjo da Humildade. Ele havia lutado com seu pai no passado, e quase o matou, se não fosse Deus a intervir.

— Pergunte aos seus superiores.

Se desvencilhou do aperto do outro e apenas ignorou a presença de Haikuan. Caminhou até Xuan Lu e seu ato surpreendeu a todos. Ele a abraçou firmemente como jamais abraçou alguém. Ainda meio atordoada, a jovem retribuiu.

— Obrigado por me deixar ficar com ele. Eu preciso ir agora, devo explicações lá embaixo.

— Eu entendo, Yibo. E você não precisa me agradecer. Você o salvou. Obrigada.

Antes de ir, o Wang enxugou uma pequena lágrima que escorreu pela bochecha da jovem.

— a-Lu? Não me diga que o contou?

— Eu nunca falei nada. — Ela já subia as escadas para ver como estava o irmão.

— Por favor, a-Ji, se acalme.

— Liu, eu sempre apreciei essa sua compaixão. Mas nós só tínhamos um trabalho aqui na terra, UM!!

— E mais uma vez você subestima os demônios. 

Haikuan andou em volta dele, passando as mãos por seus ombros tensos. De supetão, lhe deu um leve tapa na nuca.

— Não se preocupe. Vamos cumprir nossa missão.

No andar de cima, Xuan Lu entra no quarto assim que recebe a confirmação de seu irmão. Xiao Zhan sempre fora a beleza em pessoa, não que isso fosse algo de que os anjos gostassem de se vangloriar, porém agora, parecia apenas uma alma perdida.

Seus dentes extremamente brancos realçavam, agora, sua pele pálida e lábios descoloridos. Os cabelos desgrenhados desviavam toda a atenção do mínimo sorriso que tentava abrir para acalmar a jovem.

— Ah, Zhan. Eu sinto muito. — se ajoelhou ao seu lado e segurou sua mão.

Nem em seu pior momento, a mulher imaginou vê-lo dessa maneira. Já o viu triste diversas vezes, mas nada, nada, jamais se assemelhava ao seu estado atual. Parecia que havia desistido de viver. E isso era horrível. A fazia se sentir horrível.

— Não pode se culpar, a-Lu.

— Você quase morreu.... E eu nem notei. Não notei a sua dor, o seu cansaço...

Com a testa apoiada no verso de suas mãos unidas, Xuan Lu deixava suas lágrimas cintilantes molharem o carpete.

— Você só estava tentando garantir que a missão fosse cumprida.

— Exatamente! Se eu não tivesse dado ouvidos aqueles dois idiotas... Eu teria percebido que você não podia fazer isso.

Se sentindo mal por deixar sua irmã preocupada, Xiao Zhan se esforçou para sentar na cama, e recostar nos travesseiros. Ele inverteu a posição das mãos, pondo a dela sobre a sua, e beijou sua palma suavemente.

— A-Lu, você não tem que cuidar de todos nós sempre. Você também tem problemas, não se preocupe ou se culpe de mais por isso.

— Por que não me contou, então? Você também não tem que fazer isso. Carregar o peso do mundo sobre os ombros não é tarefa sua!

Sem argumentos ou forças suficientes para tentar discutir, Xiao Zhan abriu o melhor sorriso que era capaz de dar quando sentia seu corpo queimar e sua mente enegrecer.

— Eu te amo, a-Lu. E não posso te perder.

— Eu também não vou perder você. Eu prometo, Zhan.

Na casa dos sete pecados...

Yibo foi recebido por olhares e suspiros preocupados de seus irmãos. Sabia que Wen Qing já havia contado sobre o que aconteceu na casa dos Xiao, então não se importou com explicações e subiu ao seu quarto.

Depois do que presenciou, depois da visita mais inusitada que poderia receber do rei do inferno, tudo que podia fazer era ligar o chuveiro e deixar com que a água gelada carregasse os resquícios do sangue do arcanjo.

Arcanjo.

Essa palavra continuava ecoando em sua mente, junto de um filme carregado de memórias sobre as histórias que ouvia sobre esses seres celestiais, e a chegada de um bartender qualquer em sua vida.

Seu pensamento, ou divagação como podemos chamar, fora interrompido pela mais velha. Wen Qing bateu na porta aberta do quarto, e entrou quando recebeu a afirmação.

— Yibo, eu já sei a resposta mas é força do hábito. Você está bem?

— Não.

Em uma compreensão mútua, a mulher o abraça apertado, fazendo-o se lembrar de quando ela o ajudou a controlar seus desejos e poderes na presença de humanos. Ela o impediu de matar uma garota inocente.

Ele estava arrasado, pensando na possibilidade de tê-la machucado, e quando seu pai e os outros demônios apenas o disseram que se ela morresse, seria apenas uma consequência, Qing estava lá para o confortar.

Ela disse que sempre que algo estivesse errado, algo estivesse fora do controle, ela estaria lá para pegar as rédias e o ajudar a seguir em linha reta. Mas dessa vez, a sensação é muito mais esmagadora do que quase matar um humano.

A raiva e ódio crescentes em seu peito, o rasgando e o culpando por ter absorvido aquela energia gerada pelos ferimentos de Xiao Zhan, isso o perturbava constantemente.

— Eu queria matá-lo.

— Não, não Yibo...

— Eu senti, Qing.... Senti os meus poderes se alimentando do sofrimento dele... — Seu corpo começava a tremer e seu olhos se avermelharam. — Eu queria mais. Queria matá-lo.

— É involuntário, Yibo. Se qualquer outro de nós estivéssemos lá, talvez não fossemos capazes de aguentar. Mas você sim.

— Eu não podia.... Não podia matar Xiao Zhan, mas eu queria...

Wen Qing apertou seus ombros e levantou sua cabeça para olhar em seus olhos, orbes vermelhos sangue, pupilas dilatadas e lágrimas salgadas. Seu lado humano e demoníaco em interferência interna.

— Você jamais machucaria alguém inocente, Yibo. Você não é um monstro. Você aguentou, o ajudou a se curar, você não o machucou. Entendeu?

A própria mulher estava prestes a desabar, mas ela sabia que não podia. Não na frente de seu irmão caçula. Ele precisava dela, da força dela para buscar a sua própria.

Sacudindo a cabeça freneticamente, numa mistura de desespero e medo, tentando o máximo se convencer de que não era o monstro que todos pensavam.

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