capítulo 19

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Xiao Zhan perambulava pela sala, enquanto sussurrava uma oração apenas para si mesmo. Meng desceu as escadas e teve que desviar do moreno, antes que eles se chocassem um contra o outro.

— O que deu nele? — Perguntou a Ji Li, que bebia sua vitamina de banana atrás do balcão.

— Ele está assim desde as três da madrugada. Senão, antes.

Meng balançou a cabeça em negação, e procurou uma forma de parar na frente do moreno. Ela o segurou pelos ombros, ao ver que ele não pararia de andar.

— Zhan, para com isso.

Ele a olhou confuso. Suas pernas fraquejaram com a interrupção abrupta de seus passos, e ele precisou se sentar em uma poltrona.

— Para de ficar aí se martirizando por causa dessa merda. O Yibo está bem.

— Então, por que ele não acorda?

Meng escorregou suas mãos pelos braços do arcanjo, sentindo em sua pele debaixo da camisa todos os pontos de onde as asas de sua forma original saíram. Tocou suas mãos e as envolveu entre eles, apertando firme.

— Eu, tanto quanto você, desejo saber. Mas estou procurando um jeito de trazer ele de volta.

Xiao Zhan buscou em seus olhos a promessa, e encontrou flâmulas de um roxo vibrante. As órbitas de suas íris lembravam os céus estrelados vistos dos campos e áreas rurais da terra.

— E enquanto isso... — a mulher soltou suas mãos e o obrigou a se levantar, empurrando-o até o beiral da escada. — Vá ver como ele está.

Com um impulso de Zi Yi, Xiao Zhan subiu vagarosamente os degraus. Agradeceu em sua mente por não ter mais ninguém no andar de cima, e se dirigiu ao quarto de Yibo.

Era o último quarto de um corredor largo, e ficava localizado do lado esquerdo da casa. Com um suspiro, empurrou lentamente a porta, espiando pela brecha.

Sem esperanças de que Yibo estaria consciente o bastante para permitir, ou negar, sua entrada, ele entra de uma vez no ambiente.

Uma janela quadrada de vidro ficava na parede oposta a porta, então a luz não circulava proporcionalmente. Uma cama de casal, onde Yibo repousava agora, ficava encostada a direita da janela. E uma mesinha de madeira talhada tomava lugar sob a janela, fazendo o contorno dos dois cantos da parede.

Não havia nada de demoníaco naquele cômodo, exceto o próprio demônio. E para a surpresa de Xiao Zhan, também não havia nada de obsceno. Outra pontada o cutucava no peito, se lembrando de que foi naquele quarto que Yibo cuidou dele quando foi atingido por sua própria irmã.

O arcanjo se ajoelhou ao lado da cama, buscando não encostar na pele do castanho. Uma tarefa que seria muito mais difícil do que imaginou. Suas mãos coçavam para tocar os fios bagunçados e desalinhados, afagando seus cabelos. Desejava beijar seus olhos, como se fosse em um conto de fadas mortal, e ele acordaria.

Mas recuava toda a vez que o sino em sua mente soava, o trazendo o gosto agridoce do chá de veneno pra demônio que foi forçado a tomar.

A brisa gélida que adentrava o local fazia seu corpo arrepiar. Outra coisa torturava sua mente: Li Bowen ainda estava em algum lugar no mundo humano, talvez até na cidade, atrás de si.

Depois que Fanxing lhe contou sobre a briga que ele e os outros tiveram com Chen, não podia deixar de se preocupar. Se Bowen a encontrasse, quem sabe o que aconteceria.

Deu um último olhar pesaroso para o demônio adormecido, e soltou um beijo no ar. Na esperança que o vento o guiasse até Yibo.

No andar de baixo, a cena mais se parecia com uma guerra de comida do que qualquer outra coisa. Haoxuan jogava bolachas de água e sal na direção de Guo e  Junxiang, enquanto Zhoucheng e Peixin discutiam sobre a pimenta em uma sopa.

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