O Protegido do Inferno

capítulo 22

Yibo sentia a luz do sol penetrar sua pele, acordando todos os seus músculos dormentes. Tocou o tecido macio do lençol sob si, e descobriu estar em sua cama.

Quando abriu os olhos, a primeira coisa que viu foram os cabelos negros perfeitamente alinhados em cascata de Meng Zi Yi, que estava virada de costas para ele, de pé ao lado da cama.

— Meng?

— Yibo? — Ela perguntou surpresa, se virando. — Demorou pra voltar, bela adormecida.

Ao vê-la sorrir, Yibo também sorriu. Tentou se levantar, vindo á tona as suas últimas lembranças. Dele e Xiao Zhan na casa abandonada. Yibo segurou no braço da mulher e a encarou.

— Onde ele está?

O irmão parecia desesperado por essa resposta, então Meng apenas suspirou e soltou seu braço.

— No Inferno.

— O que?

O demônio saltou da cama, incrédulo. Torcia para que fosse apenas uma brincadeira de mal gosto. Porém Meng não estava rindo, seu semblante era sério e até um pouco triste.

— Não pudemos impedí-lo, Yibo. Não foi por falta de tentativa.

— Eu não acredito que Xiao Zhan tenha ido lá pra baixo por conta própria. O que vocês disseram para ele?

— O que a nossa mãe disse pra você? — ela retrucou, mostrando um pouco de irritação. — Alguma coisa dentro das suas memórias relacionadas a Lilith fizeram ele decidir isso. Quando você foi ver ela?

— Eu não fui lá para vê-la. Eu fui atrás do papai. Mas ela estava no lugar dele, não sei como.

— Bem, eu só sei que ele foi o único que conseguiu ver essas memórias. Eu tentei entrar na sua mente quando o corpo estava inconsciente, mas não tive resultado.

Yibo pensou na sua última conversa com Lilith e a forma lunática com que ela falava. Não podia acreditar que aquela mulher realmente conseguiu o que queria. Fazer Xiao Zhan descer até o inferno.

— Eu vou atrás dele. — declarou, buscando uma jaqueta no armário.

— Nem fudendo. — Meng retrucou.

— Você mesma disse, não sabe o conteúdo da minha conversa com a mamãe. Não sabe o quão louca ela está.

— Você acabou de acordar Yibo, e além disso, Xiao Zhan me implorou para que não deixasse nenhum dos outros segui-lo.

— Não me importa o que você prometeu a ele ou não. Eu não vou permitir que Lilith tenha o que quer.

Yibo ia pulando escada abaixo, quando chega ao penúltimo degrau, ele para e encara o quadro na parede. Essa casa era de uma família católica que foi massacrada por volta dos anos 20 ou 30. Ali havia muitos intens relacionados a religião. Eles não se importavam realmente, e era um ótimo disfarce também.

Agora Yibo estava paralisado diante de um quadro, com a figura mais popular, entre os humanos, de Miguel o encarando. Os olhos do arcanjo daquela pintura o causava arrepios, como se o encarasse de volta.

— Yibo? — Haoxuan o chamou. — O que caralhos você está fazendo?

Foi só então que Yibo percebeu. Metade de seu braço direito havia atravessado pela pintura. Aquilo era um portal.

— Cara, eu não tenho a menor ideia. — declarou, antes de instintivamente atravessar o corpo por inteiro através do quadro.

— Yibo!

A última coisa que ouviu foi um grito irritado de Haoxuan, sendo abafado pelo portal. Em poucos instantes, o demônio estava diante de uma estátua majestosa de Miguel, em um ambiente cercado por água corrente. Água qua jorrava de uma cascata circular, que envolvia todo o arredor, em torno de 40 metros ao redor da estátua.

— O que acabou de acontecer?

— Eu estava prevendo essa conversa, demônio da Luxúria. — uma voz poderosa e ressonante preencheu o local.

Então Yibo presenciou a figura angelical completa de Miguel pousar em cima da estátua. O arcanjo o encarava com o que parecia ser um sorriso. Não sabia dizer devido a todos aqueles olhos dourados inquietos que o fuzilavam.

— Arcanjo Miguel? Não, na verdade eu jamais podia imaginar que eu teria uma conversa com algum de vocês.

Se referia aos anjos e arcanjos de patente próxima a de Miguel, e o arcanjo soltou uma risada. Se acomodou na dobra de uma das asas da estátua, e pôs duas mãos na cabeça, apoiando-a na pedra. Enquanto as outras duas se cruzavam na altura do abdômen.

— Eu já previa o dia em que as consequências dos atos de sua mãe o atingiria.

— Então você sabe? Pensei que ela tivesse conseguido pelo menos esconder as coisas.

— Eu, Gabriel, Castiel, Cromos e alguns deuses fomos informados da situação na época. Mas não havia muito o que poderíamos ou estaríamos dispostos a fazer.

— 'Estariam dispostos'? — perguntou irônico.

— Enfim. Hoje é o dia; o dia em que o anjo desce e o pecado sobe.

— como é que é a parada?

Miguel riu da careta incrédula de Yibo, e riu ainda mais quando o demônio cruzou os braços, mostrando suas presas pontiagudas. Então os risos cessaram e ele desceu, pousando como uma pluma diante de Yibo.

— Você não está aqui por um acaso. Quando eu descobri o que Lilith havia feito, eu fiz questão de garantir que eu seria avisado se algo saísse do controle.

— O que você define com 'sair do contole', exatamente?

— Não tem como evitar o que já está modificado na esfera do universo. Então quando Xiao Zhan começou a brigar com os irmãos e a questionar sua posição nos céus, eu já sabia que estavam começando.

— Os efeitos de brincar com o destino. — Yibo completou.

— Exatamente. E agora, isso está um passo mais próximo do que Lilith esperava fazendo o que fez. Se Xiao Zhan encontrá-la, talvez ela realmente consiga a quebra do equilíbrio entre os três mundos.

— Mas se você não pode evitar, por que precisava que eu viesse aqui como um aviso?

— Você não é um aviso, Yibo. É uma garantia.

Vendo o semblante confuso do outro, Miguel se aproximou e tocou-lhe o ombro.

— O que você, seus irmãos e Xiao Zhan têm é uma ligação forçada. Mas o que você desenvolveu com ele durante esse meio tempo, é uma maldição. Você estar vivo aqui, falando comigo, é a garantia que eu tenho de que você irá quebrar a maldição.

— Mas como?

A essa altura, Yibo já nem se dava ao trabalho de questionar o que estava acontecendo ou o que o arcanjo estava dizendo. Com uma voz e expressão muito mais sombrias do que a que ele tinha no começo daquela conversa, Miguel ditou:

— Renunciando a sua classe.