O Protegido do Inferno

capítulo 15

A falta de umidade do ar era quase reconfortante para Wang Yibo. O fazendo se lembrar dos séculos que passou naquele lugar.

Crescer como um dos príncipes do inferno sempre foi algo de que se orgulhava. Em outras épocas, até usava isso para impressionar os humanos que levava para a cama.

Era imaturo, e idiota. Percebe isso agora. O fervor do solo em contato com suas botas, as fazem derreter sob seus pés. O cheiro enferrujado do sangue vindo de todos os lados começava a lhe causar náuseas.

Avistou o enorme portão de grades regras e pontiagudas, que demarcavam os limites do palácio de Lúcifer. Sem muros ou qualquer proteção em volta, apenas o portão no meio de um completo deserto avermelhado.

Duas estátuas de demônios, asas feitas de carvão, somente as garras tinham o dobro do tamanho de sua mão. Como máquinas automáticas, moveram as lanças de pedra que seguravam, impedindo sua passagem.

— Ad filios diaboli facilis est descensus. — sussurrou.

Uma espécie de senha que somente os sete possuíam. Para os filhos do Diabo, a descida é fácil. Começava a achar que Lúcifer gostava do drama.

Mesmo sem saber como aqueles pedaços de pedra lhe ouviram, Yibo adentrou o território do palácio após as lanças se abrirem para ele.

Uma construção de arquitetura clássica da era gótica da história humana. Não havia um teto, então tudo que podia ser visto eram as enormes e estreitas paredes que separavam alas do ambiente.

Com suspiro, continuou seu caminho até estar de volta ao local onde cresceu. Com  um toque de magia, o imóvel era dez vezes maior do lado de dentro. E bem mais luxuoso. Obra de Yuchen, Haoxuan e Zi Yi.

Os três fizeram questão de decorar o palácio de seu pai, depois de suas primeiras idas ao mundo mundano. Já era quase tradição.

Mas mesmo toda a decoração elegante, não conseguia disfarçar o cheiro de carne podre misturado a pele queimada. Com certeza um forte motivo para vomitar naquele piso laminado.

E lá estava Lúcifer, empoleirado em seu trono imponente de carvão queimado. Sua aparência humana ainda era visível, porém bem mais jovem do que naquela noite.

— Não acha que demorou um pouco, meu filho?

— Olá, meu pai.

Yibo levou um joelho ao chão, enquanto sua outra perna permanecia firme. Terminando sua reverência, se levantou.

Sentiu seu corpo queimar sobre o olhar flamejante de Lúcifer. De repente suas roupas já não eram mais as mesmas.

Estava trajado em um terno brilhante e azul. Calças combinando, um relógio de bolso feito de ouro pendendo de sua mão. Sentiu algo em seu rosto, e quando tocou, eram óculos.

O ambiente ao seu redor também havia se modificado. Ainda parecia estar em um palácio, porém um verdadeiramente humano. Sabia que aquilo era obra da Magia de seu pai.

Avistou o homem do outro lado do salão, ainda em um trono. Um trono dourado e ostentando ignorância.

Notou que estavam no meio de um baile. Pessoas com rostos de borrões, trajando roupas semelhantes.

— Não tenho tempo para brincadeiras, pai.

Começou a andar em sua direção, esbarrando em alguém no caminho. As ilusões de Lúcifer eram bem lúcidas, mas não reais. Porém, ao encontrar o rosto daquele em quem esbarrou, seu peito latejou. Era Xiao Zhan, e ele era real.

Viu claramente o rosto do arcanjo, e se surpreendeu ao que ele também o tinha visto. Antes que pudesse falar alguma coisa, o ambiente mudou novamente assim como suas roupas.