capítulo 14

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O ar essa manhã parecia seco e quente como o inferno.

Jyiang tinha um mal pressentimento sobre as anormalidades no clima, e o que vinha acontecendo com as plantas e os animais da região.

O anjo estava sentado na varanda da casa dos Xiao, acariciando os pelos macios da gata do Moreno. Os dois irmãos haviam saído, então ele decidiu esperar.

Seus pensamentos iam e voltavam na noite em que Xiao Zhan quase morreu. Talvez Xuan Lu e Haikuan tivessem razão, e ele estava sendo precipitado demais. Porém, algo o dizia que o pior ainda viria.

- Pensando na vida? Ou na morte?

Uma voz o chamou a atenção, do outro lado da cerca. Quando virou seu rosto, encontrou o demônio da inveja. Aquele rostinho tão... mundano... Como poderia esconder a verdadeira natureza deles?

- Na morte. - respondeu seco.

- É engraçado ver um anjo pensando nisso. Normalmente, a morte é mais a nossa praia.

O anjo revirou os olhos e se levantou. A gata resmungou ao sentir-se ser pega no colo, e colocada de lado. Então ela se sentou e permaneceu observando os dois homens.

- Vocês estão por trás disso?

- Disso? Disso o que? - Haoxuan perguntou, realmente parecendo confuso.

- A morte está no mundo humano. Não está?

- Morte? Quer dizer o Anjo da morte?

- Vocês o trouxeram para esse mundo.

- Nós? - A voz do demônio começava a se alterar. - Acha mesmo que precisaríamos de um anjo para matar por nós?

O anjo permanecia imóvel, apenas esperando o que Haoxuan faria em seguida. Se ele atacasse, seria uma oportunidade perfeita.

- Nós fazemos o trabalho sujo. Não precisamos de ninguém para levar a culpa por nós.

- Do que está falando?

- De onde você acha que vem a palavra 'anjo'? - Sua expressão se tornara incrédulo. - quer saber, por que eu estou explicando isso pra você? É óbvio que você está tentando me manipular.

Suas últimas palavras alertaram Jyiang. Manipular? Não era isso o que ele estava fazendo, afinal? Então por que, de repente, se sentiu tão mal com essas palavras.

- Você está dizendo, que o anjo da morte é um de nós?

- E não é?

- Não. Não pode ser.

Haoxuan se obrigou a manter a calma. Sua voz voltou ao normal, e o brilho em seus olhos desapareceu. Ele se aproximou mais da cerca, seu corpo próximo ao do anjo.

- Todos os anos, nós somos lembrados por aquela criatura de que nós não somos nada perante a Deus. Ele desce e mata metade do nosso povo, apenas por diversão. E sabe o que é pior? Nós não podemos fazer nada.

- Deus? Deus não discrimina. Demônios ou não, ele jamais enviaria alguém para matá-los. - suas palavras não vacilaram, mas seu pensamento se distorcia a cada vez que abría a boca.

- Não me importo se foi Deus ou não quem o mandou. Papai nos proibiu de tocar nele, não importa o que ele faça. Somente por que ele é um anjo.

- Castiel me criou. Ele me mostrou tudo o que essa criatura era capaz de fazer.

- E disse que ele pertencia a nós? A nosso povo? O mesmo que ele matou?

- Não... - Sua voz ficara presa na garganta. Absorvendo a pressão no olhar ardente do outro, seu corpo inteiro sentindo o tremor da respiração fria do demônio contra si.

Haoxuan estava em uma luta interna, sua parte demônio sedenta por sangue de anjo. Sua parte humana implorando para tocar em Jiyang, sentir com as próprias mãos o calor que emanava do corpo do anjo.

Com muito esforço, conseguiu se afastar novamente, passando as mãos pelo cabelo, tentando se acalmar novamente. Song Jyiang segurou firme a cerca de madeira, sentindo as farpas penetrarem sua pele. Ambos precisavam respirar.

- Então, eles nos envolveram em um jogo de gato e rato. - comentou Haoxuan.

- Um jogo onde ninguém sabe quem é o verdadeiro predador.

- Anjos como você deveriam parar de ignorar o inferno. Vejam com os próprios olhos o que acontece lá embaixo, e não deixem que os outros falem no que devem acreditar.

- Não foi a mesma coisa com lúcifer? Ele mandou que não matassem o anjo.

- Mas pelo menos ele estava certo. Li Bowen é um anjo. Não um demônio.

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Zhoucheng acabara de sair de uma cafeteria, com uma caixa de donuts para viagem. Do lado de fora do estabelecimento, ele recostou em uma parede qualquer e acendeu um cigarro.

Não tinha a menor vontade de voltar para casa agora. Lá estava um caos. Yibo havia ido ao encontro de Lúcifer e todos os outros estavam presos no mundo humano. Seu pai não queria que nenhum deles interferisse em nome do irmão.

Fora o fenômeno impressionante de alteração de humor que estava rondando sobre os sete. Todos os seus instintos demoníacos pareciam estar sendo inibidos pelo seu lado humano. Sua natureza parecia ser domesticada aos poucos.

- Não acho que um cigarro vai fazer você esquecer seus problemas.

Zhoucheng olhou para o lado, vendo o anjo da Lamborghini parado o encarando com um sorriso. Soltou uma risada anasalada e tragou mais uma vez, soltando a fumaça na direção dele.

- Eu não tenho problemas.

- Se você diz.

Liu Haikuan se aproximou do demônio, e segurou sua mão antes que ela pudesse levar o cigarro a sua boca novamente. Com um movimento rápido, o anjo colou seus lábios aos de Wang Zhoucheng.

O demônio tentou levantar seu punho, para bater em Haikuan. Porém tudo que conseguiu fazer foi agarrar seu rosto com ambas mãos, deixando o cigarro cair, envolto pelo beijo.

Uma péssima hora para que seus poderes fossem drenados, pensou Zhoucheng. Se xingando mentalmente por querer beijá-lo novamente, depois que suas bocas se afastaram.

- Maldito cupido. - Haikuan xingou, com um sorriso rondando os lábios.

- Não sabia que anjos podiam xingar.

- Nem eu. - admitiu, antes de retomar o beijo.

Ambos se divertiam com o desejo sedento por ir além. Anjo e demônio, nenhum deles em seu estado psicológico normal. E os dois gostavam mais do que deviam.

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