JéssicaDias atuais…
Ainda venho tentando me convencer de que não estou cometendo uma loucura, ainda mais quando estamos às portas do Supremo ancião de Amanphire, solicitando uma audiência. Vesti-me com a pompa que uma verdadeira rainha deveria exibir, antes de me apresentar no local de desembarque. Keller vinha solenemente ao meu lado, como o cão de guarda que se tornara. Tentei convencê-lo a mandar seu melhor homem comigo e ficar para trás, nos negócios da estação, mas ele fez o oposto do que pedi. De qualquer forma, não serei hipócrita de ignorar o quão pode ser importante uma figura conhecida ao meu lado e o grandalhão aqui tem uma vida pregressa bem extensa e por ela se faz conhecer em diversos setores das galáxias próximas. Logo atrás de nós, alguns servos e soldados compunham nossa comitiva.
— Minha senhora, nosso líder a aguarda! — um emissário se direciona à mim com uma sutil deferência e dá meia volta.
Já conheço bem esse protocolo. Tudo que devo fazer é acompanhá-lo. Em algum momento meus pensamentos se perdem, entre olhar a paisagem à nossa volta e observar o quanto esses seres são pálidos, um contraste enorme entre a cor de sua pele e a roupa em tom escuro que vestem. O próprio ladrilho onde piso, parece tão claro quanto o ser que caminha à minha frente, o que me faz indagar se estivesse nu não estaria perfeitamente camuflado com o piso. A construção que se ergue adiante de nós, é uma perfeita mistura entre o arcaico e o moderno. Há um belo castelo com torres pontiagudas e cúpulas abóbadas, em cores marfim e prata. As janelas possuem vidraças transparentes e elegantes, onde podia-se identificar cortinas em tons esverdeados e outras douradas. Muitos transeuntes iam e viam, passando pelas diversas saídas e pátios de acesso. No alto das torres, pude ver soldados em vigília, sobre suas pequenas sacadas. Na abóbada central, uma cúpula transparente reluzia, sob a qual podia se ver um aparato bélico e pessoas trabalhando. Certamente era um centro de monitoramento do que entrava e saia de Amanphire; sob essa fachada arcaica, estava um povo com aparato tecnológico insondável e fornecedor de muitos povos, inclusive Alfa-Centauri.
Fomos guiados através do átrio central com suas colunas pálidas e altivas, embora o modelo arquitetônico me pareça modesto se comparado com o estilo gótico que Heimdall ostenta. Lembrar do bastardo envia um frio direto pela minha espinha. Só espero que ele esteja tratando meu macho dignamente ou terei sua cabeça exposta numa estaca para que todos saibam que não se deve ultrajar uma fêmea com o ódio de cinco encarnações entranhado no corpo.
Meu macho?! — o estalo vem tão rápido em minha mente que me deixa zonza. Minha respiração acelera momentaneamente. No que estou pensando?!
— A mestra está bem?! — Keller segura levemente meu cotovelo, enquanto me observa com cuidado.
A sensação de aperto em meu coração é tão ruim que a agonia de poucos segundos pareceram décadas. Se aquele rei canalha estiver maltratando meu macho, farei ele verter lágrimas de sangue.
— Não é nada importante! Só estou pensando mil e uma maneiras de torturar Heimdall, caso ele faça a besteira de tocar no meu macho…— Mal termino estas palavras e já estou arrependida — Ah, eu não quis dizer…ah, deixa para lá…— O sorriso debochado dele é indício suficiente de que nada que eu argumente me tiraria dessa saia justa.
Dou graças aos céus, quando uma porta nos é aberta e vejo o Supremo Ancião sentado ao lado de sua companheira, assim não tenho que continuar essa conversa constrangedora.
— Saudações, meu senhor! — Adianto fazendo um sinal para que um servo passe à frente com uma pequena caixa de madeira, contendo as melhores liriacthias que escolhi, das que Lya me enviou. Só de pensar que estou me desfazendo dessas preciosidades, sinto vontade de chorar — Não consegui pensar num presente mais apropriado para ofertar à sua companheira! — É óbvio que eu iria mirar em quem tem o paladar mais apurado por aqui, imagino, e alguém mais fácil de cativar.
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ABDUÇÃO: Contos Alienígenas
Historia Corta+18 Jéssica é uma mulher forte que cresceu nas ruas, após fugir de casa por conta de maus tratos. Sua vida nunca foi fácil, enquanto tentava sobreviver às intempéries e ao assédio dos "colegas de rua". Não existia meio termo para ela; se alguém a ba...