CAMPO DE TREINAMENTO

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Segundo capítulo de hoje!😘❤️
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Jéssica

Ano 2050

Três dias depois…

Acordar no meio da noite com um balde de água fria na cara, não foi nada perto do que estava por vir. Que iria ter represálias, disso eu já sabia, só me restava saber quais métodos seriam usados; o campo de treinamento foi o escolhido da vez. Eu estava prestes a virar caça e o instinto predatório que há em mim vibrou com isso. Se esses imbecis acham que podem me dar o troco me jogando numa floresta perigosa para virar seu animal de caçada, estão enganados.

Como um bom militar que foi, a primeira coisa que Zoel fez quando completei 15 anos foi me levar para essa mesma floresta e me ensinar a caçar; segundo ele, uma garota tem que aprender a se virar sozinha em casos de necessidade. Passamos quase um mês na floresta, vivendo do que conseguíamos pegar, aliás do que eu conseguia pegar. Conforme suas ordens, eu seria o alfa que alimentaria a ambos. As duas primeiras semanas foram difíceis para mim, mas consegui apreender seus ensinamentos. Então, meus  companheiros de farda têm que ser muito bons para me superar.

Ciente do quanto sou capaz, não me incomodei quando um saco cobriu minha cabeça, nem quando minhas mãos foram algemadas nas costas. Minha visão fora tapada, mas minha audição e o olfato funcionavam bem. Enquanto caminhava, guiada por um deles, ouvi ao menos cinco vozes distintas, mas pelo cheiro diferente, eu tinha 99% de certeza que havia oito homens me conduzindo.

Diante dessa situação, posso apostar  minha vida que não é uma represália qualquer, eles estão mal intencionados. Numa missão de treinamento comum, eles não estariam tão ofegantes. Posso ouvir suas respirações pesadas e a palma que segura meu braço está gelada. Não haveria motivos para essas dissonâncias, se fosse algo rotineiro e o fato de não haver mulheres no grupo, só corrobora com minha tese. Mais adiante sou introduzida no porta-malas de um carro, mas não antes de ouvir um riso malicioso inconfundível: meu comandante. Esses desgraçados planejam me ferrar.

“Você trouxe o console?” ouvi a voz do canalha “Vou enfiar essa coisa naquela vadia até o talo… ela não gosta de um pau avantajado?!” Todos riam lá dentro e mesmo com o barulho do motor e os solavancos, eu conseguia ouvir bem.

Ah, que ingênuos!
Sorri enquanto deslocava o dedão para soltar as algemas. É doloroso?! sim! Porém vantajoso para situações como essa. A dor de voltar os dedos pro lugar era pior do que deslocá-los, mas no momento precisava de medidas drásticas. Pelas minhas contas, uns 40 minutos se passaram e estávamos chegando ao destino. Destravar o porta-malas foi o menor dos empecilhos e tão logo a velocidade foi reduzida, aproveitei para saltar para fora.

Vou lhes dar uma noite inesquecível.  Não vai demorar para que descubram que sua presa escapou e enquanto isso, irei direto à base de apoio que há nas proximidades. Armas e armadilhas vem bem a calhar e não hesitaria em usá-las, porém tenho algo melhor em mente. Eu poderia simplesmente matar todos aqui e não seria descoberta, porque duvido muito que o comandante tenha informado essa missão, como é praxe. Mas a morte é bem mais do que esses abusadores merecem e eu não sou tão benevolente assim. Ao cortar caminho, cheguei na base dez minutos antes deles, o que me deu tempo suficiente para preparar algumas armadilhas para “ursos”. Obviamente esse animal não faz parte da nossa fauna e esses objetos são adaptados para uso em humanos. Eles irão machucar e prender, mas ninguém corre risco de perder a perna por isso.

Uma metralhadora foi a escolhida para ser a amiguinha da vez, junto com um rifle que atira tranquilizantes; esse é o brinquedo que toda garota deveria ter. Com a recepção pronta, escondi-me num ponto estratégico e vi quando o carro parou. Eles optaram por um com capacidade para dez pessoas. Certamente uma única condução despertava menos suspeita do que várias saindo no meio da noite. O comandante desceu todo zombeteiro, brincando com um console e os outros rindo ao seu redor.

Que perdedor escroto!

Não demorou para que descobrissem minha fuga e estivessem como baratas tontas; a discussão entre os bastardos podia ser ouvida à distância. Eles não tinham como saber onde eu pulei, mas ouvi bem quando o comandante ordenou que cobrissem o perímetro num raio de 10km para me capturar. Como previ, eles correram para a base para buscar mais armas, já que seria arriscado demais tirar armas potentes do quartel. Só podíamos sair com nossa arma de defesa; no caso, uma única pistola automática.

O primeiro a cair na armadilha de urso foi um ruivinho desavisado. Seus gritos ecoaram pela floresta, trazendo os outros até ele como um enxame de abelhas. Então, mais dois caíram nas “arapucas”.

— A Vadia está por perto! — o comandante grita sobressaltado.

Oh, agora é um pouco tarde!
Sentei o dedo no gatilho do fuzil, distribuindo tranquilizantes na “turma toda”, mas deixando meu admirável major por último.

— Surpresa! — grito chamando sua atenção e assim que se virou, mirei em sua testa. — Dorme bem, querido! Você vai precisar! — Sorri maliciosa ao vê-lo pender com o dardo no centro da fronte.

Pacientemente, arrumo o cenário para meu entretenimento. Não dizem por aí que “a vingança é um prato que se come frio?!”, pois bem, vou apreciar meu prato e me lambuzar. Do depósito, peguei algumas ataduras, colchonetes e um celular para eventuais emergências, tudo isso após ligar as luzes do acampamento e me certificar de que tudo ficasse iluminado. Montei o cenário do espetáculo, espalhando os colchonetes juntinhos. O celular, prendi numa árvore com fita, num ângulo que não pegasse o canto que escolhi para ficar. Eu faria meu próprio filme caseiro, mas sem som. O próximo passo foi liberar os soldados das armadilhas de urso, usar a atadura em seus ferimentos e despir todos e colocar juntos. Meu queridíssimo comandante ficou no meio e joguei o console entre eles.

Com minha metralhadora em mãos, aguardei a turma acordar e foi o show dos horrores quando isso aconteceu e eles se deram conta do que estava acontecendo. Confesso que ri dos brutamontes se afastando uns dos outros como se tivessem levado um baita choque.

— Ops! Nem pensar! — Dei alguns disparos de aviso quando se lançaram para suas roupas empilhadas.

Que maravilhosa vingança!
[...]

ABDUÇÃO: Contos Alienígenas Onde histórias criam vida. Descubra agora