Jéssica
Seguimos as instruções do alien desengonçado e fomos sair na ala informada. O branco brilhante deve ser universal para centros médicos. o cheiro exagerado de limpeza fazia minhas narinas pinicarem. A cada passo que eu dava naquela direção, um estranho incômodo se alastrava por meu corpo, provocando uma comichão.
Volte! — o som reverbera em minha mente tão alto quanto um estalido, o que me faz friccionar as têmporas com o desconforto causado.
Ora, ora, essa não foi a lua de mel que imaginei, macho idiota! Amaldiçoo em pensamento, sabendo que não serei ouvida.
Andamos mais um pouco, no ambiente estranhamente desértico, até estarmos diante de uma porta de vidro que desapareceu na lateral assim que estivemos perto o suficiente para acionar os sensores. Do outro lado, todas as parafernálias típicas de um laboratório, mas o que chama minha atenção é a mulher na câmara cilíndrica em estado de hibernação. De fato, se parecia muito comigo e estava jovial como se o tempo jamais tivesse passado, porém essa não foi minha única surpresa, mas o fato dela estar grávida; uma barriga de poucos meses, mas ainda assim perceptível em sua total nudez. O que me faz pensar se ela está sendo abusada aqui, sendo que faz cinco anos que foi levada e é humanamente impossível que uma gestação se arraste por tanto tempo, mesmo na animação suspensa.
— Que inferno fizeram com ela? — chego perto do vidro e coloco a mão, observando seus contornos e me sentindo, malditamente, mal por vê-la nesse estado.
— Vocês são os enviados?! — ouço a pergunta e me volto pra voz.
Um macho alto, magro, de pele extremamente albina, naquele jaleco branco, poderia ser facilmente camuflado na brancura do lugar. Seus olhos amendoados e azul oceano se destacam no rosto triangular e frio.
— Quanto quer para fingir que não estivemos aqui?! — Keller o questiona.
— Suponho que seja muito generoso, não é? — diz com um sorriso robótico em seus lábios finos e pálidos. — Que tal ela de pagamento? — olha diretamente para mim — Sempre cabe mais uma no meu laboratório.
— Ela não entra como forma de pagamento — Keller lhe diz num tom imparcial.
— Que pena! — volta a me olhar de cima abaixo e minha vontade é apertar seu pescoço, aparentemente frágil.
— Fico lisonjeado que um cientista da constelação de Antares se interesse por minha serva, mas ela não está à venda.
— Você veio pela fêmea na câmara, certo? Ela tem algo incomum em seu DNA e você deve saber o quê, senão não estaria aqui. A quem representa?! — o tal cientista mostra-se curioso. Típico.
— Isso não é problema seu! — o outro é cortante e essa conversa já está começando a me incomodar. Meus punhos se fecham só de imaginar que foi ele quem fez isso com ela.
— Você a violentou?! — pergunto e imediatamente Keller me repreende com o olhar.
— Hum! Tão feroz! Os servos não deveriam ser mais silenciosos? Obedientes? — volta a me encarar como se tentasse desvendar um mistério — Não sou esse tipo de macho, fêmea! Ela carrega aquilo que extrai de seu DNA, para descobrir de onde vem o poder que há em seu corpo. É fruto de um experimento científico, se a tranquiliza.
Eu ia responder, mas o meu braço direito fez sinal para manter a boca fechada.
— Não temos tempo pra isso, apenas dê seu preço. — insiste.
— Uma carona!
— Como é? Você sabe que isso é impossível! Você é um procurado de Antares, quem se atreve a levá-lo do exílio? — pelo visto as coisas não são tão simples assim.
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ABDUÇÃO: Contos Alienígenas
Conto+18 Jéssica é uma mulher forte que cresceu nas ruas, após fugir de casa por conta de maus tratos. Sua vida nunca foi fácil, enquanto tentava sobreviver às intempéries e ao assédio dos "colegas de rua". Não existia meio termo para ela; se alguém a ba...