FÓRMULA PARA O DESASTRE

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Jéssica

Sabendo que Keller não abriria o bico enquanto eu não terminasse minha refeição, comi obedientemente.  Enquanto fazia isso, minha mente divagava sobre como vim parar aqui da última vez. Fazia dois meses que eu havia fugido de Alfa-Centauri e cometi o grave erro de pegar uma rota perigosa para retornar à Terra, então fui interceptada por aqueles caras de sapo nojentos, que tomaram minha nave e me enfiaram numa cela.

Foi aí que conheci a Lya e seu filhote. Naquele momento, nunca imaginei que seria trazida para um dos últimos lugares que gostaria de estar e pior ainda, teria que me revelar, quando tudo que eu queria era escapar. Mas não tinha como passar despercebida com a confusão que fizemos aqui e quando acreditei que minha mais nova amiga tinha sido morta pela "diaba ruiva”, só podia vingá-la. Zephyrus não pensou duas vezes em jogá-la no tanque quando ordenei e olhe que a vadia era sua preferida; só de imaginar os motivos dessa preferência, sinto vontade de bater nele. Enfim, depois fiquei aliviada por descobrir que Lya havia sobrevivido. Desde então, algumas semanas haviam se passado.

—Pronto! — afastei o prato da sobremesa, encarando o alien na minha frente — Satisfeito, senhor “carcereiro”?! — dei um sorriso atravessado, embora estivesse grata por ele praticamente me obrigar a comer. Só de encher a barriga minha enxaqueca já melhorou.

— Agora podemos conversar…— disse se ajeitando na poltrona à minha frente, aparentemente desconfortável por eu tê-lo “obrigado” a se sentar. Mas não dava para comer com alguém me olhando de cima, como um cão de guarda. E tenho educação, mesmo que ele não entenda a diferença entre seu antigo mestre e eu.

Keller narrou o relatório obtido durante sua investigação e parecia surpreso com suas próprias descobertas. Algo que já sabia era que o soberano havia tido contato com a humana décadas atrás, aqui mesmo na estação, porém diferente do que o ancião de Amanphire afirmou, ela não era sua companheira, ao menos não permaneceu como, porque ele mantém apenas uma ao seu lado na atualidade.  Estranhamente não se tem registro do fim que levou essa mulher: se morreu, se permanece no planeta ou se foi mandada para a Terra.

— O que a mestra tem em mente?! — Até agora ele fez tudo sem saber como eu procederia e o problema é que não sei por onde começar.

Devo ir atrás dessa mulher e trazê-la pelos cabelos?! Mas se ela tiver um companheiro, será que ele a venderia para mim?! Céus, o que estou pensando mesmo?! Que horror!

— Keller, é possível recuperar a essência que Heimdall compartilhou com ela?! É metade da vida dele, não acha que ele ficaria grato em ter de volta para dividir com sua futura companheira?! — Questiono, presumindo que essa mulher já tenha constituído uma família depois de tanto tempo.

— Teríamos que trazê-la diante do rei para que pegasse de volta o que lhe pertence. — Foi direto ao ponto.

— Hum! — pondero tentando pôr minhas possibilidades em ordem — Preciso de alguns mercenários de sua confiança, iremos atrás dessa mulher! — Falo após um breve instante encarando-o e vejo aprovação naquele olhar azul chumbo. — Mas antes, me ponha em contato com Heimdall.

— Seria prudente?! — Ah, que fofo! Esse foi um jeito interessante de perguntar se perdi o juízo,  porque o tom aparentemente calmo nem condiz com o que seu olhar me revela.

— Confie em mim!

Eu poderia apenas dizer ao rei que a humana que ele almeja não se tornou companheira do Supremo ancião, mas que garantias tenho de que ele ficará grato o suficiente apenas por essa informação?! Preciso verificar pessoalmente, mas antes, devo ter alguma garantia que Zephyrus não morra torturado até lá. Eu também sabia que Keller estava relutante em fazer o que pedi, ainda assim abriu o canal de comunicação e só pela demora da resposta de Alfa-Centauri, já soube que deveria me preparar para o que estava por vir.

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