A filha do meu padrasto- Wenclair

Vamos para casa!

  Wednesday

Agora que tínhamos o endereço, esperamos os policiais saírem para podermos dar a volta por outra rota. Eu e Tyler conhecíamos essa cidade como a palma de nossas mãos, então logo chegamos ao bairro e estacionamos o carro um pouco afastado. Como era noite e havia pouco movimento, apenas observamos outros carros chegarem, os carros com os policiais disfarçados.

— Acho melhor irmos pelos fundos! — digo, e Tyler concorda. Entramos em um beco que dava acesso à parte de trás de um conjunto de casas com cercas quebradas e grama alta.

— Este lugar não vê um jardineiro há tempos! — Tyler reclama, me seguindo. Ao nos aproximarmos da casa de tom azul desbotado que havia virado quase marrom, ergo os olhos pela janela da cozinha discretamente.

Ao olhar lá dentro, vejo Wendy sentada em um cantinho, encolhida, e meu coração aperta. Toco a janela suavemente.

— Calma, filhinha! — falo tão baixo que só eu escuto.

— Eles estão lá dentro? — Tyler pergunta, tentando ver por cima do meu ombro. O puxo para longe da janela quando pessoas entram na cozinha.

— Essa garota só chora! — uma voz feminina diz, mexendo em algo que suponho ser uma geladeira.

Olho para Tyler e depois me aproximo novamente da janela. Nesse segundo, os olhos de Wendy cruzam com os meus e imediatamente ponho o dedo indicador sobre os lábios, pedindo silêncio, e ela parece entender. A campainha da frente toca e logo ouço uma voz masculina preencher a cozinha.

— Leva a pirralha para os fundos! — ele diz, e eu e Tyler recuamos para que a mulher não nos veja quando sair. Me escondo atrás de um pilhas de pneus no jardim.

Tyler fica com as costas ao lado da porta, pronto para surpreendê-la. O homem sai da cozinha indo abrir a porta da sala. Assim que a mulher ruiva sai, o barulho alto de um grito irrompe da sala.

— POLÍCIA!!!

Tyler tapa a boca da mulher e a segura. Vejo Wendy correr para longe dela, saio do esconderijo e vou em direção à minha filha, pegando-a nos braços. Ela logo abraça meu pescoço forte e eu a ela.

— Calma, mamãe está aqui, Wendy! — digo sussurrando, para apenas ela escutar, enquanto acaricio seus cabelos para deixá-la mais tranquila.

Um policial corre pela porta da cozinha, deparando-se conosco e com a ruiva que ainda se debatia nos braços de Tyler.

— Addams! — Henrique diz, passando a mão nos cabelos.

— Não sou muito boa em receber ordens, sargento! — digo, e Tyler ri de lado enquanto Henrique algema a mulher.

— Pegamos o outro cara. Vamos levá-los para a delegacia. Precisamos que um de vocês venha para finalizarmos alguns trâmites.

— Eu vou! — Tyler diz, limpando a roupa.

— Leva a Wendy para a Enid, eu chego lá mais tarde! — ele diz, e agradeço imensamente por isso.

— Pode me dar uma carona, policial? — Tyler pergunta, jogando as chaves do carro para mim.

— Claro! — Entro na casa, saindo do outro lado da rua onde o carro de Tyler estava. Evito olhar muito em volta, imaginando onde Wendy teve que ficar.

Ao sair, dou de cara com o imbecil do pai de Wendy, se é que posso chamá-lo de pai, sendo posto no camburão. Caminho reto pela calçada até chegarmos ao carro. Ponho Wendy no banco de trás e coloco o cinto nela.

— Vamos para casa! — digo a ela, que assente.

Logo estou estacionando em frente à minha casa, que estava cheia de carros de todos os meus amigos e o de Esther. Pego Wendy e fecho a porta, travando-a, e dou o primeiro passo até a entrada de casa.

— Pronta para ver a mamãe? — pergunto, e Wendy sorri pela primeira vez desde que a tirei daquele lugar. Abro a porta e olho em volta. Todos olham em minha direção.

— Wendy! — Enid pula do sofá ao lado da mãe e corre em nossa direção, nos abraçando. Não consigo segurar as lágrimas que contive a maior parte do dia, exceto por aquele breve momento no escritório do meu pai. Alívio, era o que elas significavam.

— Obrigada, Wednesday! — ela diz, beijando minha bochecha, ainda no abraço entre nós três.

— Mamãe! — Wendy estende os braços e Enid a pega no colo, enchendo-a de beijos e abraços. Observo e um sorriso se forma em meu rosto, assim como no de todos na sala.

Percebo a presença de meu pai, antes sentado e agora em pé ao lado de Esther, nos olhando.

— Wednesday! — ele diz, dando um passo em minha direção.

— Gomez! — digo, ainda de braços cruzados. Enid surge com Wendy ao meu lado.

— Wednesday, é seu pai! — ela diz, olhando para mim, e eu suspiro.

— Perdão! — ele diz, erguendo a mão em minha direção. — Perdão por ter afastado vocês, perdão por ter sido um cabeça-dura e perdão por ter me afastado de você! — ele diz, ainda com a mão estendida.

Eu não podia guardar ressentimento pelo resto da vida; isso não me faria bem e não faria bem à minha família. Aperto a mão dele e o puxo para um abraço.

— Pai! — digo, o abraçando com o rosto apoiado em seu ombro.

— Filha! — ele diz, retribuindo, e sinto naquele momento que tudo estava bem entre nós dois.

Beijos da Torry 😘