• Deixando para trás •

543 64 10
                                    

Myoui Mina

As imagens mostravam a ponte do centro, o carro destroçado em um pilar, trânsito e várias pessoas ao redor, além dos jornalistas, paramédicos e uma ambulância.

Então... Era isso, mamãe sofreu um acidente de carro na chuva... E a última coisa que eu fiz foi pedir para que ela trouxesse bolinhos...

Eu soluçava no chão enquanto tentava processar o que aconteceu. Ela não podia esperar que a maldita chuva passasse? Não, ela não tinha culpa, só aconteceu.

O velório aconteceu no dia seguinte. Todos, ou pelo menos a maioria de nossos familiares vieram, incluindo meus tios, os Hirai. Momo, minha prima, me abraçava e dizia “meus pêsames” com lágrimas de crocodilo.

Ela nunca se importou com ninguém além dela mesma.

Jihyo, sua irmã mais nova, era totalmente o oposto — ela era empática e doce com as pessoas, nós nos dávamos bem.

Eu poderia continuar no Japão, morando com a vovó, mas mamãe confiou minha guarda a minha tia caso qualquer coisa acontecesse com ela ou com o papai, e bom, agora eu sou obrigada a me mudar para Coreia do Sul, eu sou obrigada a começar uma vida nova, sem meus pais, sem meus amigos, sem ninguém em que eu confie.

Tá, eu confiava nos meus tios, eles eram legais, até deixaram eu levar o Ray, mas conviver com Momo seria um grande incômodo — ela era insuportável, egoísta, mimada, falsa e vários outros adjetivos nos quais eu não consigo pensar agora. Quem tornava tudo aquilo melhor era Hyo.

Dando uma leve explicada na situação dos meus tios e das minhas primas, Coreia e por que eu vou pra lá: pouco antes de Momo completar dois anos, minha tia se divorciou do pai de Momo e se casou com um coreano (no caso, meu tio), então eles se mudaram para Coreia, onde Hyo nasceu pouco antes de mim.

A chuva havia passado, mas o céu ainda era cinza e repleto de nuvens — eu tinha medo de começar a chover em breve, o que fazia com que eu quisesse que aquilo acabasse logo... Eu só queria a minha casa, abraçar a mamãe e sentir seu perfume doce, ouvir ela perguntando se eu já tinha arrumado um namorado na escola, eu só queria poder ter isso de novo... Era pedir demais?

Eu teria um trauma eterno de chuvas fortes.

Eu encarava o caixão aberto enquanto percebia que aquela seria a última vez em que eu a veria... A última.

— Mina, nós sentimos muito pelo o que aconteceu — minha tia colocava a mão em meu ombro — sua mãe era uma mulher incrível.

— Obrigada, tia — eu respondi com uma entonação de voz baixa.

— Mas você será muito bem recebida em casa, não é mesmo, meninas? — meu tio se meteu na conversa, envolvendo as duas garotas em um abraço forçado.

Momo concordou forçando um sorriso, já Jihyo assentiu com empolgação — ela realmente ia gostar da minha presença lá.

Hyo veio conversar comigo, quando percebi que minha tia sussurrava alguma coisa para Momo, com uma expressão irritada. Ela tinha noção de que Momo odiaria que eu fosse morar com eles, todos tinham, inclusive Hyo — aliás, era sobre isso que ela queria conversar.

— Você não está nem um pouco afim de morar com a gente, não é? — ela segurou minhas mãos.

— Que? Não! Eu só...

— Momo? — ela riu — Te entendo, nem eu suporto ela.

Nós rimos juntas.

— Mas olha, você pode ficar no meu quarto, ok? — ela sorriu — Vamos ser tipo irmãs, e não precisamos lidar com a chatice dela, eu prometo tornar tudo isso mais confortável pra você no meu possível.

Eu sorri e a abracei em lágrimas — o mundo precisa de mais pessoas como Park Jihyo.

Q.D.T

Pouco antes do velório acabar, fizemos nossas orações, eu chorei um pouco e perguntei para minha tia se eu não podia passar na minha agora “antiga” casa para... Bom, eu só queria passar lá mesmo.

Me despedi de meus avós, que ficariam no lugar que um dia eu chamei de “lar” e aceitei que aquela seria minha vida dali em diante.

Ray estava em sua caixinha transportadora — pelo menos ele iria comigo. Hyo ficou me tranquilizando a viagem inteira, dizendo que eu podia chorar a qualquer momento, e que se eu precisasse de um abraço, ela estaria lá.

Era notável que Momo revirava os olhos, mas nós duas rimos em todas as vezes em que ela fez isso — era realmente engraçado, mas, de certo modo, triste, eu gostaria de ter uma boa relação com as minhas duas primas.

Francamente, qual é o propósito de insistir em continuar aqui?

Seria um recomeço... Um recomeço bom? Eu não sabia, eu só queria a minha mãe, apenas, mas não, eu tinha que deixar tudo aquilo para trás, já passou, não é mesmo?

Eu só queria me jogar da janela daquele maldito avião.

𝑳ittle 𝑺unshineᵐᶦᶜʰᵃᵉⁿᵍ (hiatus) Onde histórias criam vida. Descubra agora