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Meu corpo continuou não respondendo aos meus pensamentos naquele momento. Na verdade, nem controlo sobre o que pensar tinha. Como ela conseguiu aquela gravação? Como ela fez para a conseguir? E o ponto mais alto, PORQUÊ ISTO ESTÁ ACONTECENDO COMIGO?
JUSTAMENTO COMIGO?
Estava me preparando para balbuciar algo quando a porta da minha casa se abriu instantaneamente atrás de mim o que estremeceu o meu corpo na hora. Era ninguém menos que a minha mãe, um péssimo momento para a última pessoa que poderia aparecer ali, aparecer. Ivone abaixou o aparelho que segurava rapidamente
Tratei de me recompor e enxugar qualquer vestígio de lágrima que ameaçava sair em meu
rosto
— Salomé? Porque não entrou filha? Está frio aqui
— Já estava quase entrando mamã, não se preocupe - dei meia-volta buscando chegar a varanda de casa
— Essa é sua nova amiga? Porque nunca a vi aqui antes? Minha mãe interrompe meus passos chegando mais perto dela
— Boa noite, tia como vai? Eu sou sim amiga da Salomé - lanço o olhar mais mortífero que tinha para sua cara sorridente cumprimentando a minha mãe - — Nós estávamos conversando e eu aproveitei para dar uns conselhos a ela. Não é, fofa?
Permaneci quieta e ela continuou — é que eu acho que conselho nunca é de mais, não concorda tia?
— É o que eu sempre falo, conselho bom nunca é de mais - retrucou minha mãe com um sorriso meio que forçado.
Voltei pegando a nela pelo braço a conduzindo de volta
— Tenha cuidado ao voltar para casa, querida - insistiu ainda ela
— Não se preocupe tia. Eu sei cuidar de mim e das minhas coisas - levantou o olhar gélido me encarando — Boa noite, Salomé. Bons sonhos...
Não me dei o trabalho de responder e voltei a conduzir a minha mãe para dentro
— Que menina estranha, essa sua amiga... - comenta ao trancar a porta
— Ela não é minha amiga, mamãe
— Não? Ou o sono está me deixando surda ou acho que ouvi ela dizer isso
— Vá dormir mamã, já está tarde. Amanhã conversaremos melhor
— E você? Vai ficar aqui?
— Vou só esperar a Aicha chegar e iremos dormir

Ela foi sem questionar mais nada o que me deixou muito aliviada. Minha voz já estava quase embargada e foi só ela sair em menos de segundos para eu desabar no sofá
A maldade escancarada naquele ser não me faz ter dúvidas de que seria mesmo capaz de fazer o que ameaçou fazer. Meu Deus, isso só pode ser um pesadelo
O pior é que me sinto extremamente impotente para fazer qualquer coisa
Me recusei a perder mais uma lágrima sequer com essa infeliz, mas nem isso consegui cumprir quando a Aicha chegou e me perguntou o que tinha acontecido
Parece que essa questão faz com que uma torneira seja liberada em nós disparadamente. Só sabia chorar sem formular ou concluir uma palavra sequer. Depois de um tempo e um banho demorado, consegui pôr em palavras o que tinha sucedido
— Mas que ser mais suja e baixa - levantou bruscamente depois de a ter contado da ameaça - Salomé você não pode ceder a essa baixaria, amanhã mesmo o Leonardo saberá disso
— Não Aicha
— Como não? Salomé, isso é muito grave
— Justamente por isso que não quero correr riscos. Aquela menina não tem nada a perder. Ela pode até não ter o Leo de volta, mas pode entregar aquele maldito vídeo para a minha mãe num estalar de dedos
— Eu não acredito nisso - ela ficou boquiaberta — e com isso queres dizer que vais aceitar o que ela está mandando e se afastar do Leonardo?
Meu silêncio a fez olhar para o teto desacreditada
— Salomé, para de ser burra, pelo amor de Deus - segurou o meu rosto entre suas mãos voltando a se sentar -- Você não é essa pessoa
— Por favor, Aicha eu não sei se tenho escolhas. Não posso me dar ao luxo de duvidar do que ela é capaz, depois de tudo que a vimos fazer
— Sempre há escolhas, sempre. Pense nisso e não em colocar no lixo meses de uma troca especial e promissor - levantou indo para a casa de banho me deixando sozinha no quarto ainda pior do que já estava. Pior porque reconheci que ela tem uma certa razão, mas o medo que sentia estava maior que tudo naquele momento
Tentei me recompor várias vezes, pensar em qualquer coisa que poderia me tirar daquele pesadelo, mas nada vinha na minha cabeça a não ser o terror que sentia daquela gravação cair em mãos erradas.
Não queria mais ter chorado naquela noite. O dia tinha sido perfeito demais para acabar daquela forma, mas não tinha jeito
Vesti meu pijama e rezei para conseguir dormir o quanto antes, só desejava apagar e ficar com a esperança de que na manhã seguinte tudo iria desaparecer como se nada daquilo sequer tinha acontecido. O pensamento de poder me afastar dele ainda que seja por um tempo, fazia meu corpo inteiro estremecer e meu peito mais apertado do que alguma vez fora

BadjudessaOnde histórias criam vida. Descubra agora