Capítulo 22

67 7 1
                                    


Aperto a ponta da faca na pele para que ela sinta a pressão. Seus olhos azuis se concentram em mim com nova intensidade.

— Por quê? — pergunta. Apenas isso.

Raramente tive uma sensação tão forte de triunfo. Tenho que me concentrar para impedir que suba à cabeça, mais forte do que vinho.

— Porque sua sorte é péssima e a minha é ótima. Faça o que eu mandar e vou adiar o prazer de machucar vossa alteza.

— Está planejando derramar mais sangue real hoje? — Ela faz uma expressão de desprezo e se mexe numa tentativa de se desvencilhar da faca. Acompanho o movimento, mantendo a lâmina em seu pescoço. Ela continua falando. — Está se sentindo excluída da matança?

— Você está bêbada — comento.

— Ah, estou mesmo. — Ela apoia a cabeça na pedra e fecha os olhos. A luz das tochas próximas deixa seus cabelos ruivos com um aspecto de fogo. — Mas você acredita mesmo que vou deixar que me leve para a frente do general, como se eu fosse um inferior...

Aperto a faca com mais força. Ela inspira e contém o fim da frase.

— Claro — diz ela, um momento depois, com uma gargalhada cheia de autoironia. — Eu estava desmaiada enquanto minha família estava sendo assassinada. É difícil ficar abaixo disso.

— Chega de falar — ordeno, afastando qualquer sentimento de pena. Ela nunca teve qualquer compaixão por mim. — Ande.

— Senão? — pergunta ela, ainda sem abrir os olhos. — Você não vai me furar.

— Qual foi a última vez que você viu seu querido amigo Valerian? —sussurro. — Não hoje, apesar do insulto implicado pela ausência dele. Você já seperguntou sobre isso? 

Ela abre os olhos. Parece que levou um tapa na cara.

— Sim, já me perguntei. Onde ele está?

— Apodrecendo perto do estábulo de Madoc. Eu o matei e enterrei. Então, acredite quando eu ameaçar você. Por mais improvável que pareça, você é a pessoa mais importante neste reino. Quem estiver com você terá poder. E eu quero poder.

— Acho que você estava certa, no fim das contas. — Sadie observa meu rosto, mas sua expressão não revela nada. — Acho que eu não sabia do que você era capaz.

Tento não deixar que ela perceba quanto sua calma me abala. Faz com que eu sinta que a faca em minha mão, que deveria me conferir autoridade, não é o suficiente. Faz com que eu queira feri-la só para convencer a mim mesma de que ela pode ser amedrontada de algum modo. Ela acabou de perder a família toda; eu não devia estar pensando assim.

Mas não consigo deixar de pensar que Sadie vai explorar qualquer sentimento de pena da minha parte, qualquer fraqueza.

— Hora de andar — repito a ordem rispidamente. — Vá até a primeira porta e a abra. Depois que entrarmos, vamos até o armário. Tem uma passagem por lá.

— Sim, certo — diz ela, irritada, tentando afastar a faca. 

Eu a seguro com firmeza, de forma que a lâmina corte a pele. Ela solta um palavrão e coloca um dedo sujo de sangue na boca.

— Para que isso?

— Diversão — digo, e afasto a faca de seu pescoço, lenta e deliberadamente. Dou um sorriso bem sutil, mas, tirando isso, mantenho a expressão dura como uma máscara, daquele jeito que sei bem fazer, cruel e fria como o rosto recorrente em meus pesadelos. Só quando faço isso é que percebo a quem estou imitando, qual rosto me assustou a ponto de eu querê-lo para mim.

The Cruel Princess - Sadie Sink and YouOnde histórias criam vida. Descubra agora