Capítulo 18

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Acordo grogue. Chorei até pegar no sono, e agora meus olhos estão inchados evermelhos, a cabeça latejando. A noite anterior toda parece um pesadelo febril ehorrível. Não parece possível que eu tenha entrado escondida na casa de Caleb e sequestrado uma de suas criadas. Parece ainda menos provável que ela tenhapreferido se afogar a conviver com as lembranças do Reino das Fadas. Enquantobebo o chá de funcho e visto um gibão, Nex aparece em meu quarto.

 — Perdão — diz ele, fazendo uma reverência breve. — S/n deve virimediatamente... 

Tatterfell o dispensa. 

— Ela não está pronta para ver ninguém no momento. Vou mandá-la descerquando estiver decente.

 — O príncipe Spencer a aguarda no andar de baixo, na sala do general Madoc.Ele mandou chamá-la não importando seu estado. Disse para carregá-la senecessário. — Nex parece arrependido de ter que dizer isso, mas está claroque nenhum de nós pode negar nada ao Príncipe da Coroa. 

Um medo gélido se espalha pelo meu estômago. Como não pensei que ele,dentre todas as pessoas, com seus espiões, não iria descobrir o que fiz? Limpo asmãos no gibão de veludo. Apesar da ordem, visto uma calça e botas antes dedescer. Ninguém me impede. Estou vulnerável o suficiente; vou manter adignidade que puder. 

O príncipe Spencer está perto da janela, na frente da mesa de Madoc. Está decostas para mim, e meu olhar automaticamente pousa na espada pendurada emseu cinto, visível sob a capa pesada de lã. Ele não se vira quando entro. 

— Eu errei — começo. Fico feliz por ele não sair da posição. É mais fácil falarsem precisar encará-lo. — E vou pagar da forma...

 Ele se vira, o rosto tomado de uma fúria que repentinamente me faz ver suasemelhança com Sadie. A mão dele atinge a mesa de Madoc com força,sacudindo tudo. 

— Eu não acolhi você a meu serviço e lhe dei uma grande dádiva? Nãoprometi um lugar em minha Corte? E ainda assim... e ainda assim você usa o quelhe ensinei para botar meus planos em perigo. 

Meu olhar se desvia para o chão. Ele tem o poder de fazer qualquer coisacomigo. Qualquer coisa. Nem Madoc poderia impedi-lo, e acho que nemtentaria. Eu não só desobedeci Spencer, mas declarei minha lealdade a uma coisacompletamente alheia a ele. Ajudei uma garota mortal. Agi feito uma mortal.

 Mordo o lábio para não implorar por perdão. Não posso me dar ao luxo defalar. 

— O ferimento do garoto foi menos grave do que poderia ter sido, mas com afaca certa, uma faca mais longa, o golpe teria sido fatal. Não pense que não seique sua intenção era golpeá-lo de maneira mais intensa.

 Levanto o rosto de repente, surpresa demais para esconder minha reação.Ficamos nos encarando por um bom tempo, desconfortáveis. Foco no tom cinzaprateado dos olhos do príncipe, reparando em como sua testa se enrugaformando sulcos profundos de desgosto. Reparo nisso tudo para evitar pensarem como quase revelei um crime ainda maior do que o descoberto por ele.

 — Bem? — pergunta Spencer. — Você não tinha nenhum plano para o momentoem que fosse descoberta? 

— Ele tentou me encantar para que eu saltasse da torre — digo. 

— E agora ele sabe que você não pode ser encantada. Isso só piora as coisas.— O príncipe Spencer contorna a mesa, vindo em minha direção. — Você é minhacriatura, S/n Duarte. Só vai atacar quando eu mandar atacar. Fora isso, seaquiete. Entendeu? 

— Não — retruco automaticamente. O que ele está pedindo é ridículo. — Eudeveria ter deixado que ele me machucasse? 

Se o príncipe soubesse de todas as coisas que andei fazendo, estaria com maisraiva do que já está. 

The Cruel Princess - Sadie Sink and YouOnde histórias criam vida. Descubra agora