Capítulo 12

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Vou dormir cedo e, quando acordo, está totalmente escuro. Minha cabeça estádoendo, talvez por ter dormido demais, e meu corpo está dolorido.Provavelmente adormeci com todos os músculos contraídos. 

As aulas do dia já começaram. Não importa. Eu não vou. 

Tatterfell deixou uma bandeja com café temperado com canela, cravo e umpouco de pimenta. Sirvo uma xícara. Está morno, o que significa que já está alihá um tempo. Tem torrada também, que fica macia quando a mergulho no café. 

Depois de comer, lavo o rosto, ainda grudento da polpa de maçã, e limpo orestante do corpo. Penteio o cabelo rapidamente e prendo em um coquesustentado por um palito de galho.

  Eu me recuso a pensar no que aconteceu no dia anterior. Eu me recuso apensar em qualquer coisa além de hoje e na minha missão para o príncipe Spencer.

 Vá à Mansão Hollow. Descubra um segredo do qual o rei não vai gostar.Descubra a traição.

 Então Spancer quer que eu ajude a garantir que Caleb não será o escolhido paraocupar o lugar do Grande Rei. Casey pode escolher qualquer um dos filhos parao trono, mas prefere os três mais velhos: Caleb, Spancer e Jacey — e Spencer acimade todos. Eu me pergunto se espiões ajudam a ordem a permanecer assim.

 Se eu me sair bem na missão, Spencer me dará poder assim que subir ao trono. E,depois de ontem, eu quero muito isso. Quero com o mesmo fervor que desejeisentir o gosto da fruta de fada. 

Coloco o vestido de serva sem nenhuma das minhas langeries de shopping porbaixo, a fim de garantir o máximo de autenticidade possível. Calço um par desapatinhos de couro velhos, tirados do fundo do meu armário. Tem um buracono dedão que tentei consertar quase um ano antes, mas sou péssima em costura eacabei só deixando o sapato feio. Mas servem, e todos os meus outros sapatos sãobonitos demais. 

Nós não temos servos humanos na casa de Madoc, mas já os vi em outraspartes do Reino das Fadas. Há parteiras humanas para fazer o parto de consorteshumanas. Há artesãos humanos amaldiçoados ou abençoados com habilidadescativantes. Amas de leite humanas para amamentar bebês feéricos doentes.Pequenos filhotes humanos criados no Reino das Fadas, mas que não forameducados com os nobres, como nós. Alegres caçadores de magia que não seimportam de fazer um pouco de trabalho tedioso em troca de algum desejorealizado. Quando nossos caminhos se cruzam, eu tento falar com eles. Às vezeseles querem, às vezes não. A maioria dos que não são artesãos foram enfeitiçadospelo menos um tiquinho para se esquecerem de algumas coisas. Eles acham queestão em um hospital ou na casa de uma pessoa rica. E quando são devolvidos —e Madoc me garantiu que são —, recebem um bom pagamento e até ganhampresentes, tais como boa sorte ou cabelos brilhantes ou um talento paraadivinhar os números certos da loteria.

 Mas sei que também há humanos que fazem barganhas ruins ou que ofendemo feérico errado, e por isso não são tratados tão bem. Trina e eu já ficamossabendo de algumas coisas, mesmo que tenham tentado esconder de nós;histórias de humanos dormindo em pisos de pedra e comendo restos,acreditando estar descansando em camas de penas e jantando iguarias. Humanosdopados loucamente de fruta feérica. Os servos de Balekin levam a fama de serassim, feios e maltratados.

 Estremeço só de pensar. Mas consigo ver por que um mortal seria um espiãoútil, além de conseguirem mentir. Um mortal pode passar em lugares baixos ealtos sem ser muito notado. Segurando uma harpa, somos bardos. Em lares,somos servos. De vestidos, somos esposas com filhos goblins chorões. 

Acho que há vantagens em estar abaixo da posição de ser notada. 

Continuo a me arrumar, enfiando na bolsa de couro uma muda de roupa paratroca e uma faca. Jogo uma capa grossa de veludo sobre o vestido e desço aescadaria. O café embrulha meu estômago. Estou quase na porta quando vejoVivi sentada no assento da janela coberto de tapeçaria. 

The Cruel Princess - Sadie Sink and YouOnde histórias criam vida. Descubra agora