Capítulo 15

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A costureira chega cedo na tarde seguinte, uma fada de dedos longos chamadaBrambleweft. Seus pés são virados para trás, o que deixa seu gingado um tantoesquisito. Os olhos são como os de um bode, marrons e com uma linhahorizontal preta bem no meio. Ela está usando um de seus trabalhos, um vestidocom fileiras de espinhos bordadas, criando uma estampa listrada ao longo docomprimento.

 Ela trouxe vários rolos de tecido. Alguns são dourados e rígidos, um delesmuda de cor como as asas iridescentes de um besouro. Além disso, ela nos diz,tem uma seda de aranha tão delicada que passaria pelo buraco de uma agulhatrês vezes, e ainda assim continuaria forte o suficiente para precisar ser cortadocom tesouras de prata enfeitiçadas para nunca perderem o fio. O tecido roxoentremeado de dourado e prateado é tão luminoso que parece o luar seespalhando sobre as almofadas. 

Todos os tecidos estão abertos no sofá da sala de Oriana para avaliarmos. AtéVivi é atraída a passar os dedos pelo tecido, um sorriso distante no rosto. Nãotem nada assim no mundo mortal, e ela sabe disso. 

A criada atual de Oriana, uma criatura peluda e envelhecida chamadaTodfloss, traz chá e bolinhos, carne e geleia, tudo empilhado em uma bandejade prata enorme. Eu me sirvo de chá e bebo sem creme, torcendo para sossegarmeu estômago. O terror dos últimos dias tem me assombrado horrores, meenchendo de calafrios súbitos. A lembrança da fruta feérica fica surgindoespontaneamente na minha língua, junto com os lábios rachados dos servos nopalácio de Caleb e com o som do couro atingindo as costas expostas da princesa Sadie. 

E também com meu próprio nome, escrito repetidas vezes. Eu achava quesabia quanto Sadie me odiava, mas ao olhar para aquele papel, eu me dei contade que não fazia ideia. E ela me odiaria ainda mais se soubesse que a vi dejoelhos, sendo surrada por um servo humano. Uma mortal, para acrescentaruma dose a mais de humilhação, uma dose a mais de raiva. 

— S/n? — chama Oriana, e percebo que eu estava olhando pela janela, para aluz desbotada do entardecer. 

— Sim? — Abro um sorriso largo e falso.

 Trina e Vivienne começam a rir.

 — Em quem você está pensando com essa expressão sonhadora? — perguntaOriana, o que faz Vivi rir de novo. Trina não ri porque deve achar que sou umaidiota.

 Balanço a cabeça, torcendo para não ter ficado com o rosto vermelho. 

— Não, não era nada disso. Eu só... não sei. Não importa. De que estávamosfalando?

 — A costureira quer medir você primeiro — diz Oriana. — Já que é a maisnova.

 Olho para Brambleweft, que está segurando uma fita. Subo na caixa que elacolocou no chão e estico os braços. Serei uma boa filha hoje. Vou escolher umvestido bonito. Vou dançar na coroação do príncipe Spencer até meus péssangrarem. 

— Não faça cara feia — repreende a costureira. Antes que eu possa gaguejarum pedido de desculpas, ela continua, a voz baixa. — Mandaram que eu fizesseeste vestido com bolsos capazes de esconder armas e venenos e outras coisas quevocê talvez precise. Vamos cuidar para que isso seja feito sem deixar de exibir oseu melhor. 

Quase caio da caixa de tão surpresa que fico. 

— Que maravilha — sussurro, sabendo que não devo agradecer. Feéricos nãoacreditam em gratidão em poucas palavras. Acreditam em dívidas e barganhas, ea pessoa com quem tenho a maior dívida não está presente. É o príncipe Spencer que espera ser recompensado. 

Ela sorri com os alfinetes na boca, e eu sorrio de volta. Vou recompensar Spencer, embora minha dívida pareça grande demais agora. Farei com que ele sintaorgulho de mim. E farei com que todas as outras pessoas se arrependammuitíssimo.

The Cruel Princess - Sadie Sink and YouOnde histórias criam vida. Descubra agora